O Supremo Tribunal Federal (STF), instituição aclamada pela esquerda como “guardião da democracia”, deixa cada vez mais claro seu verdadeiro papel enquanto instrumento da reação contra qualquer forma de organização popular, de contestação política, de desafio da burguesia. Seu poder sem limites, que hoje muitos aplaudem por ser dirigido contra a extrema direita bolsonarista, é, na verdade, o prenúncio de uma ditadura judicial que se volta — e se voltará com ainda mais força — contra os trabalhadores.
Neste Diário, este fato é reforçado com cada vez mais frequência. A esquerda brasileira, no entanto, se recusa a ver a verdade diante de seus olhos e acusa qualquer um que vá contra as arbitrariedades do STF de bolsonarista, fascista etc.
Por esse motivo, trazemos, aqui, as palavras do mais novo maluco, bolsonarista e fascista: Leon Trótski.
Na época, na véspera do nazismo, Trótski caracterizou o caráter do regime alemão, após a social-democracia perder o controle do governo, como bonapartista, no sentido de que era um regime que governava acima do parlamento. Seria um bonapartismo pré-fascista, ou, como ele mesmo fala, bonapartismo da degeneração.
Trótski explica que o regime democrático, para se manter, precisa acabar com os mecanismos democráticos, sempre falando que isso está sendo feito
Para manter-se a si mesmo, o regime burguês tem que progressivamente liquidar-se por meio de leis de emergência e arbitrariedades administrativas. […] Essa auto liquidação da democracia, na luta contra a direita e a esquerda, leva ao bonapartismo da degeneração, que precisa tanto do perigo da esquerda quanto do perigo da direita para sua existência incerta, para jogar uma contra a outra e progressivamente elevar-se acima da sociedade e do parlamentarismo.
Leon Trótski em A burguesia democrática e a luta contra o fascismo, 1936.
Em termos atuais, podemos usar um exemplo bem simples. O STF fez um processo contra o PT, o Mensalão, e a direita aplaudiu, apoiou, falou que era a luta contra a corrupção. Depois, derrubam o governo democraticamente eleito de Dilma Rousseff. Por fim, colocam o Lula na prisão.
Pouco tempo depois, Bolsonaro chega ao governo. Agora, os mesmos que usaram a direita para atacar a esquerda, usam a esquerda para atacar a direita, como vemos no caso do processo contra o Bolsonaro e em todos os processos de censura que o STF tem feito pelo País.
O objetivo de tudo isso é, no fim das contas, elevar-se acima da sociedade e do parlamentarismo. No caso brasileiro, temos uma situação muito dramática. O STF faz o que quiser. É um poder monstruoso e totalmente descontrolado.
Nessa época acontecia também outro fato importante: os stalinistas e os socialistas franceses votaram pela dissolução de todas as organizações paramilitares armadas, de direita e de esquerda. Dirigente do partido comunista da época, Marcel Cachin afirmou que isso foi uma grande vitória e que, apesar de saber que em uma sociedade capitalista todas as leis podem ser usadas contra o proletariado, eles lutariam para que isso não acontecesse.
A essa consideração, Trótski responde que “a mentira aqui está na palavra ‘podem'”. Segundo o líder revolucionário, o que deveria ter sido dito para que uma consideração mais honesta é “nós sabemos que, a medida que a crise social se aprofunda, todas essas medidas serão usadas contra o proletariado com dez vezes mais intensidade”.
Finalmente, o líder destaca que a vanguarda dos trabalhadores não deve ela própria ajudar a construir uma ditadura de tipo bonapartista, o que seria “fornecer a ele [o bonapartista] as correntes que ele inevitavelmente usará” contra a esquerda e as organizações de luta dos operários.
A esquerda nacional, na sua maioria esmagadora, repete a mesma capitulação criminosa da esquerda francesa da época. Aplaude a censura, o arbítrio, a violação dos direitos democráticos, sob o pretexto de combater o “fascismo”. O que está sendo erguido com essas medidas de exceção, porém, é justamente o arcabouço repressivo que será usado, no momento oportuno, contra o próprio movimento operário e suas organizações. Quando a esquerda bate a porta na cara da verdade, esta dá um jeito de entrar pela janela — e quando o fizer, trará consigo uma violenta tempestade.