Segundo matéria publicada pelo jornal A Nova Democracia (AND) em 14 de abril, ao menos 26 camponeses foram presos pela Polícia Militar de Rondônia em uma megaoperação realizada no acampamento São Francisco, na região de Nova Mutum, em Porto Velho. Entre os detidos, estava uma mulher grávida.
“A ofensiva reacionária teve início ao meio-dia sem qualquer ordem de reintegração de posse e contou com mais de seis viaturas, um helicóptero e mais de 20 policiais”, informou o jornal. “Segundo os camponeses, latifundiários acompanharam a operação e deram ordens sobre quem deveria ser preso e quais itens deveriam ser levados pelos policiais”.
Ainda de acordo com a reportagem, os camponeses denunciaram a ausência de representantes da assistência social e do corpo de bombeiros no local, “apesar do local ser habitado por crianças e mulheres”. A matéria destaca que as prisões foram realizadas de maneira arbitrária, inclusive com casos de pessoas detidas longe do acampamento.
Um dos presos afirmou que se encontrava em seu sítio quando foi abordado e levado à força até o acampamento, onde foi acusado de ser uma das lideranças locais. “Ao ser liberado, o camponês foi proibido de retornar à sua propriedade onde trabalhava criando gado e outras plantações, que necessitam de manutenção constante”, relatou o jornal.
A publicação também informa que um motorista de ônibus escolar que trabalhava na região foi preso sob acusação de “esbulho e de posse de armas”.
“Muitas prisões foram feitas na entrada do acampamento. Os policiais apontavam as armas para os camponeses e prendiam todos que eles achassem que tinham ‘cara de sem terra’.”
Os camponeses detidos foram levados inicialmente para o quartel do Distrito Nova Mutum e, posteriormente, transferidos para a Central de Flagrantes após a intervenção de uma advogada da Associação Brasileira de Advogados do Povo – Gabriel Pimenta (Abrapo). Na ocasião, segundo o jornal, os camponeses relataram “ter sido agredidos, ameaçados e que seus pertences foram revirados”.
No sábado, os prisioneiros foram transferidos para o presídio Urso Branco e libertados no domingo. Três deles foram obrigados a usar tornozeleiras eletrônicas e proibidos de circular em suas próprias propriedades. A mulher grávida foi enviada à Casa de Detenção Feminina e também libertada no domingo. Foram ainda apreendidos “motos, carros e celulares”, segundo o jornal.
A denúncia mais grave, porém, diz respeito ao tratamento das mulheres durante a operação. De acordo com a matéria, “vários policiais militares continuaram no acampamento e, antes de destruírem as casas das famílias, obrigaram as mulheres camponesas a cozinhar para os militares”.
Ainda conforme AND, os camponeses afirmam que os latifundiários responsáveis pelo ataque “não são sequer da região”, o que reforça uma prática comum no Norte e no Nordeste do País, onde proprietários de terras de outras regiões organizam ações contra trabalhadores do campo.
“Em RO, essa atuação contra a luta pela terra tem atingido níveis cada vez mais violentos”, afirma o jornal, que relembra os ataques recentes em Machadinho D’Oeste, realizados pelo grupo paramilitar “Invasão Zero”. Segundo o portal Resistência Camponesa, esses ataques estariam ligados ao pistoleiro Gesulino Cesar Travagine Castro, acusado de liderar a Chacina de Buritis.
O mesmo portal denunciou que Gesulino “gravou e postou um vídeo destruindo parte da área Gedeon e outro em que se vangloria de uma cerca construída em uma parte da área a qual ele roubou”. Um dos pistoleiros envolvidos teria baleado um camponês no dia 31 de março, e seu veículo foi posteriormente visto junto a viaturas policiais, segundo a denúncia.