O artigo As ruas falam. A situação se agudiza. Construir Força Militante, assinado por Israel Dutra, que o MES (PSOL) publicou no sítio da revista Movimento nesta quinta-feira (25), é um retrato bem-acabado de como setores da esquerda estão completamente integradas à política do imperialismo.
Antes de mais nada, é preciso concordar com a primeira frase do título “as ruas falam”, pois as ruas estiveram vazias, salvo honrosas exceções, a despeito da agudização da situação política. Esses grupos pequeno-burgueses, filo-imperialistas, não participavam de manifestações pela Palestina, até que o imperialismo, por razões escusas, sinalizou que sim.
São grupos que fizeram nada em favor da Venezuela, acossada pelos Estados Unidos. São os mesmos que sabotaram o 1º de Maio e que levaram meia dúzia de pessoas para o Grito dos Excluídos no 7 de Setembro. E foram apenas para pedir punição, cadeia, como todo direitista gosta de fazer.
Bastou, no entanto, a Rede Globo convocar uma manifestação para atacar o Congresso e fortalecer o STF, o principal agente do imperialismo na política brasileira, e essa gente obedeceu e saiu às ruas.
Sim, as ruas falam, elas estão mostrando quem foram os apoiadores de primeira hora do povo palestino, da Venezuela, do Irã, e quem são os oportunistas.
Capachismo
No olho do texto se festeja que “um novo clima político se estabelece, com a entrada em cena das ruas, vocalizando uma maioria social contra o golpismo e a impunidade”. Mas isso é falso, pois fortalecer o STF é apoiar o golpismo e a impunidade, pois esse tribunal é peça-chave no golpe que se iniciou em 2016, e seus ministros estão acima da lei.
Também não é verdade que a PEC das Prerrogativas vai tornar os parlamentares impuníveis, apenas quer fazer vigorar a imunidade parlamentar, que sempre esteve presente nas constituições Brasil. No entanto, assim como ocorreu com o AI-5 (que a Globo apoiou), vivemos um momento onde o Congresso vem sendo atacado e anulado pelo STF que, muito mais que uma corte, age como partido político.
O MES (Movimento Esquerda Socialista), mais uma vez, dado que apoiou a Lava-jato, serve como linha auxiliar do imperialismo.
Para quem não se lembra, deixamos aqui um exemplo, uma matéria publicada por essa corrente em 9 de maio de 2016, intitulada Organizar a resistência e avançar por uma esquerda combativa e anticapitalista, onde estão escritas, dentre outras barbaridades, coisas do tipo “Temos defendido que a Operação Lava Jato (OLJ) deve seguir. Nesse momento, ela não será apoiada por ninguém. (…) Por isso é tão importante apoiar a Lava Jato…”.
Mais do MES…mo
Em clima festivo, Israel Dutra inicia o texto dizendo que “o final de semana foi rico e intenso. Além da passagem para primavera, [que lindo!] um novo clima político se estabelece no país, com a entrada em cena das ruas, vocalizando uma maioria social contra o golpismo e a impunidade. Como diz a canção, mudaram as estações, alguma coisa aconteceu”.
Dutra pulou, espertamente, o início da música que diz “Mudaram as estações e nada mudou” – grifo nosso.
Adiante, Dutra diz que “no mesmo final de semana [o MES realizou] um vitorioso encontro nacional, contando com um sólido debate e participação diversa. A luta política no Brasil entrou numa nova fase, com a temperatura das ruas voltando. E olhando para o mundo, a revolta contra o genocidio palestino cresce e se radicaliza”.
A operação Dilúvio de Al-Aqsa vai completar em breve, no próximo 7 de outubro, dois anos. Sim, a revolta contra o genocídio cresce no mundo. E desde o início apenas o PCO, e alguns poucos militantes de outras correntes, vale citar Breno Altman, têm se empenhado em denunciar e convocar a esquerda para as ruas, mas a maioria, ou não comparece, ou tenta sabotar, inclusive tentando proibir que se mencione o Hamas e a resistência armada do povo palestino.
