Oriente Médio

Encurralado, ‘Israel’ apresenta proposta de cessar-fogo ao Hamas

Entidade sionista vem apresentando uma sequência de crises que pode levar sua sociedade ao colapso

Os incessantes crimes de guerra de “Israel”, que vitimam dezenas de crianças palestinas, encobrem que o Estado sionista se encontra em uma crise cada vez mais profunda. Prova disso é que o governo israelense, embora siga bombardeando a Faixa de Gaza com a promessa de exterminar a Resistência Palestina, está sendo obrigado a manter, em sigilo, negociações em torno de um novo acordo com o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe).

Nessa segunda-feira (14), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netaniahu, e o também israelense Gal Hirsch, responsável pelas negociações em torno dos prisioneiros da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, conversaram com os pais de um homem mantido em cativeiro pela Resistência Palestina. Segundo a imprensa israelense, Netaniahu teria afirmado que houve “avanços nas negociações para a libertação de dez sequestrados vivos”.

Apesar disso, o Fórum das Famílias dos Reféns criticou a posição do governo israelense e exigiu um acordo que garanta a libertação de todos os sequestrados de uma só vez, conforme estava estabelecido pelo acordo de cessar-fogo rompido unilateralmente por “Israel” em 18 de março. Em comunicado, o fórum declarou:

“Enquanto as famílias aguardam e esperam pela libertação de cada refém das mãos do Hamas, não se pode ignorar que a abordagem de libertação parcial em etapas é uma estratégia perigosa. Altos funcionários do governo continuam a falar sobre uma pressão militar crescente que supostamente levaria à libertação de todos os sequestrados, enquanto, na realidade, as negociações estão emperradas. Os reféns estão em perigo iminente e os corpos das vítimas estão desaparecendo. A abordagem em etapas consome tempo precioso e expõe todos os reféns ao perigo.”

No mesmo dia, centenas de ex-funcionários do Mossad, a mais conhecida agência de inteligência israelense, criticaram a retomada da guerra em Gaza. Um grupo de mais de 250 ex-integrantes da agência – incluindo três ex-chefes – deu seu apoio a uma carta, inicialmente assinada por quase 1.000 veteranos e reservistas da força aérea, que exortava o governo israelense a priorizar a devolução dos prisioneiros em vez de continuar a guerra.

A carta critica a intensificação dos ataques israelenses e das operações terrestres em Gaza desde o colapso do cessar-fogo em março, acusando o primeiro-ministro Benjamin Netaniahu de agir movido por interesses pessoais. A carta também acusa seu governo de colocar em risco as vidas de soldados e prisioneiros por ganhos políticos próprios. Outra carta, assinada por mais de 1.500 ex-soldados e soldados atuais do Corpo de Blindados e paraquedistas do exército sionista, pede também o fim imediato da guerra em Gaza.

Ainda na segunda-feira (14), a emissora libanesa Al Mayadeen divulgou uma proposta de acordo que o governo israelense havia, supostamente, enviado para o Hamas por meio dos países mediadores. O acordo prevê a troca de 120 reféns palestinos cumprindo penas perpétuas, juntamente com centenas de outros reféns, em troca de dez prisioneiros israelenses vivos.

A proposta estabelece que o Hamas libertaria o prisioneiro Edan Alexander no primeiro dia como um gesto especial para os Estados Unidos, sinalizando boa vontade. No segundo dia da trégua, o Hamas soltaria cinco prisioneiros vivos em troca de 66 prisioneiros palestinos cumprindo penas perpétuas e outros 611 detidos. A proposta estipula que qualquer troca de prisioneiros deve ocorrer sem demonstrações públicas ou cerimônias.

Além disso, a proposta pede o estabelecimento de um mecanismo acordado mutuamente para garantir que a ajuda humanitária chegue exclusivamente aos civis. Após a liberação dos cinco prisioneiros, o documento permite a entrada de ajuda humanitária e equipamentos necessários para abrigar os deslocados em Gaza.

No terceiro dia, as negociações devem começar sobre “o dia seguinte”, com foco nos esforços de desarmamento e na declaração formal de um cessar-fogo permanente.

Até o sétimo dia, o Hamas libertaria quatro prisioneiros em troca de 54 prisioneiros palestinos cumprindo penas perpétuas, além de 500 detidos desde 7 de outubro de 2023.

No décimo dia, o Hamas seria obrigado a fornecer informações completas sobre todos os prisioneiros vivos restantes em troca de informações correspondentes sobre os prisioneiros palestinos.

