O medo é a principal ferramente para a imposição de censura e leis cada vez mais opressivas. O título Mídia oferece espaços generosos para os que querem destruir a democracia vai nesse sentido. É preciso que as pessoas temam a “destruição da democracia” para aceitarem todo tipo arbitrariedades, pois, supostamente, servem para a proteção da sociedade.
Esse artigo de Bepe Damasco, publicado neste 1º de outubro no Brasil247, no entanto, tem um erro fundamental: os supostos defensores da democracia são, na verdade, golpistas.
No primeiro parágrafo, Damasco diz que “no Brasil, existe uma corrente política que uma vez no poder nega a ciência, a ponto de permitir a morte de centenas de milhares de pessoas, e ataca as artes e os artistas, porque não tolera que peças de teatro, livros, filmes, pinturas e músicas façam as pessoas pensar e questionar a realidade”.
As mortes provocadas na pandemia, é preciso fazer justiça, não podem ficar apenas nas costas de Bolsonaro e seu partido. Muita gente, inclusive do “campo progressista”, fez demagogia e lucrou. Muita gente teria que ir para o banco dos réus.
Quanto a negar a ciência, todos devem se lembrar que o STF ameaçou de prisão quem questionasse as vacinas, feitas a toque de caixa. Começou uma forte campanha, supostamente para o bem, contra as ditas fake news. No entanto, passado algum tempo, e com o vazamento de milhares de documentos, está ficando óbvio que as vacinas contra a covid estão apresentando inúmeras sequelas; que vão desde casos de trombose, problemas cardíaco e até esterilidade.
A censura acabou servindo para beneficiar os grandes laboratórios, não à ciência. A extrema direita é terrível com a cultura, mas a criminalização da liberdade de expressão é ainda pior.
Identitarismo
Bepe Damasco aproveita para fazer no seu artigo uma campanha identitária pelos direitos das mulheres, indígenas e pelo meio ambiente. Outro prato cheio para o aumento da repressão. Mesmo o governo sendo derrotado no refendo, se desarmou a população em nome de se proteger as mulheres, mas o número de assassinatos só tem aumentado.
No campo, os índios e trabalhadores sem-terra desarmados estão sendo exterminados pelos latifundiários com seus jagunços fortemente armados.
Enquanto isso, a questão do meio ambiente tem sido um instrumento de coerção do imperialismo contra os países atrasados, impedindo-os de explorar suas riquezas.
O articulista alega que “extremista de direita, esse segmento se serve de suas posições de governo para ofender jornalistas e cercear a liberdade de imprensa, bem como para chancelar o racismo estrutural e a desigualdade social que envergonham o Brasil”. O cerceamento à liberdade de imprensa vem principalmente do STF. E medidas como o ataque sobre os salários dos enfermeiros apenas servem para aumentar a desigualdade social. Portanto, isso não é exclusividade da extrema direita.
Autoritarismo
Segundo o autor, esse segmento “movido por suas convicções totalitárias e antidemocráticas, tenta rasgar a Constituição através de golpes de estado, chegando a tramar o assassinato do presidente da República eleito, do seu vice e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral”.
O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, rasgou a Constituição ao votar pela prisão de Lula em 2018. Pisoteou a Carta ao julgar cidadãos comuns, de forma coletiva, em um processo-farsa que será lembrado como um dos piores que o Brasil já presenciou. No entanto, esse senhor é tratado como defensor da democracia.
Bepe Damasco se surpreende, diz que “chega a ser chocante o latifúndio de espaço oferecido pela imprensa comercial brasileira para os fascistas nativos, propagadores da intolerância e do ódio. E o fazem com a maior naturalidade do mundo, como se a extrema direita em nosso país atuasse com um movimento político legítimo”.
Qual é a surpresa? A grande imprensa apoiou e chegou a participar do golpe militar, da tortura. Apoiou o golpe contra Dilma Rousseff, contando com o apoio decisivo do STF, que essa mesma imprensa tratou de botar holofotes e elevar juízes corruptos, como Sérgio Moro, à condição de celebridade.
Talvez Damasco não se lembre, mas a campanha de ódio, quem pariu a extrema direita, foi a burguesia se utilizando de seus meios de comunicação.
Beira à ingenuidade a pergunta “será possível que até mesmo jornalistas experientes não enxerguem que o próprio exercício de suas profissões estará em risco caso os inimigos da democracia emplaquem seu projeto de país, fazendo valer sua ideologia?”.
Primeiro, Damasco se esquece jornalistas pertencem a determinadas classes sociais. Segundo, os jornalistas são apenas funcionários, não ditam a linha editorial das grandes empresas de comunicação, controladas pela burguesia ou diretamente pelo imperialismo.
São apenas os outros?
O articulista diz que, de sua parte, tem “todo o direito de considerar que o motivo pelo qual douram a pílula dos golpistas é a necessidade de agradar o antipetismo roxo dos donos dos grandes veículos de comunicação, seus chefes”.
Sim, os jornalistas o fazem por seus salários. Agora, Damasco também não se salva, ele mesmo elogiou o ato chamado pela Rede Globo contra a PEC das Prerrogativas. Ele mesmo doura a pílula dos golpistas, como Alexandre de Moraes, que trata como paladino da democracia.
A dura realidade
Como este Diário já alertou, o plano da burguesia é tirar Bolsonaro do poder; depois Lula, para então tentar emplacar alguém da terceira via que possa levar adiante uma política agressivamente neoliberal.
Os ataques contra o PT já eram esperados, só não viu quem não quis. Damasco diz que “na visão deles, vale a pena até flertar com o perigo da liquidação do estado democrático de direito, desde que seja para não colocar azeitona na empada do PT”. Em quem disse isso importa para a classe dominante.
Isso de “estado democrático de direito” é uma fantasia, e o “julgamento” de Bolsonaro e dos manifestantes do 8 de janeiro deixou bem claro.
A burguesia utiliza suas instituições, como o Judiciário, para acabar com os direitos mais elementares, vai fechando cada vez mais o regime e impondo uma ferrenha ditadura. Não tem nada fora do lugar, exceto a adesão de setores da esquerda à política do imperialismo.
Essa esquerda passa o tempo todo pedindo censura e defendendo as instituições do Estado burguês. Agora, que percebe a realidade, que vem outra campanha da imprensa contra a esquerda, só sabe fazer cara de marido traído.




