HISTÓRIA DA PALESTINA

Do Congresso Nacional da Palestina ao governo de Gaza em 1948

Jamal al-Husseini atuou por décadas no movimento nacionalista em defesa da Palestina no início do século XX

Jamal al-Husseini foi uma figura central na luta nacional palestina durante o período do Mandato Britânico, destacando-se como um dos líderes mais influentes e ativos na defesa dos direitos do povo árabe da Palestina. Sua atuação política foi marcada pela busca da independência palestina e pela resistência ao projeto sionista de colonização da terra palestina.

Origem e formação

Nascido em Jerusalém, Jamal al-Husseini fazia parte de uma família tradicional da cidade. Era filho de Muhammad Salih e Zalikha Muhammad Salim al-Husseini, tendo sete irmãos e duas irmãs. Casou-se três vezes, sendo sua primeira esposa Ni‘mati al-Alami, com quem teve um filho, Hassan, e cinco filhas: Serene, Malak, Jumana, Wijdane e Hala. Sua segunda esposa, Hasna Bint Abdul Aziz al Faisal, lhe deu três filhos, Khaled, Muhammad e Nawwaf, além de duas filhas, Nawf e Haifa. Com sua terceira esposa, Méry Rappo, teve dois filhos, Jalal e Sari.

Sua educação básica e secundária ocorreu em Jerusalém, na Bishop Gobat’s School (Zion College), e em 1912 ingressou na Universidade Americana de Beirute para estudar medicina. Entretanto, com o início da Primeira Guerra Mundial, retornou a Jerusalém em 1914, interrompendo seus estudos.

Primeiros passos na política

Após a ocupação britânica da Palestina, Husseini foi nomeado secretário do Departamento de Saúde Pública em Jerusalém e, posteriormente, vice-comissário distrital em Nablus. Em 1920, abandonou seu cargo governamental e fundou um escritório de tradução, o que marcou o início de sua trajetória política. Em 1921, ingressou no movimento nacional palestino, sendo eleito secretário do Quarto Congresso Nacional da Palestina, realizado em Jerusalém. A partir de então, consolidou-se como uma figura essencial na luta contra o domínio britânico e a colonização sionista, participando de todos os congressos subsequentes até o último, realizado em 1928.

Em 1930, fez parte da delegação do Comitê Executivo Árabe que negociou com o governo britânico em Londres, buscando soluções para a repressão e o avanço colonial na Palestina. No mesmo ano, esteve entre os organizadores da Grande Conferência Árabe, realizada em Nablus, em protesto contra a repressão aos manifestantes que se opunham ao armamento dos colonos judeus. Em dezembro daquele ano, participou do Congresso Pan-Islâmico em Jerusalém, que tinha como objetivo a defesa dos santuários muçulmanos contra as ambições sionistas.

Resistência e prisão

Em 1932, al-Husseini integrou o Comitê Superior do Fundo Nacional, que mais tarde se tornaria a Companhia Árabe para a Salvação da Terra da Palestina. A resistência à colonização e às políticas britânicas o levou à organização de manifestações de massa, como as realizadas em Jerusalém e Jafa, em outubro de 1933. O resultado foi sua prisão pelas autoridades britânicas, sendo condenado a dez meses de trabalhos forçados na prisão de Acre. Apesar disso, foi libertado após breve período, juntamente com outros líderes nacionalistas.

Em 1935, fundou o Partido Árabe Palestino, do qual se tornou líder. O partido defendia a independência palestina, a preservação do caráter árabe da região e a união com os países árabes vizinhos, além de combater a criação de um Estado judeu na Palestina. Durante a Grande Greve de 1936, Husseini integrou o Comitê Árabe Superior, liderado por Haj Amin al-Husseini, com quem manteve estreita colaboração.

Exílio e perseguição

Em 1937, após a repressão britânica à liderança nacionalista, al-Husseini refugiou-se no Líbano e participou da Conferência Pan-Árabe de Bludan, na Síria, onde denunciou os perigos do plano de partilha proposto pela Comissão Peel. No contexto da Segunda Guerra Mundial, mudou-se para o Iraque e, após o fracasso da rebelião anti-britânica liderada por Rashid Ali al-Kailani em 1941, buscou refúgio no Irã. Entretanto, foi capturado pelas forças britânicas e deportado para um campo de prisioneiros na Rodésia, onde permaneceu por quatro anos.

Retorno e liderança em Gaza

Liberado em 1946, retornou à Palestina e reassumiu seu papel político, sendo eleito vice-presidente do Comitê Árabe Superior, substituindo Haj Amin al-Husseini, exilado. Em 1947, representou a Palestina na Conferência de Londres, alertando sobre as consequências catastróficas da criação de um Estado judeu para todo o Oriente Médio.

Com a derrota árabe na guerra de 1948 e a criação do Estado de “Israel”, Husseini se uniu ao governo palestino formado em Gaza, sob a liderança de Ahmad Hilmi Abd al-Baqi. A administração de Gaza tornou-se um símbolo de resistência frente ao novo quadro geopolítico imposto pela Nakba, que resultou na expulsão e no massacre de centenas de milhares de palestinos.

Exílio final e legado

Após a derrota palestina, al-Husseini exilou-se na Arábia Saudita, onde atuou como conselheiro do rei Saud e se dedicou a atividades empresariais. Apesar do afastamento físico da Palestina, manteve-se ativo politicamente e nunca abandonou a causa palestina. Em 1990, foi agraciado com a Medalha de Jerusalém para Cultura, Artes e Literatura pela OLP, em reconhecimento à sua luta e contribuição histórica.

Jamal al-Husseini faleceu em Riade, onde foi enterrado.

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