O regime bonapartista de Daniel Noboa, um dos sustentáculos do imperialismo na América Latina, ampliou a ofensiva judicial contra a oposição no Equador. O ex-presidente Rafael Correa denunciou abertamente uma “perseguição evidente”, articulada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e pelo Tribunal Contencioso Eleitoral (TCE), contra Luisa González, presidenta da Revolución Ciudadana (RC), e toda a direção do movimento.
Em publicação datada de 1º de dezembro de 2025, Correa expôs o mecanismo utilizado para atacar a oposição: “uma presidenta desonesta e vendida do CNE denuncia a principal opositora de seu patrão, e a denúncia é aceita por um juiz suplente do TCE, outra sucursal de Carondelet”. A ação, admitida pelo juiz Richard González, acusa a RC de violar o artigo 281 da lei eleitoral devido a supostas falhas nos informes detalhados de contas da campanha antecipada de 2023 (origem, montante e natureza dos fundos) sob risco de multas pesadas e suspensão de direitos políticos por dois a quatro anos. O objetivo é inabilitar González, Karina Zambrano (responsável financeira), Francisco Hidalgo (coordenador de campanha), Pierina Correa (irmã de Rafael) e diversos candidatos a assembleístas nacionais. A audiência única de apresentação de provas e alegações está marcada para 7 de janeiro de 2026. Paralelamente, outra denúncia apresentada por Diana Atamaint mira diretamente o binômio González-Arauz nas eleições de 2023, aprofundando a perseguição ao correísmo.
Sobre esta nova ação, Correa ironizou o “chiste” da operação, contrastando-a com a impunidade de Noboa, que “rouba 70 milhões de dólares com uma lei inconstitucional e nada acontece”. O ex-presidente enviou um “abraço solidário a Luisa e a todos os companheiros perseguidos pelas mafiosas ‘autoridades’ eleitorais, recadeiras de Carondelet”.
A comparação com o que acontece no Brasil e no resto da América Latina é inevitável: o Judiciário equatoriano, que tolera o saque das transnacionais e reprime a esquerda contrária às políticas neoliberais de privatizações, às bases militares imperialistas e à repressão contra trabalhadores, guarda estreita semelhança com o Judiciário brasileiro, que age da mesma maneira e ainda conta com o apoio de setores da esquerda pequeno-burguesa.
Desde o golpe de 2017, articulado por Lenín Moreno com o apoio da direita pró-imperialista e da DEA, Rafael Correa vive exilado na Bélgica, alvo de uma perseguição judicial furiosa, com dezenas de processos fabricados – entre eles, o caso Sobornos (oito anos de prisão e inabilitação por 25 anos) e as acusações de sequestro de Balda e Rebelião -, todos sem provas concretas e concebidos para banir o líder da “Década Vencedora” da vida política equatoriana.
O imperialismo também conseguiu, igualmente sem provas, condenar seu vice-presidente Jorge Glas em múltiplos processos: Odebrecht, Singue, Reconstrução de Manabí (mais 13 anos em 2025), além de prisões arbitrárias, revogações de habeas corpus e até a invasão da embaixada mexicana em Quito por ordens de Noboa, em violação flagrante do direito internacional.
Nas eleições antecipadas de 2023, convocadas após o impeachment de Guillermo Lasso em meio a paralisações populares, Noboa, herdeiro da burguesia e aliado servil do imperialismo, impôs-se sobre González-Arauz no segundo turno em meio a estado de sítio, com 600 prisões políticas, denúncias de fraude eleitoral e repressão, incluindo ações contra “observadores internacionais”, que os órgãos imperialistas costumam tratar como figuras sagradas quando desejam atacar governos populares como o da Venezuela. Reeleito em 2025 sob procedimento semelhante, Noboa aprofunda a política neoliberal e a entrega do país: referendo rejeitado por ampla maioria popular, greves de 31 dias contra a carestia e a repressão e, agora, este ataque direto à RC, destinado a impedir qualquer resistência popular.





