EUA

Documentos revelam mais conexões da CIA com assassino de Kennedy

Documentos liberados recentemente mostram que o omite e manipula informações sobre o assassinato do presidente americano.

Novos documentos revelados por uma força-tarefa da Câmara dos Representantes dos EUA (equivalente à Câmara dos Deputados do Brasil) confirmam a ligação entre a CIA e o assassino de John F. Kennedy.

Durante mais de seis décadas, a CIA sustentou ter pouco ou nenhum conhecimento prévio sobre Lee Harvey Oswald antes do assassinato do presidente, em novembro de 1963. Os documentos agora revelados mostram que essa versão era falsa.

Os registros apontam que George Joannides, agente da CIA em Miami em 1963, financiava e supervisionava um grupo de estudantes cubanos contrários a Fidel Castro. Sua missão era coordenar operações de propaganda anticastrista e desestabilizar organizações pró-Cuba, apesar da proibição legal de ações de espionagem em solo americano.

Rolf Mowatt-Larssen, ex-oficial de contraespionagem da CIA que investigou o caso, declarou: “isso se parece muito com uma operação secreta da CIA”.

Segundo ele, uma hipótese plausível é que agentes dissidentes da CIA tenham tramado o assassinato sem conhecimento da cúpula da agência, e que a CIA encobriu os fatos não por envolvimento direto, mas para proteger segredos comprometedores daquele período. O descontentamento interno com Kennedy vinha desde a retirada de apoio à invasão da Baía dos Porcos, em 1961, e sua reaproximação com a União Soviética após a crise dos mísseis de 1962.

O grupo apoiado pela CIA, o Directorio Revolucionario Estudiantil (DRE), já conhecia Oswald, que fazia campanha pública em favor de Cuba. Três meses antes do assassinato, membros do DRE entraram em confronto físico com ele. Um integrante relatou que Oswald depois ofereceu ajuda, talvez como espião infiltrado em seu grupo pró-Castro, o Fair Play for Cuba Committee. A CIA negou por décadas qualquer relação com o DRE ou conhecimento do ativismo pró-Cuba de Oswald.

A força-tarefa da Câmara foi criada pelo Comitê de Supervisão para revisar ordens executivas dos mandatos de Donald Trump que exigiam a divulgação dos arquivos do assassinato. Após audiências realizadas no início do ano, a deputada Anna Paulina Luna (Partido Republicano, Flórida) pressionou a CIA por transparência. O esforço resultou na liberação de documentos que identificaram Joannides, antes conhecido apenas pelo codinome “Howard”.

Esse era o nome usado pelos membros do DRE para se referir ao contato da CIA em Miami. A CIA havia declarado tanto à Comissão Warren, em 1964, quanto à Comissão da Câmara sobre Assassinatos, em 1978, que “Howard” não existia. Em 1998, reafirmou não possuir registros sobre ele.

Documentos recém-divulgados mostram que Joannides obteve uma carteira de motorista falsa em Washington, D.C., com o nome “Howard Mark Gebler”.

A CIA condecorou Joannides em 1981 com uma medalha de mérito por sua atuação junto ao DRE e também por seu trabalho com a comissão de assassinatos da Câmara. A homenagem destaca sua função como vice-chefe do Departamento de Guerra Psicológica da CIA em Miami, em 1962, elogiando sua habilidade no trato com estudantes e professores exilados.

A Comissão Warren concluiu, em 1964, que Oswald agiu sozinho. Já a Comissão Especial da Câmara, criada em 1976, indicou que houve uma “provável conspiração”, mas sem conseguir identificar outros envolvidos.

Em 1978, a equipe da comissão acreditava estar avançando no acesso a arquivos da CIA, até que Joannides foi designado como novo contato da agência. Eles não sabiam que estavam lidando justamente com o homem no centro da investigação.

“Joannides mudou os protocolos de acesso aos arquivos”, declarou Dan Hardway, membro da equipe, em depoimento à força-tarefa. “A obstrução aumentou durante o verão de 1978. A CIA começou a revisar cuidadosamente os documentos antes de liberá-los.”

Após o lançamento do filme “JFK”, o Congresso criou, em 1994, o Conselho de Revisão de Registros de Assassinatos para retomar a investigação. Mais uma vez, a CIA respondeu com um memorando negando a existência de “Howard”.

“Meu memorando estava errado”, admitiu J. Barry Harrelson, ex-funcionário da CIA que o redigiu. Ele alegou não ter tido acesso ao arquivo de Joannides, embora o documento tenha sido entregue ao conselho. Morley, um dos principais pesquisadores do caso, afirmou que o conselho não percebeu sua importância por não encontrar referências a Oswald.

