Os líderes da oposição venezuelana, Edmundo González Urrutia e María Corina Machado, anunciaram, nesta segunda-feira, 22, apoio ao destacamento militar dos Estados Unidos no Caribe — movimento que o governo de Nicolás Maduro classificou como “ameaça”. A posição revela de forma explícita a disposição de setores opositores em recorrer ao intervencionismo estrangeiro contra o próprio país.
Há quase um mês, os EUA posicionaram oito navios e um submarino no mar do Caribe, sob o argumento de combater o narcotráfico. Até agora, ao menos três embarcações que teriam saído da Venezuela foram atacadas, deixando 14 mortos. Caracas denunciou a ação como “agressão” e “ameaça militar”. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, foi categórico ao afirmar que se trata de uma “guerra não declarada”.
Ainda assim, González Urrutia exaltou as operações norte-americanas como uma “medida necessária” para desmantelar supostas estruturas criminosas e abrir caminho para um novo governo, em vídeo divulgado nas redes sociais. Ao lado de Machado, dirigiu-se à Assembleia Geral da ONU defendendo que “ao povo da Venezuela (…) não resta outra opção a não ser forçar a saída de tal regime”. González encontra-se exilado na Espanha após ordem de prisão, enquanto Machado está na clandestinidade acusada de conspirações golpistas.
Em contraste, outras figuras da oposição recusaram apoiar a aventura pró-imperialista. Na sexta-feira, Henrique Capriles, duas vezes candidato à presidência, declarou à imprensa que não sustenta uma eventual intervenção militar americana, em meio ao clima de tensão provocado pela presença de navios de guerra no Caribe.
No sábado, 23 de agosto, diversas lideranças regionais e nacionais da oposição manifestaram-se contra a ingerência dos EUA, afirmando que nenhum país estrangeiro pode substituir a vontade do povo venezuelano. Em comunicado lido pelo governador de Cojedes, José Alberto Galíndez, prefeitos, legisladores e líderes comunitários condenaram as políticas que estimulam sanções, repressão ou intervenção militar, advertindo que não trarão soluções duradouras para o país.
“Rejeitamos qualquer tentativa de ingerência que afete nossa soberania e nosso direito de decidir livremente nosso futuro”, dizia o texto. Capriles reforçou em suas redes sociais a rejeição a “toda ação de força contra a Venezuela”, defendendo diálogo e negociação. Stalin González também reiterou que “soberania com democracia é o caminho”, convocando unidade e paz.
Já o deputado José Brito atacou diretamente setores opositores que endossam ou silenciam diante dos apelos por intervenção. Em entrevista à VTV, acusou-os de agir como porta-vozes do Departamento de Estado dos EUA e de enfraquecer as bases democráticas. Brito denunciou ainda a campanha internacional que rotula a Venezuela de “narcoestado” como um mecanismo de “psicoterror” para legitimar agressões externas. Também criticou jornalistas e figuras que “imploram” por intervenção, alertando que tais práticas desprezam a dor e o risco que provocam ao povo.
Brito concluiu afirmando que “diante de um cenário de intervenção, não há cores que nos distingam, porque a Venezuela está em primeiro lugar”, convocando todos a defender a soberania. Nesse contexto, venezuelanos reafirmaram o compromisso do país como Zona de Paz, conforme a Declaração aprovada pela CELAC em 2014 em Havana, que obriga os Estados a respeitar a não intervenção e a autodeterminação dos povos.
Enquanto a ala golpista da oposição legitima a invasão estrangeira, o governo venezuelano convoca o povo a defender a pátria. De forma massiva, cidadãos atenderam ao chamado do presidente Nicolás Maduro para se alistar na Milícia Bolivariana, fortalecendo a organização popular e militar.
O movimento ressalta o papel das comunas, conselhos comunitários, juventude e FANB, reafirmando que os venezuelanos mantêm o controle sobre seu destino e não se submetem a pressões externas. O alistamento integra o Grande Plano Nacional de Soberania e Paz Simón Bolívar. Através de sua conta no Telegram, Maduro, como comandante em chefe da FANB, instou a população a se apresentar nas Praças Bolívar e unidades militares locais, ocupando “a primeira fila da defesa da soberania e da paz nacional”.