No vigésimo dia, o Hamas libertaria 16 prisioneiros mortos em troca de 160 palestinos mortos, com ambos os grupos liberados simultaneamente.

Segundo a emissora Al Arabiya, os Estados Unidos informaram aos mediadores que pressionarão “Israel” a aceitar uma nova proposta de trégua em Gaza ainda no final de abril. A emissora acrescentou que “os mediadores estão na fase final de elaboração de um acordo de cessar-fogo e troca, que inclui a preparação de um acordo para a libertação dos prisioneiros em duas fases, de acordo com cronogramas específicos, e a formulação de detalhes sobre a entrada de ajuda e a abertura das passagens”.

A imprensa israelense, por sua vez, destacou que, de acordo com “fontes norte-americanas”, a questão dos prisioneiros foi um dos assuntos centrais na reunião realizada há alguns dias entre Netaniahu e o presidente norte-americano, Donald Trump. As mesmas fontes indicaram que os norte-americanos estão pressionando para alcançar um acordo, como parte de um movimento mais amplo no Oriente Médio, cujo objetivo principal seria o de encerrar a guerra em Gaza. As fontes dizem ainda que as conversações com o Irã sobre a questão nuclear também fazem parte deste plano.

Apesar de haver uma grande pressão do interior da sociedade israelense e do próprio imperialismo por um acordo de cessar-fogo, a Resistência Palestina vê estes movimentos com bastante ceticismo.

Um dirigente do Hamas, em declaração à emissora Al Mayadeen, declarou que a proposta não atende às demandas centrais do partido revolucionário por um cessar-fogo permanente e uma retirada completa de “Israel” de Gaza. Ele ainda alertou que o plano israelense parece projetado para gradualmente retirar do Hamas sua capacidade de pressão, extraindo prisioneiros sem garantir concessões significativas.

O Hamas, conforme expresso em vários comunicados, entende que Netaniahu decidiu retomar a guerra por motivos pessoais. É a guerra que sustenta o seu governo, que depende da extrema direita para viver e que aproveita o estado de guerra para atropelar as instituições do país artificial. A impopularidade da guerra é confirmada a cada dia que se passa, seja por pesquisas de opinião, pelos pronunciamentos da oposição, pelas manifestações das famílias dos prisioneiros, pelas declarações do público em geral e a recente onda de oficiais e soldados que se posicionaram contra a política do primeiro-ministro. Netaniahu promete guerra até o extermínio do Hamas, no que tem fracassado completamente.

Por isso, a posição da Resistência Palestina tem sido a de, pacientemente, insistir em um acordo de cessar-fogo que garanta efetivamente uma interrupção das agressões sionistas. Um acordo que não apenas contemple uma troca de prisioneiros, mas que ofereça garantias de que “Israel” não voltará a atacar os palestinos ou ocupar Gaza militarmente.

Esta posição firme está fundamentada na capacidade da Resistência de impor grandes derrotas a “Israel”. Na última semana, as Brigadas Al-Qassam, braço armado do Hamas, que ainda não declarou guerra oficialmente à entidade sionista, mesmo esta tendo violado o acordo de cessar-fogo, publicou um vídeo com os dizeres “o tempo está acabando”, fazendo referência à situação dos prisioneiros. O grupo também publicou um vídeo contendo uma declaração desesperadora de um dos prisioneiros.

Ainda que o Hamas, por sua estratégia acertada, esteja pressionando “Israel” para que reconheça sua incapacidade de levar adiante a guerra genocida e aceite um acordo de cessar-fogo, a resistência árabe como um todo vem aumentando as suas operações contra a entidade sionista. Nessa segunda-feira (14), as Brigadas Al-Quds anunciaram que seus combatentes “acertaram com sucesso um atirador sionista que estava posicionado na colina de Al-Muntar, no bairro de Shujaiya, a leste da Faixa de Gaza”.

No dia anterior, o Iêmen, governado pelo revolucionário Ansar Alá, realizou mais uma operação de sucesso contra o território palestino ocupado por “Israel”. A operação consistiu em ataques com mísseis balísticos a dois alvos israelenses: o Aeroporto Ben Gurion, em Telavive, a Base Aérea Sdot Micha, no centro da Palestina Ocupada. Um veículo aéreo não tripulado (VANT) também atingiu um alvo vital não revelado na cidade israelense de Ashkelon, no sul.

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