O anúncio do afrouxamento da censura na Meta, empresa que controla redes sociais como Facebook, Instagram e WhatsApp, feita pelo seu dono, Mark Zuckerberg, tem provocado uma enorme onda ultrarreacionária, beirando a histeria, em grande parte da esquerda pequeno-burguesa. Temos mais um exemplo dessa direitização no artigo “Quem ganha e quem mais perde com uma ‘terra sem lei’ na internet?”, publicado no sítio Esquerda Online nesta sexta-feira (10).
Devemos dizer, de início, que a Internet pode ser tudo, menos uma “terra sem lei”, este é exatamente o argumento que a burguesia tem usado, desde sempre, para implementar restrições cada vez mais duras para controlar esse meio de comunicação.
O imperialismo já havia monopolizado a informação por meio da grande imprensa. Com o advento da Internet, a informação se popularizou, foi democratizada. Foi isso que motivou os governos a utilizarem seus serviços secretos, polícias e forças armadas e judiciários para controlarem as redes. Até ontem, como o proprietário da empresa confessou, a Meta era controlada diretamente pela CIA e pelo FBI. A Esquerda Online, pelo visto, tem saudade desses tempos ‘gloriosos’, pois diz chorando sangue que “na última terça-feira, o anúncio dado pelo bilionário da tecnologia Mark Zuckerberg caiu como uma bomba no noticiário”.
Democracia x Fascismo
O truque dessa esquerda, para defender sua posição reacionária, é jogar com o medo apresentando uma terrível ameaça, como fazia a Igreja durante a Inquisição. A imprensa foi um alvo natural do Santo Ofício, que via o perigo de disseminação de determinadas ideias, por isso confiscaram livros de filósofos e o Iluminismo foi considerado subversivo. Os demônios de hoje, uma espécie de Santíssima Trindade às avessas, são o fascismo, as fake news e o discurso de ódio.
No texto é feito uma espécie de prognóstico para o futuro com a nova política da Meta: “seria um ‘efeito Trump’, que pode ser uma associação tática ou estratégica de Zuckerberg; (aumento) do volume e os efeitos das fake news – a ameaça para as democracias; e setores oprimidos seriam imediatamente atingidos, como mulheres, LGBTI+, negros e imigrantes, com o crescimento do discurso de ódio”. Como acabamos de ver, o mundo vai mergulhar em um verdadeiro inferno.
A esquerda pequeno-burguesa, como o texto revela, passou a defender não o socialismo, mas as “democracias”. Quais seriam as tais democracias?: Estados Unidos sob a presidência de Joe Biden, a Alemanha, a França, a Itália, o Reino Unido… justamente quem tem apoiado, financiado e participado do genocídio em Gaza; que tem financiado terroristas na Síria e em diversos países na África. Os países que promovem golpes, bloqueios econômicos contra países pobres é que são as supostas democracias ameaçadas.
O EO avalia “que o movimento de Zuckerberg faz parte de uma orientação de classe, mais precisamente dos grupos econômicos financeiros das gigantes da tecnologia”. Sim, é isso, a Meta perdeu usuários para o X, onde existe mais liberdade de expressão, e os quer recuperar para poder lucrar mais. Isso, no entanto, não impede que quem utiliza as redes sociais seja beneficiado.
No texto, “falam do peso das redes sociais hoje nas decisões políticas em diferentes países, sendo, em muitos casos, definidor para vitórias e derrotas. Particularmente: para crescimento e manutenção da extrema direita fascista e a corrosão dos regimes democrático-liberais”. Mas isso vale para a grande imprensa. O que fizeram até hoje, e fazem, a Globo, Estadão, Folha, Revista Veja etc? Tudo antes de haver redes sociais que, na verdade, até atrapalham o monopólio e influência dessas grandes empresas de comunicação.
Os crimes
O texto é uma verdadeira lista de catástrofes para colocar medo nos leitores. O medo, como sabemos, é o que a direita, e também a extrema direita, mais utilizam para impor sua ideologia reacionária. Segundo o texto, por exemplo, “haverá uma explosão na circulação de discursos de ódio contra os grupos oprimidos”. “A veiculação desse tipo de conteúdo trará sérios problemas para a saúde mental dos usuários, podendo levar a situações de auto-mutilação, traumas graves, suicídio. Além de estimular casos de ofensas, agressões físicas e assassinatos”. Falam também em “pânico moral” com fake news como o ‘kit gay’, mamadeiras de piroca etc.
A direita, com sua grande imprensa, nunca necessitou das redes para provocar “pânico moral” ou promover “discurso de ódio”. Quando tratam grupos como o Hamas, que lutam contra uma ocupação colonialista, de grupo terrorista, que nome damos a isso? Milhares de filmes estimulam o ódio contra os russos, contra os árabes, contra os muçulmanos, e nunca vimos essa choradeira na esquerda.
Aqueles que escreveram o texto nem se deram conta de que caíram em uma grande contradição. Dizem que “a Lei Maria da Penha e a interpretação da Lei do Racismo feita pelo STF são armas fundamentais para o combate às violências de gênero, raça e LGBTIfóbicas. A ausência de leis de proteção só favorece os violentadores. Mesmo com essas armas jurídicas, só vemos crescer os casos de feminicídio e assassinato por homotransfobia”.
A criação de leis específicas não coíbe crimes, eles só têm aumentado. Legislar a internet, tornado-a uma “terra com lei”, não vai impedir o crescimento da violência, pois essa uma questão que diz respeito ao agravamento das condições sociais. Pedir mais rigor na internet apenas vai aumentar o ambiente repressivo e vai favorecer os governos “democráticos” que a cada dia empurram mais e mais a população para a pobreza, e é isso que alimenta a violência.
Querem a CIA de volta
Segundo a matéria, “não seria exagero dizer que as medidas anunciadas por Zuckerberg representam uma nova era na internet. Ao se equiparar à política de (des)moderação do X, o dono do Facebook, Instagram e Threads catalisa o processo de vale-tudo no meio digital”. Na era anterior, a CIA, o FBI, o MI6 etc., moderavam o que se poderia falar nas redes, e é isso que o Esquerda Online quer de volta. Para eles, esses órgãos de repressão imperialista fazem parte de uma democracia assediada pelo fascismo.
É curioso que na sua “luta contra a extrema direita” a esquerda pequeno-burguesa comece a imitar os seus discursos e trejeitos. Como no trecho que dizem que “a submissão de todos a um líder autoritário exige a construção de uma nova sociabilidade, e para isso as redes sociais são essenciais no século XXI”.
Quem, dentro da esquerda, nunca ouviu essa conversa reacionária de estarmos submissos a um “líder autoritário”?
Setores inteiros da esquerda se tornaram verdadeiros apêndices do imperialismo. Tentam fazer andar para trás a roda da história, é uma espécie de ludismo contra o avanço das tecnologias que democratizam a difusão de informação. É uma nova Inquisição apoiada por aqueles que dizem, da boca para fora, combater o fascismo.