Esquerda brasileira

Ditos trotskistas se unem ao imperialismo para criticar Trump

Situação de quase guerra interna na burguesia deveria ser um motivo para os militantes revolucionários celebrarem, mas alguns preferem lamentar com o imperialismo

O órgão de imprensa do MRT, o sítio Esquerda Diário, conseguiu a incrível façanha defender exatamente a mesma posição do imperialismo no artigo Quem paga a conta? A escalada tarifária de Trump e a resposta da China: consequências brutais para os trabalhadores, atacando (naturalmente) a política tarifária do mandatário norte-americano, destacando que o “tarifaço” de Trump “deve atingir duramente a classe trabalhadora em escala global”. Veja a pérola:

“Apesar do discurso de proteção à classe trabalhadora, os maiores prejudicados por essa guerra comercial serão justamente os trabalhadores de todo o mundo. Segundo a agência Moody’s (grifo nosso), a política de tarifas pode eliminar 5,5 milhões de empregos nos EUA, aumentar o desemprego para 7% e reduzir o PIB em 1,7%.”

Em primeiro lugar, a política de substituição de importações foi uma das grandes impulsionadoras do desenvolvimento industrial do Brasil, sendo, portanto, um método com sucesso atestado pela história na tarefa de repatriar a indústria. Porque nos EUA teriam um resultado diferente? Porque uma empresa de crédito ligada ao imperialismo disse que não. Eis o MRT escancarando para o mundo como a organização de fato se orienta.

O artigo não se dá ao trabalho de desmentir a lição histórica argumentando. Simplesmente dá de barato que a agência Moody’s sabe o que está dizendo e usa as considerações da financeira para dizer que os trabalhadores não se beneficiarão. Curiosamente, a mesma coisa defendida pelo imperialismo.

“A adesão de parte das lideranças sindicais dos EUA, como o sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística (UAW), às medidas de Trump é alarmante. Embora apresentadas como uma resposta à desindustrialização, essas lideranças não mencionam os milhares de empregos perdidos dentro dos próprios EUA, por conta da subcontratação e do aumento da produtividade nas fábricas.”

Ainda claramente orientados pelo imperialismo, o MRT considera “alarmante” que o sindicato dos trabalhadores das montadoras apoie a medida, que deve beneficiar, principalmente, a geração de empregos na indústria automobilística. A UAW teria de ser dirigida por pessoas tão desconectadas dos interesses dos trabalhadores quanto o MRT para atacar uma política orientada a retomar a produção fabril em escala no país, o que felizmente, para os sindicalistas norte-americanos, não é o caso.

Finalmente, coroando a demonstração da submissão política do MRT ao imperialismo, o artigo traz a seguinte conclusão:

“Apesar de o governo Trump ter apelidado a iniciativa de ‘Dia da Libertação’, o otimismo da Casa Branca contrasta com o alerta de analistas e mercados. O Wall Street Journal, porta-voz dos interesses financeiros dos EUA, chamou essa política de ‘a guerra comercial mais estúpida da história’. Muitos setores da elite norte-americana temem que essas tarifas acelerem o declínio da hegemonia global dos EUA.”

Que o Wall Street Journal esteja preocupado com “declínio da hegemonia global [leia-se, ditadura mundial] dos EUA”, é compreensível, afinal, como Esquerda Diário reconhece, trata-se de um jornal dedicado a expressar as posições dos banqueiros norte-americanos. É esperado também que o imperialismo “tema” o resultado da política porque são os interesses imperialistas que estão sob ataque. O espantoso é ver o MRT reforçando sua aliança com o imperialismo, compartilhando do “temor” da ditadura mundial com os efeitos do tarifaço de Trump.

Segundo León Trótsky, uma das características da situação revolucionária é que a classe dominante “incapaz de salvar seu sistema, perde confiança em si mesma, começa a se desintegrar, divide-se em frações e camarilhas”. A situação de quase guerra interna na burguesia, portanto, deveria ser um motivo para os militantes revolucionários celebrarem, cientes de que uma etapa de crise no imperialismo se aproxima. Não é o que faz o MRT, que longe de celebrar a crise, a lamenta, com seus aliados políticos na Moody’s e no Wall Street Journal.

Claramente, a “elite norte-americana” não é a única que teme a aceleração do “declínio da hegemonia global dos EUA”. Por seus posicionamentos absurdamente estranhos a uma organização dita trotskista, o MRT também teme que a política de Trump aprofunde a crise imperialista, algo muito negativo para os monopólios mundiais. Excelente para acelerar também a luta pela libertação da classe operária, porém péssimo para os responsáveis por sustentar o capitalismo.

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