História

As ditaduras criadas pelo imperialismo ‘democrático’ – Parte 2

Golpe contra Getúlio Vargas levou a governo completamente servil ao imperialismo

O dia 2 de setembro de 1945 é reconhecido como a data final da Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939. A Itália já havia se rendido no ano anterior. A Alemanha, no mês de maio. Despejando duas bombas atômicas — a única vez em toda a história humana em que tais armas foram disparadas contra civis —, os Estados Unidos obtiveram, enfim, a rendição formal do Japão. O presidente norte-americano naquela época era Harry S. Truman, do Partido Democrata.

Diante da grande crise mundial, o ano de 1945 foi marcado por revoluções, como na Albânia, e golpes militares nacionalistas, como na Venezuela. O imperialismo, após o acerto de contas entre os seus membros, estava enfraquecido. Apesar disso, já no ano final da Segunda Guerra, o imperialismo organizou golpes de Estado, como parte da reorganização da ordem mundial. O mais importante deles aconteceu no Brasil.

O País vivia sob 15 anos do mais importante presidente de toda a história da República — Getúlio Dornelles Vargas. Comandante da Revolução de 1930, que pôs fim à dominação das oligarquias agrárias e abriu caminho para um grande desenvolvimento industrial, Vargas estabeleceria, em 1937, uma ditadura militar, conhecida como Estado Novo. Era uma ditadura brutal, que foi caracterizada por Leon Trótski como uma ditadura “semifascista”.

Getúlio Vargas fechou o Congresso Nacional, cancelou as eleições, proibiu partidos políticos e estabeleceu a Constituição do Estado Novo. Não havia liberdade de imprensa, de organização ou de crítica: o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) cuidava de censurar jornais, perseguir intelectuais e construir uma imagem oficial do regime. A ditadura de Vargas mandou prender, torturar e exilar adversários políticos — principalmente socialistas e sindicalistas. O caso mais conhecido foi o da militante alemã Olga Benário Prestes, companheira de Luiz Carlos Prestes, que foi deportada grávida para a Alemanha nazista, onde morreu em um campo de concentração. A repressão era organizada por órgãos como o DOPS e a polícia política.

Ainda que a ditadura militar de Vargas tivesse um caráter profundamente reacionário, mudanças econômicas muito importantes aconteciam no País. A substituição de importações, causada pela destruição das economias dos países imperialistas, possibilitou um rápido crescimento da indústria brasileira e permitiu que a burguesia brasileira buscasse uma posição de relativa independência. Essa situação fez com que Vargas, por exemplo, buscasse acordos como o que culminou na fundação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Acordos como este só foram possíveis porque o imperialismo estava em uma situação difícil. Ainda assim, eram vistos como uma ameaça pelos Estados Unidos. Especialmente para uma figura como Vargas, que, apesar da impopularidade do Estado Novo, era um líder nacional.

Um dos aspectos mais marcantes dessa mudança está na reaproximação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) com Vargas. Ainda que, por parte do PCB, isso seja resultado da política totalmente desastrosa da burocracia stalinista, que propunha a aliança com partidos burgueses, por outro, mostrava uma mudança na política varguista. Em 1945, Vargas legaliza o PCB e anistia vários presos políticos, incluindo Luiz Carlos Prestes. O PCB, por sua vez, apoia a candidatura de Vargas.

O governo Vargas, portanto, evoluía claramente no sentido oposto aos interesses norte-americanos. Evoluía no sentido de fortalecer uma burguesia nacional poderosa, no maior país da América Latina. O governo de Vargas de 1950 a 1954, que só aconteceu por causa da mobilização popular, mostrou que a preocupação do imperialismo estava correta: Vargas, neste período, tomou várias iniciativas que marcam o País até hoje, como a criação da Petrobrás.

Vislumbrando este desenvolvimento, o imperialismo decide derrubar Vargas em 1945. Embora estivesse comprometido com o fim do Estado Novo, Vargas iria concorrer às eleições daquele ano. No entanto, o imperialismo se antecipou.

A derrubada de Vargas aconteceu em 29 de outubro de 1945, apenas dois meses após o fim da guerra e poucos dias antes das eleições marcadas para dezembro. O estopim imediato foi a demissão do então ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, que se voltaria contra Vargas e encabeçaria sua derrubada — assumindo logo depois a presidência com apoio dos setores conservadores e da embaixada dos Estados Unidos.

Embora não tenha sido um golpe militar clássico, com tanques nas ruas e fechamento do Congresso, foi, sem dúvida, uma ruptura institucional forçada, planejada para impedir que Vargas se legitimasse nas urnas e desse continuidade a um projeto nacional de industrialização com relativa soberania frente ao capital estrangeiro.

O traidor Dutra governou por quatro anos como um capacho dos norte-americanos e fez retroceder a política nacionalista varguista. Dutra rompeu relações diplomáticas com a União Soviética, alinhou-se à doutrina Truman na Guerra Fria, aderiu ao Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), permitindo a consolidação da América Latina como zona de influência exclusiva dos Estados Unidos. Internamente, promoveu uma abertura econômica criminosa, com a liberação generalizada das importações, o que levou à rápida destruição de reservas cambiais acumuladas durante a guerra — estimadas em mais de US$700 milhões, esgotadas em menos de dois anos. O resultado foi a paralisia do setor industrial, que já começava a se estruturar, e o retorno da dependência externa.

Do ponto de vista político, seu governo reprimiu duramente qualquer oposição popular e organizou uma verdadeira caça aos comunistas, proibindo greves, perseguindo lideranças sindicais e reintroduzindo a censura. O PCB foi colocado na ilegalidade em 1947, seus parlamentares tiveram os mandatos cassados, e centenas de militantes foram presos.

Gostou do artigo? Faça uma doação!