Cisjordânia

Enquanto Gaza é destruída, União Europeia enviará bilhões à AP

Autoridade Palestina (AP) reprime manifestações e inaugura centro de compras de luxo em Ramalá

Em meio à destruição total da Faixa de Gaza pelas forças armadas sionistas, a União Europeia anunciou, nesta segunda-feira (14), um pacote bilionário de financiamento à Autoridade Palestina (AP), governo fantoche controlado por “Israel” e instrumento de repressão contra a resistência nacional palestina. Segundo a comissária europeia para o Mediterrâneo, Dubravka Suica, o bloco europeu destinará 1,6 bilhão de euros à AP ao longo de três anos.

De acordo com a repartição dos recursos divulgada pela própria comissária à agência britânica Reuters, 620 milhões de euros irão diretamente para o “suporte financeiro e reforma” da Autoridade Palestina — ou seja, o fortalecimento do regime policial comandado por Mahmoud Abbas. Outros 576 milhões serão aplicados em programas de “resiliência e recuperação” na Cisjordânia e Gaza, enquanto os 400 milhões restantes seriam oferecidos em forma de empréstimos pelo Banco Europeu de Investimento, ainda pendentes de aprovação.

A própria Suíça deixou claro o objetivo político do pacote:

“Vamos agora investir de maneira credível na Autoridade Palestina. Queremos que eles façam uma reforma, porque, sem isso, não serão fortes o suficiente para ser um interlocutor, não só para nós, mas também para Israel”.

A fala escancara o caráter da medida: garantir que a AP, controlada por uma camarilha corrupta e antipopular, esteja à altura da tarefa que o imperialismo europeu lhe reserva — a de administrar a Palestina em nome do sionismo.

A declaração foi dada às vésperas da reunião de “alto nível” entre os ministros do Exterior do bloco europeu e representantes da AP, incluindo o novo primeiro-ministro Mohammed Mustafá, realizada em Luxemburgo. O encontro faz parte dos planos da UE de reposicionar a Autoridade Palestina como governante dos territórios que hoje são palco de resistência armada, como a Faixa de Gaza — mesmo com a negativa do próprio governo sionista de que aceitará qualquer presença palestina autônoma na região.

A manobra imperialista acontece em meio à maior carnificina em curso no mundo. Desde 7 de outubro, o exército sionista matou mais de 50 mil palestinos, em sua maioria mulheres e crianças. Só em março, após o fim da trégua temporária, “Israel” bombardeou escolas, hospitais, acampamentos de refugiados e campos de deslocados em Gaza. Ao todo, segundo dados oficiais, mais de 115 mil pessoas já foram feridas, dezenas de milhares continuam sob escombros e os hospitais, como o de Al-Shifa, foram alvos de múltiplos ataques — doze apenas desde março, com 30 médicos mortos, conforme a OMS.

Diante desse cenário, a Autoridade Palestina não apenas se omite, como age abertamente contra seu próprio povo. Em 7 de abril, durante uma greve geral na Cisjordânia convocada pela resistência palestina, a AP enviou forças de segurança para reprimir os protestos. Em Ramalá, uma mulher foi presa por escrever “Gaza está queimando” em um muro. Em Beita, o médico e ativista Abdulsalam Mualla foi detido após fazer um discurso denunciando a traição da Autoridade.

O Hamas condenou os acontecimentos em nota oficial: “a campanha de prisões da Autoridade contra nosso povo após atividades de apoio a Gaza é um sinal perigoso, um comportamento que serve aos objetivos da ocupação e uma facada nas costas dos palestinos”. Já a Jiade Islâmica afirmou que a repressão “não é patriótica” e que “essa fase exige união para impedir o deslocamento em Gaza e na Cisjordânia”.

A política da AP não se limita à repressão direta. Segundo revelou o órgão Middle East Eye, a entidade sabotou uma resolução da ONU que tratava da criação de um mecanismo de investigação dos crimes de guerra cometidos por “Israel”. Por pressão dos Estados Unidos, Abbas e seus aliados alteraram o texto da proposta para enfraquecer seu conteúdo, de modo a proteger os ocupantes. Um funcionário do Departamento de Estado norte-americano confirmou: “convencemos a Autoridade a amenizar o texto”.

Enquanto Gaza arde, a Autoridade Palestina se dedica a promover a “normalidade” e o “desenvolvimento” em cidades como Ramalá. A inauguração do luxuoso Icon Mall — um centro de compras moderno e repleto de lojas caras — gerou revolta entre os palestinos, que denunciaram nas redes sociais o contraste entre a obra e o genocídio em curso. “Queremos mostrar que não temos nada a ver com isso?”, questionou uma palestina. “Com que cara vamos pedir que os árabes e muçulmanos respeitem nosso sangue e se solidarizem conosco se nós mesmos não somos solidários conosco?”.

A ostentação dos aliados do imperialismo europeu contrasta com a destruição completa vivida por milhares de palestinos em cidades como Jenin e Tulcarém, onde o exército sionista já matou quase mil pessoas e deixou 21 mil deslocados. Mesmo diante disso, a Autoridade anunciou a construção de três “centros de abrigo”, uma política denunciada por moradores locais como uma tentativa de institucionalizar o deslocamento forçado.

“É vergonhoso, desvaloriza os moradores; o correto é obrigar a ocupação a deixá-los”, declarou o jovem Fakhri Jaradat ao sítio Al Quds. Outro morador de Tulcarém, Alaa Jiousi, afirmou: “falar em abrigos é estar em sintonia com a ocupação para humilhar e expulsar os refugiados”.

O governo de Abbas, no entanto, segue apontando seus ataques à resistência. Em nota publicada em 8 de abril, a presidência da AP afirmou que “solicitamos que o Hamas não continue oferecendo pretextos à ocupação para que ela prossiga com sua guerra de extermínio”. A declaração omite completamente o papel do sionismo na escalada genocida e ataca diretamente o único setor que tem enfrentado militarmente os invasores.

Gostou do artigo? Faça uma doação!