No último sábado (15), o Brasil 247 publicou o artigo “Não há motivo para pessimismo: Lula continua favorito para 2026”, assinado por Bepe Damasco. O texto é um monumento ao abandono completo dos princípios da esquerda.
Logo de início, o autor tenta justificar o recuo de Lula nas pesquisas por um único fator: a segurança pública. Ele escreve que, após a frase de Lula de que “o traficante também é vítima do usuário” e a chacina no Rio, “era previsível uma queda acentuada”. Mas, diz ele, como isso não ocorreu, estaria “tudo bem”.
Essa análise é absurda. Não se mede aprovação presidencial apenas pela segurança — ainda mais quando o próprio articulista se recusa a apresentar qualquer dado, ocultando percentuais, cenários, tendências. Despreza pesquisas quando não convém, mas as usa para justificar ainda mais repressão.
Damasco aceita como premissa que a repressão é popular. Escreve que a chacina foi apoiada por “boa parte da população sedenta de sangue e vingança”, e por isso seria natural que Lula perdesse votos. Mas o que os fatos mostram? A chacina foi um crime premeditado, câmeras desligadas, mortos sem ordem de prisão, dezenas sem qualquer passagem. Nada disso gera apoio real — gera pavor. A população não gosta da polícia, ela tem medo da polícia. Pesquisas que tentam afirmar o contrário são mera propaganda.
O jornalista então exalta Lula como um “estadista” que tomou posição “contramajoritária”, mas ao mesmo tempo exige que Lula abrace exatamente a política da direita e extrema-direita: mais PEC da Segurança, mais PL Antifacção, mais poder para PF, PM, GCM, mais integração policial, mais penas, mais prisões, mais controle social. Ele pergunta ironicamente: “Alguém acha que Lula vai assistir sem reação…?” — e a “reação” que ele considera correta é a repressão.
Ou seja: o autor pressiona Lula a aplicar o programa de Cláudio Castro e Tarcísio de Freitas. Chama isso de “coragem” e “democracia”, quando na verdade se trata da velha política burguesa de repressão como foi na ditadura militar.
A PEC da Segurança e o PL Antifacção — que Damasco elogia — são descritos até pela própria direita como ferramentas de aumentar penas, criar bancos de dados repressivos, permitir infiltração policial, vigilância, controle cibernético e enquadramento de movimentos sociais como “facções”. Trata-se de política exigida pelo imperialismo, alinhada à doutrina de “narcoterrorismo” de Trump.
O articulista fala de “antipetismo” para justificar a necessidade de agradar a direita. Mas ao mesmo tempo admite que Lula tem “metade do país”. Como pode haver um “antipetismo irresistível” se o PT é metade do eleitorado? A verdade é simples: a população rejeita a repressão — e quando vota por ela, vota na direita, não na esquerda que tenta imitá-la.
A conclusão é outra, completamente oposta à do jornalista: a política de segurança correta não é aprofundar o aparato repressivo, mas acabar com ele. Polícia não combate crime; polícia é o instrumento central da repressão contra trabalhadores, greves, sindicatos, ocupações, movimentos de moradia e de terra. A violência não nasce do “tráfico”, mas da miséria, produzida por políticas como o teto de gastos, BC “independente” e o pagamento trilionário da dívida — política que o governo mantém e que destrói as condições de vida do povo.
Não é com mais polícia que se combate a violência — é com emprego, moradia, saneamento, educação, fim da miséria e fim do monopólio estatal da força. A saída é o povo organizar sua própria autodefesa, sua segurança comunitária, seus comitês de bairro: uma segurança popular, não policial.
Em vez de repetir o programa da direita, o que a esquerda deve defender é o desmonte do aparato repressivo, o fim das PMs, da PF política e da integração policial. Repressão não diminui violência — apenas prepara a ditadura aberta que já se anuncia.





