Brasília

Em operação suspeita, Banco de Brasília compra Banco Master

A venda para o BRB está sendo articulada por caciques do PP e do União Brasil

Na última sexta-feira, o Banco de Brasília (BRB), controlado pelo governo do Distrito Federal sob gestão de Ibaneis Rocha (MDB), confirmou a assinatura do contrato de compra do Banco Master por R$2 bilhões. A operação foi aprovada pelo conselho de administração do BRB e envolve 49% das ações ordinárias, 100% das ações preferenciais e 58% do capital total do banco privado, que é controlado por Daniel Vorcaro — empresário com 26,9% de participação na SAF do Galo Holding.

A aquisição, no entanto, levanta uma série de suspeitas. A começar pela própria estrutura do negócio: o Banco Master passará por uma reorganização societária que exclui “ativos e passivos não estratégicos”, mas não há transparência sobre quais carteiras o BRB irá de fato receber. A operação ainda depende do aval do Banco Central, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do Conselho Monetário Nacional (CMN), que analisarão a viabilidade técnica, econômica e jurídica da transação. A viabilidade, no entanto, já está sendo questionada por todos os lados.

Apesar de apresentar, em 2024, um patrimônio líquido de R$4,7 bilhões (contraR$ 2,3 bilhões em 2023 e apenas R$30 milhões em 2018), o Banco Master é visto pelo próprio mercado financeiro como um banco de alto risco. Seu ativo saltou para R$63 bilhões e o passivo para R$49 bilhões em 2024. O lucro líquido foi de R$1 bilhão — uma cifra que inclui manobras contábeis como a chamada “compra vantajosa”, utilizada na aquisição do banco Voiter.

A carteira de crédito do Master quintuplicou desde 2021, com base na operação agressiva com precatórios — que agora representam mais de 50% de sua carteira. Em 2024, o banco também comprou o digital Will e tentou captar recursos via títulos em dólar, sem sucesso. Emitiu ainda R$928 milhões em dívida para cobrir perdas inesperadas.

Diante da dificuldade de encontrar compradores privados, Daniel Vorcaro apostou na via política. A venda para o BRB está sendo articulada por caciques do PP e do União Brasil: Ciro Nogueira e Antonio Rueda, aliados de Ibaneis Rocha. A operação faz parte de um projeto político-eleitoral para 2026: Ibaneis pretende disputar o Senado e lançar sua vice, Celina Leão (PP), ao governo do DF.

A ligação política com o banco é evidente. A aproximação com Ciro Nogueira teria ocorrido por intermédio de Flávia Arruda, ex-deputada e ex-ministra de Bolsonaro, hoje casada com um dos sócios do banco. Ciro tentou emplacar uma emenda para aumentar o limite de cobertura do FGC de R$ 250 mil para R$1 milhão, o que beneficiaria diretamente o Master — sem sucesso.

O resultado imediato da operação é a transferência de R$2 bilhões do orçamento público do DF para um banco privado em situação de risco. Recursos que farão falta à saúde, à educação, ao transporte e à infraestrutura da capital federal.

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