O cessar-fogo na Faixa de Gaza atingiu um impasse. O Estado de “Israel” se recusa a cumprir o que assinou e a se retirar completamente do território. O Hamas, então, paralisou a troca de prisioneiros e espera por uma deliberação do governo Trump, que, de fato, dá as cartas. O Iêmen já anunciou um ultimato: em poucos dias voltará com os ataques no Mar Vermelho e, em breve, pode atacar “Israel”. Diante dessa situação, o governo Trump começa a dialogar diretamente com o Hamas.
Um relatório do jornal Axios, no domingo (9), revelou que o enviado da Casa Branca, Steve Witkoff, viajará para o Catar na noite de terça-feira (11) para mediar um novo acordo para a libertação de prisioneiros e um cessar-fogo entre a ocupação israelense e o movimento Hamas, segundo dois funcionários dos EUA. Segundo o relatório, esta será a primeira rodada de negociações desde que Trump assumiu o cargo e a primeira desde o acordo original.
Witkoff, que garantiu o primeiro acordo ainda em janeiro, se juntará a mediadores do Catar e do Egito, além de negociadores tanto de “Israel” quanto do Hamas. Ele está programado para viajar a Doha após participar de uma reunião entre EUA e Ucrânia na Arábia Saudita na terça-feira (11). No entanto, segundo o relatório, não está claro se ele se encontrará diretamente com o Hamas ou apenas com os israelenses e os mediadores.
Um alto funcionário israelense mencionou que Witkoff pretende reunir todas as partes para negociações intensas ao longo de vários dias, na esperança de alcançar um acordo. Enquanto isso, uma delegação do Hamas realizou conversações com representantes egípcios no Cairo no sábado (8) sobre o cessar-fogo em Gaza e as negociações sobre prisioneiros.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netaniahu, reuniu ministros e chefes de segurança no sábado (8) para traçar os próximos passos para o acordo em Gaza. Seu gabinete confirmou que “Israel” aceitou o convite dos mediadores e enviará uma delegação a Doha na segunda-feira (10) para avançar nas negociações.
Hamas aprova acordo para novo governo de Gaza
No sábado (8), a equipe de negociação do Hamas finalizou sua viagem ao Egito, onde a delegação discutiu com mediadores formas de implementar as cláusulas do acordo de cessar-fogo.
A delegação, liderada por Mohammad Daruish, chefe do Conselho da Xura do Hamas e presidente de seu Conselho de Liderança, se reuniu com o chefe do Serviço Geral de Inteligência do Egito, Major-General Hassan Rachad. As duas partes discutiram várias questões cruciais, incluindo o acordo de cessar-fogo e a troca de prisioneiros.
Um comunicado divulgado pelo Escritório de Imprensa do Hamas descreveu as conversações como “positivas e responsáveis”.
“A delegação do Hamas expressou sua gratidão e apreço pelos esforços do Egito, especialmente na resistência aos planos de deslocamento”, em referência à fala de Trump sobre expulsar todos os palestinos de Gaza.
Ao saudar os resultados da mais recente cúpula árabe, o Hamas destacou o plano egípcio de reconstrução de Gaza e o direito inalienável do povo palestino à autodeterminação.
Mais detalhadamente, a equipe de negociação do Hamas enfatizou a necessidade de respeitar os termos do acordo de cessar-fogo em múltiplas fases entre a resistência palestina e “Israel”.
“A delegação enfatizou a necessidade de cumprir todos os termos do acordo, iniciar imediatamente as negociações para a segunda fase, reabrir as passagens de fronteira e permitir a entrada irrestrita de ajuda humanitária em Gaza”, destacou o comunicado.
A crise total do regime sionista
O grande problema para o governo Netaniahu é que sua ala de extrema-direita está impedindo que o cessar-fogo avance. É um setor com uma base social muito grande e que possui parlamentares suficientes para fazer o premiê perder a maioria. Um dos partidos mais radicais, o Poder Judeu, saiu após a 1ª fase do cessar-fogo. Agora, seu aliado tradicional, o Sionismo Religioso, pode sair do governo com a 2ª fase, o que pode levar à queda de Netaniahu. Esse é o principal motivo para o impasse.
Mas não é só a direita que pressiona Netaniahu. Há uma pressão gigantesca pela libertação dos prisioneiros do Hamas, bem como de setores da economia que não aguentam mais sustentar a guerra. As forças armadas também já se declararam incapazes de combater a resistência palestina. A crise dos prisioneiros parece ser a mais forte neste momento.
O próprio New York Times tem publicado artigos que complicam a situação de Netaniahu. Segundo um relatório, dos 251 soldados e civis israelenses capturados pelo Hamas e levados para Gaza em 7 de outubro de 2023, 41 foram mortos, incluindo muitos por bombardeios israelenses e fogo amigo. O NYT revisou relatórios forenses e investigações militares sobre as mortes, além de entrevistar mais de dez soldados e autoridades israelenses, um alto funcionário regional e sete parentes de prisioneiros.
Dos 59 ainda mantidos pelo Hamas e outros grupos de resistência palestinos em Gaza, o governo de “Israel” afirma que apenas 24 permanecem vivos. Outros 130 foram soltos com vida, enquanto os corpos de 40 foram devolvidos a “Israel” em troca da libertação de centenas de prisioneiros e detidos palestinos após acordos de cessar-fogo em novembro de 2023 e janeiro deste ano.
Uma enorme mobilização popular ocorre em torno dos 24 que permanecem vivos. Os que são libertos costumam ampliar a pressão pela continuidade do acordo, o que dificulta muito a vida de Netaniahu. Fato é que quem dará as cartas no fim será o governo Trump. O futuro do governo sionista está em suas mãos. O Hamas não irá ceder.