Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Coluna

Dois atos coxinhas e a histeria da esquerda pequeno-burguesa

Ato “contra o feminicídio” e ato “contra a bandidagem”: reacionários e pró-imperialistas

No último domingo, foram realizadas algumas manifestações “contra o feminicídio”.

Na semana que antecedeu esse ato, uma enxurrada de notícias, reportagens e denúncias sobre violência contra a mulher apareceu nos principais jornais e na TV, no horário nobre.

O objetivo da manifestação, apoiada entusiasticamente pelos mais poderosos meios de comunicação da burguesia, era o endurecimento de leis que, segundo a propaganda, iriam coibir o tal “feminicídio”.

Em suma, tirando todo o palavreado pseudo esquerdista e o falso argumento de que isso seria para proteger a mulher, trata-se de um ato para pedir o aumento da repressão contra o povo, mulheres ou homens. Um ato reacionário.

O que é espantoso é como a esquerda, assim como aconteceu no ato contra a “PEC da bandidagem”, deixa-se manipular totalmente pela propaganda da burguesia imperialista, interessada em aprovar políticas cada vez mais repressivas.

O método é tradicional da direita para movimentar a classe média: cria-se um clima de histeria, por meio de muita propaganda e muito sensacionalismo na imprensa, para justificar uma política repressiva e antidemocrática.

Que espetáculo grotesco ver uma boa parte da esquerda, no ato do mês passado, repetir as palavras de ordem, quase que literalmente, dos coxinhas que serviram de massa de manobra para dar o golpe de Estado no País contra Dilma Roussef.

“Bandidagem!”

“Corrupção!”

“Estão protegendo criminosos!”

“Querem tirar o poder da Polícia Federal!”

Eis os gritos histéricos do coxinha direitista que saiu nas ruas principalmente entre 2014 e 2016 e agora do esquerdista “democrata”.

Seria desnecessário falar que não há nenhuma coincidência nisso.

Faz menos de 10 anos que o governo do PT foi derrubado. Faz aproximadamente sete anos que Lula foi preso. Entretanto, a impressão que nos dá é que a esquerda nacional sequer viveu esse período, parece que a direção dos partidos de esquerda está constituída por crianças de 10, no máximo 14 anos.

Como sabemos que não são crianças, só podemos tirar a conclusão de que estamos diante de pessoas cujo oportunismo político e a capitulação diante da pressão do imperialismo se transformou na porta de entrada para a total manipulação política. A esquerda, que repetiu por anos que a direita seria “gado”, virou mero fantoche nas mãos de uma direita pró-imperialista.

Essa “coincidência” entre as palavras de ordem da direita coxinha e da esquerda pseudo-democrática atual só pode ser explicada por uma coisa: quem está levando adiante essa campanha, agora como antes, é a mesma classe social: a direita pró-imperialista.

O caso do deputado Glauber Braga do PSOL, vítima de um processo absurdo e antidemocrático, deveria para servir para mostrar para a esquerda qual o sentido dessa política. Esse é apenas um caso, mas já há muitos outros.

No entanto, a histeria de um lado e o oportunismo por outro parecem impedir que a esquerda chegue às conclusões corretas e que deveriam ser óbvias.

Por fim, voltando ao caso do “feminicídio”, uma coisa que prova toda a farsa é que enquanto o identitarismo ao mesmo tempo que diz defender a mulher, está promovendo uma verdadeira perseguição aberta ou velada contra as mulheres pela defesa dos trans. Nesse caso, um homem que virou mulher vale mais que uma mulher.

No final das contas, seja lá qual for a desculpa, o objetivo é aumentar a repressão e transformar a sociedade numa grande penitenciária.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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