O artigo intitulado Cirurgia de Bolsonaro precisa ser um sucesso: a cadeia apenas começou, assinado por Aquiles Lins e publicado pelo Brasil 247, é mais um exemplo de como a esquerda pequeno-burguesa se tornou uma entusiasta da política repressiva do Estado. O autor defende a tese de que o povo brasileiro deve torcer pela saúde de Jair Bolsonaro (PL) para que ele possa “pagar em vida” em uma cela da Polícia Federal, transformando o debate político em um espetáculo de sadismo individual. O que se esconde por trás dessa política já não é mais a defesa de qualquer “democracia”, mas a total capitulação dessa esquerda carcerária diante do aparato de força da burguesia, substituindo a luta de classes pela vingança penal.
Do ponto de vista filosófico, o texto revela um profundo retrocesso da esquerda pequeno-burguesa. A posição histórica da esquerda revolucionária em relação à repressão nunca foi a de buscar a punição moral ou o “sofrimento” do indivíduo em uma masmorra. A ideia de que a prisão “corrige” ou “faz pagar” é uma concepção bárbara que, em última instância, alimenta a mesma política do “bandido bom é bandido morto” que a extrema direita professa. Para a esquerda, a única repressão justificável é a repressão de classe: a ditadura do proletariado que, ao tomar o poder, utiliza a força para reprimir a resistência da burguesia e garantir a nova ordem social. Não é uma questão moral de “mudar a pessoa” por meio de uma pena cruel, mas um problema político de luta pelo poder.
A concepção do autor é também criminosa por sua função política: ela atua no sentido de paralisar o povo. Ao focar na figura física de um ex-presidente e na “eficiência” de sua pena, o articulista omite a sua política. Lins é um defensor da frente ampla, a política de submissão de um governo eleito pelo povo à burguesia e ao imperialismo. Para alguém que não está preocupado em organizar as massas para uma luta política contra o bolsonarismo, que está cada vez mais forte, mesmo durante um governo de esquerda, ensinar o povo a sentar na poltrona e esperar que juízes e carcereiros façam o trabalho político é bem conveniente. É a política reduzida ao entretenimento penal, onde a prisão de um indivíduo serve como anestésico para a manutenção de um sistema de exploração.
Bolsonaro não deve ser combatido porque é “mau”, mas porque atua em aliança com a burguesia. A fixação em sua saúde e em sua permanência no cárcere serve apenas para proteger os centenas de outros criminosos que não estão na cadeia, não estão respondendo processo, mas estão hoje sendo apresentados pela esquerda pequeno-burguesa como grandes heróis do povo brasileiro.
Enquanto a esquerda carcerária celebra 27 anos de prisão, o imperialismo continua sua marcha genocida, as privatizações avançam e o salário mínimo permanece uma miséria. Celebrar a política repressiva do Estado burguês como “justiça” é, no fim das contas, admitir que a esquerda desistiu de transformar o mundo e contentou-se em ser a espectadora sádica das engrenagens da própria opressão.




