Política internacional

Em Omã, Irã e EUA têm discussão indireta sobre programa nuclear

Antes do encontro, chineses denunciaram a hipocrisia do governo norte-americano: "saiu unilateralmente do acordo e causou a situação atual"

Representantes do Irã e dos Estados Unidos iniciaram na última segunda-feira (7) negociações indiretas em Omã sobre o programa nuclear iraniano, com o ministro das Relações Exteriores iraniano Abbas Araghchi e o enviado especial norte-americano Steve Witkoff liderando as delegações. O encontro, mediado pelo governo omanense, ocorre após o presidente norte-americano Donald Trump anunciar no domingo (6) conversas que descreveu como diretas, enquanto o Irã insiste que o formato será indireto, com o ministro omanense Badr Albusaidi atuando como intermediário.

Marcada para o sábado (12), a reunião reflete a tensão crescente na região, com os EUA pressionando por um acordo que restrinja as ambições nucleares iranianas e o Irã buscando o fim das sanções internacionais. O governo iraniano, por meio de Araghchi, confirmou sua disposição para o diálogo, mas destacou a desconfiança em relação às intenções dos EUA.

“Nosso principal objetivo nas conversas é naturalmente restaurar os direitos do povo e a remoção das sanções, e se o outro lado tiver vontade real, isso é alcançável, sem relação com o método, direto ou indireto”, declarou o ministro à televisão estatal iraniana, em entrevista na Argélia na última terça-feira (8). Ele acrescentou: “por ora, indireto é nossa preferência. E não temos planos de mudar para direto”.

Em artigo publicado no jornal norte-americano Washington Post no mesmo dia, Araghchi reforçou: “o Irã está pronto para negociar com seriedade e visando selar um acordo. Buscar negociações indiretas não é tática ou reflexo de ideologia, mas uma escolha estratégica baseada em experiência”. Ele também exigiu que “não pode haver ‘opção militar’, muito menos uma ‘solução militar’”.

O governo Trump, por sua vez, busca um pacto que vá além do Acordo Nuclear de 2015, abandonado pelos EUA em 2018. Durante anúncio no Salão Oval ao lado do primeiro-ministro da ditadura sionista “Israel” Benjamin Netaniahu, Trump afirmou: “estamos tendo conversas diretas com o Irã, e elas começaram. Será sábado. Temos uma reunião muito grande, e veremos o que pode acontecer”.

Ele completou: “e acho que todos concordam que fazer um acordo seria preferível”. Contudo, o presidente alertou que o Irã estará em “grande perigo” se as tratativas falharem, ecoando ameaças feitas ao NBC em março: “se eles não fizerem um acordo, haverá bombardeios como nunca viram antes”.

A porta-voz do Departamento de Estado Tammy Bruce confirmou a presença de Witkoff: “ele estará presente”. Trump também sugeriu um modelo como o da Líbia em 2003, quando Muammar Gadhafi desmantelou seu programa nuclear, ideia rejeitada por Araghchi como “fantasia que nunca se realizará”. As negociações ocorrem em um momento crítico.

O imperialismo defende a tese de que o Irã acumula 274,8 kg de urânio enriquecido a 60%, próximo do nível armamentista de 90%. Os dados são da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e foram divulgados em fevereiro.

Após a saída dos EUA do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) em 2018, o Irã suspendeu gradualmente seus compromissos, enquanto insiste que seu programa é pacífico. “Nossa defesa é inegociável. Como Teerã pode desarmar quando Israel tem ogivas nucleares? Quem nos protege se Israel ou outros atacarem?”, questionou um oficial iraniano à agência de notícias Reuters.

Já os Estados Unidos e “Israel”, que possui um arsenal nuclear não declarado, prometem impedir que o Irã desenvolva armas atômicas. Presente no anúncio de Trump, Netaniahu declarou: “concordamos que o Irã não terá armas nucleares. Isso pode ser feito em um acordo, mas apenas se for no modelo líbio, onde você entra, destrói as instalações, desmonta tudo, sob supervisão e execução americanas”. Ele alertou: “a segunda opção é que isso não aconteça, que eles prolonguem as conversas, e então a opção é militar. Todos entendem isso. Discutimos isso longamente”.

O encontro em Omã foi precedido por uma reunião na última terça-feira (8) em Moscou entre vice-ministros do Irã, Rússia e China, que discutiram o programa nuclear iraniano. O porta-voz do Crêmlin Dmitry Peskov saudou as tratativas: “sabemos que certos contatos, diretos e indiretos, estão planejados em Omã. E, claro, isso só pode ser bem-vindo, porque pode levar à redução das tensões em torno do Irã”.

Ele afirmou ainda: “apoiamos absolutamente a iniciativa, pois pode levar à desescalação das tensões em torno do Irã”. Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Lin Jian criticou os EUA: “como o país que saiu unilateralmente do acordo nuclear com o Irã e causou a situação atual, os Estados Unidos devem mostrar sinceridade política e respeito mútuo. Devem participar de diálogo e consulta, e ao mesmo tempo parar com a prática errada de usar a força para exercer pressão extrema”.

No mesmo dia, a câmara baixa do parlamento russo ratificou um pacto estratégico de 20 anos com o Irã, sinalizando laços militares mais profundos. A economia iraniana, abalada por sanções, mostrou sinais de alívio com a notícia das conversas.

O rial, que atingiu a mínima histórica de 1 milhão por dólar, recuperou-se para 990 mil na terça-feira (8), e a Bolsa de Teerã subiu 2%. Antes do JCPOA, o rial valia 32 mil por dólar, mas as sanções de Trump em 2018 devastaram as finanças do país.

Enquanto isso, os EUA intensificaram a pressão militar, enviando bombardeiros B-2 e o porta-aviões Carl Vinson à região, além de atacar os revolucionários do partido Ansar Alá no Iêmen, aliados do Irã, em uma campanha que já soma 50 ações desde janeiro, segundo o Pentágono.

O histórico de desconfiança marca as negociações. O Irã rejeitou conversas diretas após o assassinato do general Qassem Soleimani por um veículo aéreo não tripulado (VANT) dos EUA em 2020, ordenado por Trump. No jornal iraniano Kayhan, na edição do último sábado (5), foi publicada uma matéria que diz: “Trump será morto com vários tiros em sua cabeça vazia em vingança pelo sangue do mártir Soleimani”. Posteriormente, o texto foi classificado como sátira após advertência do governo iraniano.

O líder supremo iraniano Aiatolá Ali Khamenei, que recebeu uma carta de Trump em março propondo diálogo, criticou-o em fevereiro: “conversas não são inteligentes, sábias ou honradas” com esse governo. Já os europeus — Reino Unido, França e Alemanha —, signatários do JCPOA, devem decidir até julho se reimpõem sanções da ONU, suspensas em 2015, mas que expiram em 18 de outubro. Caso ativadas, o Irã ameaça deixar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o que pode levar a um ataque militar do país artificial “Israel” e dos EUA.

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