Escrita pelo direitista sítio brasiliense Metrópoles, a matéria Mototáxi divide esquerda em SP e expõe perda de apoio dos sindicatos retrata a crise que acomete a esquerda brasileira, que vem conseguindo a proeza de fazer o vereador bolsonarista Lucas Pavanato (PL) parecer um aliado dos trabalhadores de motocicletas, que se mobilizam para derrubar a lei que proíbe a circulação de mototáxis na capital paulista. Conforme destacado pelo sítio, na última sexta-feira (7), uma audiência pública ocorreu na Câmara dos Vereadores, convocada pela vereadora do PSOL Amanda Paschoal. “Dos parlamentares do PT na Casa”, informa a supracitada reportagem de Metrópoles, “apenas Dheison e Nabil Bonduki acompanharam parte da audiência, mas não discursaram”, diz o artigo, acrescentando ainda que “a líder da bancada Luna Zaratini não compareceu”.
Próximo ao deputador federal Guilherme Boulos (PSOL), o vereador petista Senival Moura tornou público o pretexto do maior partido da esquerda brasileira para não apoiar os trabalhadores: “o emprego é importante, mas é muito mais importante a vida”, disse Senival, “se os especialistas entenderem que não vai colapsar o sistema de saúde pública, tudo bem”, acrescentou. “Não pode implementar [o serviço] dando exemplos de outras cidades [que permitem o mototáxi], não dá para comparar com o volume de trânsito de São Paulo”, concluiu Moura.
É um escárnio com os trabalhadores dos transportes. Enquanto isso, o direitisto Pavanato aproveita:
“‘Quando percebi que tinha um serviço, que é de mercado e garante emprego para as pessoas, sendo inviabilizado, fiz a minha parte de propor o projeto. Naquele momento, existia um receio de pessoas ligadas ao governo, que é contra o serviço na cidade. E existia o receio de pessoas mais à esquerda, que tem um discurso tradicional contrário a novas mudanças no livre mercado.” Segundo Metrópoles, a fala foi feita durante a audiência, levando o vereador bolsonarista e inimigo dos trabalhadores a receber “gritos de apoio dos mototaxistas presentes”, diz a matéria. Não é difícil entender o motivo.
Pavanato é um demagogo sem qualquer compromisso com o emprego dos operários de motocicleta. No entanto, a crise da esquerda e, em especial, do PT, abre uma avenida para que um elemento como ele se projete como defensor dos mototaxistas. O fato de um vereador bolsonarista ser visto como aliado dos mototaxistas é um sintoma claro da falência da esquerda oficial, que, ao invés de lutar pelos empregos desses trabalhadores, os entrega de bandeja para a demagogia da direita. É um erro fatal.
A esquerda, que deveria ser a primeira a apoiar a mobilização em defesa do direito dos mototaxistas trabalharem, se coloca contra eles em nome de supostos interesses burocráticos, que nada têm a ver com a realidade da classe operária. Como consequência, um vereador bolsonarista, que pertence ao mesmo grupo político do prefeito Ricardo Nunes (MDB) – eleito com o apoio decisivo de Jair Bolsonaro –, se transforma, aos olhos dos motoqueiros, em um aliado contra o sistema que os explora e os impede de trabalharem. Nada mais falso.
Pavanato e Nunes representam os interesses dos patrões, e sua política é a de manter os trabalhadores explorados. Diante da omissão da esquerda, porém, o vereador aparece como o único que ouve os mototaxistas. Assim, um partido que deveria representar os interesses populares se distancia cada vez mais da base e abre espaço para a direita.
O resultado desse distanciamento é que os mototaxistas, sem ver uma alternativa na esquerda, acabam caindo no engodo bolsonarista. Quando um vereador como Pavanato aparece na Câmara e defende publicamente seu direito de trabalhar, os trabalhadores o enxergam como aliado, algo relativamente óbvio. A esquerda, ao se omitir ou, pior, se opor aos interesses da classe operária, empurra os trabalhadores diretamente para o campo bolsonarista.
A esquerda não pode cair na armadilha de lutar contra os interesses dos trabalhadores em nome de pretextos secundários. A legalização do mototáxi é uma reivindicação legítima de uma categoria operária que luta pelo direito de trabalhar. Oposição a essa demanda significa hostilidade contra a classe trabalhadora e, consequentemente, uma perda irreversível de apoio popular.