Sobre o 8 de janeiro

Esquerda chave de cadeia quer ver pipoqueiro e sorveteiro presos

Colunista debocha do atropelo do judiciário aos direitos democráticos dos bolsonaristas

A crise ideológica na qual a esquerda se enfiou não para de produzir argumentações bizarras com objetivos mesquinhos. O colunista do Brasil 247 Ricardo Nêggo Tom vem produzindo uma atrás da outra para defender o justiçamento das pessoas comuns presas por participarem do ato de 8 de Janeiro em Brasília. Usando como mote a pequena e mal executada mensagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em inglês no ato do dia 6 de abril, Tom escreveu a coluna Pop corn, ice cream and lipstick’: Fire in the ‘cool’ dos bolsonaristas. Apesar de usar de ser uma matéria irônica, o que acaba chamando a atenção é o conteúdo bastante direitista que o colunista traz ao público de esquerda que costuma acessar o portal de notícias.

O ato em questão teve como mote a anistia dos acusados por participação no ato de 8 de Janeiro, o que envolve obviamente Jair Bolsonaro, mas, junto com ele, diversas pessoas comuns que foram ao ato. O próprio Bolsonaro nem esteve presente na manifestação, mas é apontado como líder da suposta tentativa de golpe de Estado. No ato compareceram algumas dezenas de milhares de pessoas, incluindo sete governadores, uma demonstração de força à qual a esquerda responde com deboche e mais defesa do endurecimento do regime político.

A referência a “pop corn” (pipoca) e “ice cream” (sorvete) remete à mensagem de Bolsonaro em inglês para denunciar que um pipoqueiro e um sorveteiro estavam sendo condenados por golpe de Estado no Brasil. “Lipstick” (batom) remete à cabeleireira que escreveu “perdeu mané” numa estátua em Brasília. Ou seja, no título o colunista já deixa claro seus alvos, as pessoas comuns que apoiam o bolsonarismo. O pipoqueiro Carlos Antônio Eifler é um pequeno empresário, dono de uma loja de pipocas gourmet no Rio Grande do Sul. Já Otoniel Francisco da Cruz vende picolés em Porto Seguro. O caso de Débora dos Santos já teve maior repercussão, sendo mais conhecido o fato de ela ser cabeleireira. Nenhum banqueiro, nenhum militar e nenhum dos três foram pegos portando uma arma de fogo sequer.

A esquerda acha que vai convencer a população de que pessoas como essas merecem pagar muito caro por terem ido a uma manifestação política. A esquerda que sempre esteve nas ruas, inclusive pregando a derrubada de governos no “Fora Collor”, “Fora FHC” e “Fora Bolsonaro”. Como o povo pode entender esse “cavalo de pau” ideológico? Agora é pra dizer que quem pede a derrubada de um governo deve ficar mais de 10 anos na prisão? Que direitos humanos não são para todos?

Nas palavras de Tom:

“Sobre as punições aos envolvidos no 08/01, tenho a dizer que todo castigo para golpista é pouco. Seja ele pipoqueiro, sorveteiro, maquiador, ‘cabelelera’, pastor ou gado de presépio fascista. É preciso tacar fogo no ‘cool’ dessa gente perversa, manipuladora, desonesta e perigosa, que vem naturalizando a distopia na nossa sociedade. Gente essa que foi ao delírio quando o seu mito exaltou um demoníaco torturador em pleno Congresso Nacional, se regozijando pelas crueldades que ele cometeu contra a sua adversária política. Pela memória de Brilhante Ustra, o terror de muitas mulheres que usavam batom apenas para se maquiarem, e foram torturadas na frente de seus filhos, eu digo não a anistia para os golpistas!”

Ou seja, já que os bolsonaristas defendem uma ditadura, a esquerda deveria fortalecer o caráter ditatorial do Estado brasileiro para que os bolsonaristas sintam na pele o quanto isso é ruim. Por si só isso já demonstra uma degradação política e até moral para alguém que se julgue esquerdista. Afinal, são seres humanos que, até onde se sabe, só participaram de uma manifestação. E, para além disso, como é possível alguém de esquerda achar que um Estado policialesco desses não vai esmagar o povo brasileiro e, em especial, a esquerda? Por defenderem um político que julgam estar defendendo seus valores, essas pessoas merecem ser justiçadas, para amedrontar outras pessoas que pensam igual? Por que isso daria certo?

Tentando ser engraçado, mas expondo seu sadismo, Tom brinca sobre possíveis penas alternativas para dois dos três bolsonaristas condenados. O pipoqueiro faria pipoca para os brasileiros assistirem o julgamento e condenação de Bolsonaro, enquanto a cabeleireira atenderia as “mulheres de esquerda” para a “festa de prisão”. Brincando com uma tortura psicológica? Essa é a abordagem da esquerda? É muito fácil imaginar esse tipo de conversa vindo de um tiozão direitista, que gosta por exemplo quando policiais pegam um pixador e descarregam as tintas spray nos seus rostos. Ou que defende que um estuprador seja estuprado na cadeia. O dia que o papel da esquerda for defender punição para resolver os problemas sociais, a burguesia não precisará mais dos seus políticos de direita.

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