O texto Enfrentar Trump e denunciar a extrema direita traidora do Brasil!, publicado no sítio da Revista Movimento (MES-PSOL) nesta quinta-feira (10), expressa a tendência geral da esquerda pequeno-burguesa, a de defender o STF (Supremo Tribunal Federal) e vender o cavalo de Troia da “democracia versus fascismo”.
Vale esclarecer, antes de mais nada, que essa política de espantalho do “todos contra Trump”, “ele não”, etc., é uma caixinha na qual cabe muita coisa dentro. Um pouco antes da definição da candidatura de Lula, por exemplo, vários setores da esquerda tentaram, em nome da luta contra o fascismo, emplacar candidatos como os reacionários João Doria e Ciro Gomes, mas foram derrotados por setores mais combativos da classe trabalhadora.
Recentemente, esses grupos propuseram que a esquerda se junte às “democracias liberais” – nome fantasia do imperialismo – para derrotar a extrema direita.
Indo para o artigo, lê-se que “a recente ação de guerra tarifária contra o Brasil declarada por Donald Trump, elevando as tarifas para importações brasileiras nos EUA a uma taxa de 50%, representa um novo e grave ataque contra o país. Usando o pretexto do que chama de perseguição a Bolsonaro e seus aliados, Trump escalou a guerra comercial com seu mercantilismo primário e elevou as tarifas. Assim, na prática, a ação política da extrema direita brasileira aparece como a motivadora do tarifaço”.
De fato, como este Diário vem enfatizando, não se pode permitir qualquer tipo de ingerência de países estrangeiros na nossa política, e o governo deve agir energicamente.
Por outro lado, a perseguição judicial a Jair Bolsonaro é uma realidade, não um mero pretexto. A esquerda pequeno-burguesa tem dificuldade em entender que um político de extrema direita pode ser perseguido. Não compreende que a burguesia não tem apego por ninguém, qualquer um serve desde que cumpra o papel de governar em prol de seus interesses.
Qual a importância de defender os direitos democráticos? É simples. Além do fato de que todos têm direitos, inclusive o Bolsonaro, se o STF pode persegui-lo, amanhã será a vez da esquerda. Como resultado dessas perseguições, temos que todo regime vai se fechando.
Defesa do STF
O MES, que apoiou a Lava Jato, se apressa em dizer que “nesse caso, não se trata apenas de um ataque contra o governo e o STF”, mostrando que também apoia o Supremo, instituição das mais reacionárias do Estado burguês.
Segundo o texto, Trump também atua “contra setores fundamentais da burguesia nacional – parte dela base do bolsonarismo – duramente prejudicados pela medida de Trump, além de desagradar parcelas da sociedade norte-americana que o veem tentando se consolidar como um projeto autoritário”.
É muito provável que o presidente norte-americano desagrade setores da população de seu país. A sua base, no entanto, parece estar muito mais preocupada com que o governo gaste menos com guerras, proteja mais a economia norte-americana e recupere o caminho do crescimento. Ao promover sanções, alegando trabalhar em favor da recuperação econômica, estará mais provavelmente fazendo aquilo que seus eleitores esperam.
Segundo o texto, “o ataque direto do governo dos EUA contra o Brasil e a soberania nacional ocorre como um cúmplice dos golpistas buscando mudar o regime político com base na chantagem econômica e exigindo que o STF relaxe a sua ação contra os golpistas”.
Chamam Trump de cúmplice de golpistas quando, no Brasil, o Judiciário tem sido fundamental nesse golpe continuado iniciado em 2016. Retirar do próximo pleito um dos candidatos com real chance de vitória é mais uma fase do golpe.
O artigo diz que “nesse contexto, sabemos quem são os grandes inimigos do povo: a mesma extrema direita brasileira que se colocou contra a taxação de grandes fortunas e agora declara seu apoio a Trump contra o Brasil”. E quanto aos democratas que planejaram o golpe contra o PT, seriam amigos do povo? Na cabeça dessa esquerda é muito provável que sim, uma vez que parte do campo sonhava com a eleição de Joe Biden e Kamala Harris.
Guerra comercial
Contra o tarifaço, o MES afirma que“é hora de ações contundentes para afirmar a soberania nacional e proteger nossa economia. É preciso aplicar tarifas de reciprocidade e sanções comerciais contra os Estados Unidos, como resposta firme às agressões econômicas promovidas pela Casa Branca”.
São medidas inócuas, basta Trump recuar ou amenizar a tarifação, que tudo se desmancha. O Brasil precisa de mudanças reais, como a retomada do crescimento, da industrialização, e reassumir o controle do Banco Central.
Indo para o final, o texto afirma que “é o momento de punir quem conspira contra o Brasil, como Eduardo Bolsonaro e outros reacionários”. Sendo assim, como o MES explica seu apoio a Sérgio Moro e Deltan Dallagnol? Eles conspiraram contra o País. Por qual motivo esse grupo apoia o STF, que passa por cima da Constituição para implementar uma política que atende aos interesses do imperialismo, como os ataques à liberdade de expressão?
As propostas do MES não são de fato em defesa dos interesses da classe trabalhadora. Um partido verdadeiramente de esquerda deveria elevar a consciência dos trabalhadores, propor a mobilização contra os agressores estrangeiros e, ao mesmo tempo, mostrar o quão nefasta e antinacional é a atuação do STF.