Harrelson também afirmou que “Howard” não constava no banco de pseudônimos registrados da CIA. Para Morley, isso demonstra que a operação de Joannides era extraoficial. Harrelson contestou: “ele tinha carteira de motorista pública, e os estudantes cubanos sabiam seu nome, embora não sua verdadeira identidade”.

O memorando de Harrelson também destaca que não há relatórios sobre a operação de Joannides durante os 17 meses em que atuou em Miami — um forte indício, segundo Morley, de que a operação era clandestina até mesmo dentro da CIA.

A busca por “Howard” começou nos anos 1990, quando Morley entrevistou ex-integrantes do DRE. José Antonio Lanuza, hoje com 86 anos, revelou ao jornal norte-americano Washington Post que “Howard” se comunicava apenas com o líder do DRE, Luis Fernandez Rocha, que então repassava suas instruções.

Documentos anteriores já mostravam que a CIA interceptava cartas de Oswald desde 1959, quando ele desertou para a União Soviética. Ao retornar em 1962 com esposa e filha, instalou-se em Dallas, e a vigilância continuou.

“Pelo menos 35 agentes da CIA lidaram com relatórios sobre Oswald entre 1959 e 1963”, disse Morley, incluindo ao menos dez que se reportavam diretamente ao chefe de contraespionagem James Angleton ou ao vice-diretor Richard Helms. Os arquivos cobriam desde sua deserção até sua atuação no Fair Play for Cuba Committee, cuja filial em Nova Orleans ele fundou em agosto de 1963.

Ao tornar pública sua militância, Oswald foi confrontado pelo DRE nas ruas de Nova Orleans. O episódio virou um debate transmitido por rádio, cuja gravação foi enviada a “Howard”, segundo registros do DRE.

Dias depois, Oswald teria se oferecido para colaborar com o grupo, segundo Lanuza. “Ele queria nos ajudar em treinamentos militares”, contou. Logo em seguida, enviou uma carta escrita à mão ao DRE. “Eram duas páginas. Um monte de reclamações. Ele dizia que estava disposto a ir a Miami ajudar. Tudo para construir uma lenda”, disse Lanuza, que arquivou o documento.

Lanuza acredita que Oswald queria espionar o próprio grupo pró-Castro, algo que a CIA já fazia com outros agentes. “Lee Harvey Oswald queria ser útil à CIA”, afirmou. “Ele dizia: ‘faço o que for preciso’.”

Três meses depois, ao saberem da prisão de Oswald, Lanuza e Rocha ligaram para Howard. Este os orientou a entregar a carta ao FBI e alertar a imprensa sobre as inclinações pró-Cuba de Oswald. O FBI recolheu a carta, prometeu devolvê-la — o que nunca ocorreu.

Lanuza procurou jornalistas, que divulgaram a ligação de Oswald com o grupo pró-Castro. Isso desmoralizou o Comitê Fair Play for Cuba, um resultado favorável para a CIA — e para Howard.

Pesquisadores sempre suspeitaram que Howard fosse Joannides, que morreu em 1990. A confirmação veio com a divulgação da carteira de motorista falsa, no dia 3 de julho.

Ao ser preso, Oswald declarou à imprensa: “sou um bode expiatório”. Muitos continuam sem acreditar na versão oficial de que ele agiu sozinho. “A CIA o vigiou por quatro anos”, disse Morley. “Ele não estava só.”

“O que Joannides fazia exatamente ao monitorar Oswald para a CIA?”, questionou Mowatt-Larssen. “Quem orquestrou isso usava os relatórios de Joannides para acompanhar Oswald. Estavam transformando a boa-fé dele em encobrimento para outros atiradores.”

“Estamos nos aproximando da verdade sobre Oswald e a CIA, mas ainda há mais a ser revelado”, afirmou o juiz federal John Tunheim, de Minneapolis, que presidiu o comitê de revisão dos assassinatos nos anos 1990. “As revelações sobre Joannides são muito importantes.”

Durante décadas, o envolvimento de George Joannides no caso Kennedy foi tratado apenas como uma suspeita sustentada por indícios fragmentados; agora, com a comprovação documental de sua identidade como o agente “Howard”, fica evidente que a CIA omitiu deliberadamente informações cruciais em diversas ocasiões. Essa constatação reforça a conclusão de que a agência agiu sistematicamente para sonegar dados fundamentais, impedindo que a verdade sobre o assassinato de John F. Kennedy fosse plenamente conhecida — não necessariamente por envolvimento direto no crime, mas para proteger operações encobertas e estruturas de poder comprometedoras.

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