O artigo A República dos Homens Toscos ou os novos trogloditas, de Alfredo Attié, publicado no Brasil247 nesta quarta-feira (10), expõe, além da truculência da direita, as contradições e a enrascada em que a maioria da esquerda se meteu ao defender a cassação de parlamentares de direita, bem como do cerceamento da liberdade de expressão, levado adiante pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Attié inicia seu texto dizendo que, “antes de fazer um discurso digno do velho Conselheiro Acácio – personagem célebre de Eça de Queiroz, que se comprazia em proferir coisas óbvias com ar de solenidade –, exaltando a ‘Cadeira da República,’ Hugo Motta havia determinado que fossem expulsos do recinto da Câmara dos Deputados, nessa ordem, os jornalistas e o Deputado Glauber Braga. O corpo policial legislativo havia sido chamado para realizar, custasse o que custasse, em termos de violência verbal e física, a evacuação do plenário e das galerias. As cenas de grave atentado contra a democracia, a dignidade parlamentar, a livre expressão e a liberdade de informação, o direito de resistência e a Constituição”.
Por falar em ‘Cadeira da República’, vivemos em um país onde cadeiras viraram coisas sagradas. A esquerda pequeno-burguesa aplaudiu quando um mecânico, Fábio Alexandre de Oliveira, foi condenado a 17 anos de cadeia por se sentar na cadeira (ou seria no trono?) do ministro Alexandre de Moraes. Portanto, a cadeira de Hugo Motta, se a esquerda quer manter a coerência, deve tratá-la do mesmo jeito.
Ditadura
A truculência de Hugo Motta foi flagrante. As luzes foram apagadas no recinto, a transmissão da TV Câmara foi interrompida, jornalistas foram retirados. Se isso não for uma ditadura, o que seria? Portanto, fica aqui uma pequena amostra da realidade para aqueles que acreditavam que a prisão de Jair Bolsonaro e alguns generais de pijama estariam consolidando a democracia no Brasil.
Como o texto denuncia, “na filmagem amadora de um dos parlamentares é, de fato, possível ouvir de alguém a afirmação de que a expulsão se dava sem que fosse precedida sequer de diálogo, isto é, uma negociação simples, para entender a reivindicação de Braga e convencê-lo de que o processo que estava pautado, de decisão sobre sua cassação, seria, ao menos, justo, com a garantia de seus direitos. E, sobretudo, afastar a aproximação de seu caso ao de Carla Zambelli, cuja cassação deveria ter ocorrido, em decisão automática da Mesa da Câmara”. Nota-se aqui que, no entanto, Attié é a favor da cassação de parlamentares.
Apenas o povo deveria ter o direito de revogar o mandato daqueles que elegeu. Não outros deputados, na maioria das vezes cassando seus adversários. Com a direita dominando o Congresso, não vai sobrar um único deputado de esquerda no parlamento.
Adiante, Alfredo Attié escreve que “Hugo Motta não quis ouvir o parlamentar, nem lhe deu as mais de quarenta e oito horas que concedera a outros congressistas – até hoje impunes – que invadiram a Câmara, tomaram sua Mesa e impediram que os trabalhos do ano legislativo de 2025 se iniciassem”. Por que esses deputados deveriam ser punidos? Pelo fato de serem de direita? A esquerda também já tomou a mesa em outras ocasiões, faz parte do jogo.
Ao reclamar que determinados parlamentares continuam impunes, Attié concorda com a punição, menos, é claro, no caso de Glauber Braga. Ocorre que a vida não é assim. Aliás, como este Diário já disse em mais de uma oportunidade, a eventual truculência que for aplicada contra a direita, virá cem vez mais forte contra a esquerda. É cavar a própria cova, portanto, apoiar as medidas autoritárias do Estado e de suas instituições.
Violação de direitos
Attié elenca acertadamente que “três atos gravemente ilícitos foram cometidos: a) a expulsão, violência e linguagem grosseira contra jornalistas; b) a agressão a deputados; c) a permanência da sessão, malgrado a informação de que deputados estariam impedidos de comparecer, em decorrência das agressões”.
No parágrafo seguinte, escreve que “para a Constituição Cidadã, a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não podem sofrer qualquer restrição, sendo proibida toda e qualquer censura de natureza política ou ideológica (artigo 220 e seu § 2º)”. Mas o que a esquerda tem feito sobre esse assunto?
Quando denunciamos que o STF estava agindo contra a Constituição ao cercear a livre expressão de pensamento, fomos acusados pela maioria da esquerda de sermos fascistas, de defendermos bandidos e crimes. E agora, quem tinha razão?
Somente uma gente ingênua, ou mal-intencionada, pode sustentar que a liberdade de expressão seja algo negativo. Alertamos, e eis o resultado. A maioria da esquerda tem parte nisso, não adianta querer tirar o corpo fora. Para nós, Glauber Braga estava apenas exercendo seu direito de se manifestar, e esse direito deve ser estendido a todos, pois quando apenas alguns têm determinado direito, isso passa ser um privilégio.
Como escreve o articulista, “o Regimento Interno da Câmara dos Deputados refere nos limites das atribuições do Presidente da Câmara, especificando que lhe cabe tão somente ‘convidar o Deputado a retirar-se do recinto do Plenário, quando perturbar a ordem’ (alínea i do inciso I do artigo 17), jamais expulsá-lo, ainda mais com uso de violência”. E completa que teria sido um “dia fatídico para a democracia brasileira”. Que democracia?
Vivemos em uma ditadura judiciária que está se consolidando com o auxílio da maioria da esquerda, que aplaude todo tipo de arbitrariedade. Infelizmente, ninguém vai esperar que essa gente acorde e perceba o erro que vem cometendo. E mais, que mude de conduta, que saia do buraco em que se meteu.