O que mudou nestes dois anos, é que o imperialismo está vendo a crise aumentar, o sionismo está à beira de uma derrota humilhante, e antes que a coisa chegue nesse ponto desastroso, começou a pressionar o governo Netaniahu para que este aceite um cessar-fogo.
Todo o imperialismo está se mexendo, países reconhecem o Estado Palestino – sem o Hamas, óbvio – e fazem todo um teatro após apoiar o genocídio com dinheiro e armas. É apenas por isso que os setores oportunistas da esquerda estão agora se mexendo, porque está “autorizado”.
É por isso que se escreve agora que “a Palestina é linha divisória do mundo. Parar o genocidio é a luta mais importante, apoiada por dezenas de milhões de pessoas no mundo. O estado genocida de Israel ataca com força a flotilha, com drones, ameaçando a integridade física dos participantes. A situação escala, ecoando na Europa- com Itália, Espanha e Irlanda anunciando que vão enviar navios para escoltarem a flotilha”.
Por que não fizeram nada antes? Poderiam ter saído às ruas desde o início, como fizeram na Europa e até Estados Unidos. A flotilha é importante, mas muito mais importante seria ter tomado as ruas, chamado a classe trabalhadora em apoio ao povo palestino, o que seria um avanço em termos de unidade política e conscientização.
Política imperialista
O texto diz que “o Encontro Nacional do MES teve seu ato de abertura na sexta-feira, sob a bandeira da luta antifascista e a defesa de um polo da esquerda independente e ecossocialista”. Essas bandeiras, na verdade, não são da esquerda, mas da direita, do imperialismo.
A “luta contra o fascismo”, como já foi visto nas últimas eleições presidenciais, tem servido como um guarda-chuva sob o qual se juntam os golpistas, os propagandistas do “mal menor”, pois qualquer coisa é, supostamente, melhor que o fascismo.
Ecossocialismo é outra fraude. Além do teor antimarxista, trata-se de uma frente, normalmente financiada por ONGs, que tenta impedir que países atrasados explorem suas riquezas minerais, ou façam obras que levem desenvolvimento a regiões como o Pantanal, a Amazônia. Fora do Brasil, essa gente pressiona, por exemplo, contra a construção do canal na Nicarágua, que tornaria obsoleto o Canal do Panamá, controlado pelo imperialismo.
Blindagem do STF
Dutra fala com orgulho da “luta contra a extrema direita que impulsiona a indignação e luta popular contra a PEC da Blindagem, que foi, literalmente enterrada no Senado”. E diz ainda que “a esquerda social contra atacou e polarizou com o bolsonarismo, apostando nas ruas como mecanismo central para inclinar a relação de forças para um programa e um projeto a favor da maioria. O setor da esquerda institucional que emprestou 12 votos para aprovação dessa PEC maldita sofreu rechaço nas ruas”.
Quem lê fica com a impressão de que a esquerda, da noite para o dia, conseguiu levar milhares de pessoas para as ruas. Primeiro, a própria coordenadora do evento, Paula Lavigne, tratou de vir a público para dizer que não foi um ato de esquerda, mas da “sociedade civil”, nome fantasia do PSDB e outros golpistas. Segundo, esse foi um ato convocado pela Rede Globo/imperialismo.
Na verdade, se a Globo não tivesse convocado, os lavajatistas do MES sequer teriam saído de casa. A burguesia sabe da importância de aumentar o poder do STF para controlar o Congresso. Sem essa corte, não teria havido o Mensalão, a Lava-jato, e o golpe contra a Dilma teria sido muito mais complicado.
Finalmente, o que essa esquerda está fazendo ao se juntar à Globo e ao Supremo é dar mais poder ao bolsonarismo, pois a classe trabalhadora acaba enxergando na extrema direita a luta contra o sistema que a oprime.





