Europa

Esquerda anti-identitária alemã acusa fraude eleitoral

Casos suspeitos apareceram nas eleições alemãs, entre eles um desempenho tão surpreendente quanto estranho do Die Linke, levando a esquerda a contestar o resultado

A líder do partido Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), a deputada Sahra Wagenknecht, anunciou que pretende contestar os resultados das eleições federais alemãs realizadas no último domingo (23). O partido, que disputou sua primeira eleição nacional, ficou a míseros 0,03% de ultrapassar a cláusula de barreira de 5% necessária para entrar no Bundestag (o parlamento alemão), obtendo 4,97% dos votos.

A diferença, segundo os números oficiais, foi de apenas 13 mil votos, o que levantou suspeitas de irregularidades e abriu uma crise política no país. Wagenknecht já declarou que levará o caso aos tribunais, se necessário, apontando problemas no processo eleitoral, especialmente no voto dos alemães residentes no exterior.

Os resultados finais mostram que o bloco conservador formado pela União Democrata-Cristã (CDU) e pela União Social Cristã (CSU) saiu vitorioso, com 28,6% dos votos, garantindo a liderança na disputa. Como o BSW não conseguiu ultrapassar a cláusula de barreira dos 5%, a redistribuição de votos permitiu à CDU (com 208 lugares) formar uma coalizão mais simples com o Partido Social-Democrata (SPD), de Olaf Scholz, que ficou em terceiro lugar e conquistou 120 assentos.

Juntos, os partidos que governaram a Alemanha durante o período Merkel têm 328 assentos, 13 a mais do que a maioria absoluta, o que evitou a necessidade de negociar com outros dois partidos menores. Essa conjuntura fortalece a posição do líder da CDU Friedrich Merz, que agora tem caminho aberto para consolidar o governo com maior facilidade.

A eleição teve ainda outros desdobramentos. O partido Die Linke (A Esquerda, em português, de onde o BSW se originou após uma dissidência liderada por Wagenknecht em 2024), surpreendeu ao conquistar 8,8% dos votos, superando a cláusula de barreira com relativa folga e elegendo seis deputados por voto direto.

O sucesso misterioso do Die Linke, segundo o órgão Euronews na matéria Sahra Wagenknecht pondera contestar resultados das eleições alemãs, veio após “uma campanha viral nas redes sociais”, a dois dias antes do pleito, o que lhe rendeu um salto de três pontos percentuais em relação à eleição anterior, o que no mínimo, coloca mais dúvidas sobre manipulações. Esse resultado é ainda mais surpreendente, dado que o partido vem de uma crise, que, nas eleições anteriores (2021), fez com que a agremiação perdesse 41 das 69 cadeiras que tinha no Bundestag, ficando com apenas 28.

Em entrevista a jornalistas na segunda-feira (24), em Berlim, Wagenknecht foi enfática ao questionar a legitimidade do processo eleitoral. “A questão que se coloca é a da validade legal dos resultados eleitorais”, declarou. Ela apontou problemas específicos no voto no exterior como um dos fatores determinantes.

Relatos de eleitores alemães na Bélgica, por exemplo, indicaram que uma greve dos correios, que durou duas semanas, impediu a chegada dos boletins a tempo. O embaixador alemão no Reino Unido, Miguel Berger, também admitiu falhas, afirmando em uma rede social que “os prazos foram calculados de forma muito apertada e os procedimentos são excessivamente burocráticos”, após ele próprio não conseguir votar devido a atrasos postais. Segundo o jornal Die Zeit, 210.297 cidadãos alemães no exterior estavam inscritos para votar até a semana passada, mas ainda não há dados precisos sobre quantos foram afetados.

Além disso, a dirigente criticou o instituto de sondagens Forsa, acusando-o de subestimar sistematicamente o desempenho do BSW, o que, segundo ela, desencorajou eleitores a apoiar o partido. “Os meios de comunicação também contribuíram para nos colocar em maus lençóis, nossas posições deixaram de ser levadas em conta”, afirmou.

