Estados Unidos

Defender a liberdade acadêmica é o oposto de defender ONGs

A verdadeira liberdade de cátedra não pode ser defendida junto ao financiamento promovido pelo imperialismo

Em artigo intitulado Autoritarismo e ataques às universidades, escrito pelo acadêmico Robson Sávio Reis Souza e publicado no portal de esquerda Brasil 247 no último dia 11, o autor (que se apresenta como doutor em Ciências Sociais e pós-doutor em Direitos Humanos) tenta apresentar a educação como algo santo, fora do mundo real no qual a classe dominante domina tudo, menos as instituições de ensino. É a mesma fé cega em uma burocracia que leva a classe média a acreditar que juízes não julgam por interesses, por exemplo. Vejamos o que diz Souza:

“As instituições autônomas (como as universidades) são rivais de autocracias, teocracias e todos os modelos autoritários de poder político porque formam cidadãos críticos e produzem conhecimento livre, que são uma ameaça a regimes que dependem da obediência cega e da manipulação da verdade. Por isso, governos autoritários buscam subjugá-las ao controle político.”

Em primeiro lugar, as chamadas “instituições autônomas”, como diz o autor, não são de forma alguma rivais de modelos autoritários de poder político. Se fossem, Bolsonaro, por exemplo, não teria instituído o Banco Central “independente”. Via de regra, o que se chama de “instituições autônomas” são, na verdade, órgãos controlados pelo imperialismo e completamente alienados do controle da população. “Independente”, no mundo real, significa independente do povo e totalmente controlado pela classe dominante.

Vejamos o que mais o autor afirma:

“As universidades são espaços de debate, questionamento e produção de conhecimento independente e governos autoritários buscam suprir ideias dissidentes e impor uma narrativa única, algo incompatível com a liberdade acadêmica e com o intento dos projetos educacionais emancipatórios.”

A realidade, porém, é que não existe mais liberdade acadêmica como defende Souza. O que há hoje são instituições dominadas por ONGs e fundações como a Fulbright, a Open Society e tantas outras, dedicadas a financiar a produção acadêmica — e é sempre bom lembrar que quem paga a banda escolhe a música. Nesse sentido, existe sim uma doutrinação em curso, porém paga pelo imperialismo e para os interesses desse setor social. O fato é que essa doutrinação é burguesa: trata-se de uma ideologia identitária, avessa a informações verdadeiramente críticas e de forma alguma compatível com o que o autor chama de liberdade acadêmica.

“A história nos ensina que os regimes autoritários frequentemente propagam pseudociências, negacionismo e ideologias sem base factual. A ciência independente, produzida nas universidades, desafia narrativas oficiais manipuladas e distorcidas.”

Neste ponto, devemos até agradecer ao autor, pois ele confirma, inadvertidamente, que o que temos hoje no mundo é um regime autoritário sob a fachada da democracia. O que se tem propagado, porém – e ao contrário do que defende -, são pseudociências e ideologias — o alarmismo climático e o identitarismo sendo suas expressões mais visíveis.

São justamente essas práticas que vêm desmoralizando as universidades perante os setores populares. É isso que torna tão populares os ataques da extrema direita às universidades, no Brasil e no mundo. Não se trata de mero obscurantismo, mas de reação à dominação imperialista sobre esses locais.

“Desde que Donald Trump retomou a presidência dos Estados Unidos, em 2025, seu governo tem intensificado medidas que ameaçam a autonomia universitária e a liberdade acadêmica naquele país. Embora algumas políticas ainda estejam em implementação, já há ações concretas que mostram o viés autoritário do governo na perseguição às universidades.”

Chegamos, então, ao cerne da questão: Trump não tem adotado algumas medidas contra o financiamento às universidades porque elas, especialmente as mais prestigiadas, são instrumentos diretos do imperialismo.

Harvard, por exemplo, teve papel destacado no golpe de Estado no Brasil, aliciando estudantes de países oprimidos para formar quadros que sirvam aos interesses do imperialismo — como Tabata Amaral, apoiadora do roubo da Previdência, ou Sérgio Moro e tantos outros inimigos dos povos oprimidos, do Brasil e do mundo.

Todos eles foram promovidos a partir do golpe. O que Trump tenta fazer é resolver um problema que, para ele, também é real: o domínio do imperialismo sobre as universidades norte-americanas é uma fonte de propaganda contra o trumpismo e a burguesia doméstica dos EUA. Daí seu esforço em combater a profusão de propaganda identitária nesses espaços — algo que ele vem fazendo desde que chegou à presidência.

Defender a liberdade acadêmica e a autonomia universitária seria, de fato, uma política progressista — mas não é isso que o autor está fazendo. Sob a desculpa de combater o autoritarismo das armas, do capital e da religião, ele está, na prática, defendendo a força do capital nas universidades.

A verdadeira liberdade de cátedra não pode ser defendida junto ao financiamento promovido pelo imperialismo, nem junto ao impulsionamento das ideologias identitárias e da pseudociência ambientalista. É isso que o autor defende, ainda que suas palavras indiquem o contrário.

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