Na tarde desta terça-feira (25), um apagão atingiu a rede elétrica do Chile, deixando mais de 95% da população sem energia por nove horas. O governo decretou estado de emergência e toque de recolher, que foram suspensos na manhã de quarta-feira (26).
O apagão afetou mais de 19 milhões de chilenos e foi o maior ocorrido nos últimos 15 anos. A queda de energia foi causada por uma desconexão no sistema elétrico no norte do país por volta das 15h15. Ainda na tarde de terça-feira, a ministra do Interior, Carolina Tohá, anunciou que o governo havia decretado estado de emergência e imposto toque de recolher das 22h às 6h.
A imprensa local relatou caos nas cidades afetadas, com transtornos no trânsito e no transporte público. Na capital, o metrô foi paralisado, deixando mais de dois milhões de usuários sem alternativa, enquanto os ônibus superlotaram. Houve relatos de pessoas presas em parques de diversões e elevadores.
Hospitais precisaram realocar pacientes e escolas suspenderam atividades. Pelo menos três mortes foram registradas em hospitais do país, todas de pacientes que dependiam de aparelhos para sobreviver.
Durante o estado de emergência, as forças de segurança realizaram 207 prisões, sob acusação de vandalismo ou violação do toque de recolher. A indústria também foi afetada. A Escondida, maior empresa de extração de cobre do mundo, ficou sem energia, e a estatal Codelco relatou impacto em todas as suas minas.
O apagão também causou instabilidade na internet e nos serviços de telefonia. O Festival Internacional de Viña del Mar adiou shows, e voos da Latam Airlines sofreram atrasos, apesar de o Aeroporto de Santiago operar com geradores.
A hipótese de sabotagem chegou a ser aventada, mas logo foi descartada. “Não há razão para supor um ataque. Trata-se de uma falha do sistema”, afirmou a ministra do Interior.
Segundo a Coordenadora Elétrica Nacional, autarquia responsável pela operação do sistema elétrico, o fornecimento foi gradualmente restabelecido ao longo da noite de terça-feira, com a maioria da população recuperando o serviço à meia-noite de quarta-feira. No entanto, 220 mil residências ainda permaneciam sem eletricidade.
O presidente do conselho administrativo da Coordenadora Elétrica Nacional, Juan Carlos Olmedo, afirmou que o apagão foi causado por uma “operação indesejada”. Segundo ele, a desconexão de uma grande linha de transmissão provocou uma reação em cadeia, desativando usinas geradoras e causando o colapso da rede.
O presidente Gabriel Boric culpou as empresas privadas pelo apagão. “Isso é indignante! Não é admissível que milhões de chilenos sejam prejudicados por empresas que não fazem seu trabalho”, declarou. A empresa colombiana ISA InterChile, responsável pela administração do sistema elétrico no norte do Chile, admitiu que a falha foi causada por um “evento de duplo curto-circuito” em uma linha de 500 mil volts, resultando na indisponibilidade do serviço.
O sistema elétrico chileno é privatizado desde a ditadura de Augusto Pinochet. Antes do golpe militar, as empresas públicas ENDESA e CHILECTRA S.A detinham o monopólio da eletricidade no país. Sob Pinochet, essas empresas foram divididas e privatizadas, concluindo o processo nos anos 1990.
Gabriel Boric manteve a política neoliberal de Pinochet. Apesar da retórica sobre “transição energética”, seu governo segue entregando o setor elétrico às mãos da iniciativa privada. O resultado dessa política é o apagão desta terça-feira, e se o Chile continuar no mesmo caminho, novos colapsos serão inevitáveis.