A líder do BSW ainda acusou a imprensa de boicotar sua campanha, embora levantamentos mostrem que ela foi uma das figuras políticas mais presentes em canais de TV públicos durante o período eleitoral. O partido que combina posições econômicas de esquerda com uma postura conservadora em temas como imigração, além de ser inimigo declarado do identitarismo, vinha de sucessos regionais na Saxônia, Turíngia e Brandemburgo, além de 6,1% nas eleições europeias de 2024, mas, misteriosamente, teria um resultado menor na reta final da disputa federal.

Os números da eleição expõem a rigidez da legislação alemã. A cláusula de barreira de 5%, uma das mais restritivas do mundo, impede que partidos com percentual menor dos votos – que implicam em três cadeiras conquistadas por voto direto – tenham representação no Parlamento. No caso do BSW, o arredondamento para baixo dos 4,97% selou sua exclusão, mesmo com um resultado que, em termos absolutos, foi o melhor já registrado por um partido estreante em uma eleição federal, segundo a própria Wagenknecht. “Apesar de termos alcançado o melhor resultado da nossa história em número de votos, é mais fraco em termos percentuais do que nas eleições europeias”, lamentou, destacando, no entanto, o feito histórico para uma legenda recém-criada.

A trajetória do BSW começou em 2024, quando Wagenknecht rompeu com o Die Linke, partido que ajudou a fundar em 2007 ao lado de seu marido, Oskar Lafontaine, outro dissidente político conhecido por abandonar o SPD anos antes. Nascida na antiga Alemanha Oriental, filha de mãe alemã e pai iraniano, Wagenknecht construiu sua carreira defendendo políticas econômicas de esquerda, mas se afastou do Die Linke por divergências, especialmente em relação à imigração ilegal e à chamada ideologia woke.

Ao criar o BSW, ela levou consigo nove deputados e buscou atrair a classe trabalhadora influenciada pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que, nesta eleição, deu uma demonstração de força significativa, embora ainda insuficiente para alterar o equilíbrio favorável à coalizão CDU/SPD. O desempenho do BSW era observado de perto pela CDU/CSU, pois sua entrada no Parlamento poderia fragmentar ainda mais a legislatura, dificultando a formação de uma maioria estável.

Caso tivesse ultrapassado os 5%, Merz teria de negociar com mais partidos além do SPD para assegurar a maioria das 630 cadeiras do Bundestag. Agora, com o BSW fora, o bloco conservador respira aliviado, enquanto Wagenknecht promete lutar. “É uma derrota, mas não o fim do BSW”, declarou ela antes mesmo da divulgação do resultado final.

A reação do Die Linke, por outro lado, é outro sintoma de manipulação. Após meses atrás nas pesquisas, o partido se recuperou com uma campanha digital que viralizou, contrastando com o declínio repentino e misterioso do BSW. Comentando o caso durante a transmissão da Análise Internacional, programa que foi ao ar no canal do YouTube do Diário Causa Operáriao presidente nacional do Partido da Causa Operária, Rui Costa Pimenta, declarou:

“Não se pode descartar a possibilidade de manipulação ou até mesmo fraude eleitoral nesse resultado. Os fatos são suspeitos: o BSW ficou fora por uma margem ínfima, beneficiando diretamente a coalizão CDU/SPD, que agora governa com facilidade. Some-se a isso os problemas com o voto no exterior e a cláusula de barreira antidemocrática, e o cenário fica ainda mais nebuloso. Se o BSW entrasse, junto com a AfD, cerca de 25% do eleitorado teria voz no Parlamento, algo que os partidos tradicionais claramente querem evitar. Não há provas concretas, mas a conveniência do resultado é inegável. Isso reflete uma crise profunda no regime político alemão, onde CDU e SPD, como peças de um mesmo sistema em colapso, se agarram ao poder oferecendo guerra, neoliberalismo e destruição econômica. O crescimento de forças alternativas é inevitável, e essas manobras só adiam o desfecho.”

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