Oriente Médio

Defender a existência de ‘Israel’ é defender sua guerra genocida

Articulista da Folha está mais preocupado em conter o ódio ao sionismo do que com as 400 mortes causadas pela retomada da guerra contra o povo palestino

Na tarde dessa terça-feira (18), Hélio Schwartsman, um dos principais articulistas da Folha de S.Paulo, publicou uma coluna sobre a retomada do genocídio na Faixa de Gaza. Naquele momento, “Israel” já havia assassinado mais de 400 palestinos, em uma demonstração de covardia poucas vezes vistas antes na história.

As primeiras palavras do articulista já indicam onde ele quer chegar: “Israel voltou a lançar pesados ataques contra o Hamas na Faixa de Gaza, pondo fim a um cessar-fogo que dera algum alívio aos palestinos e permitiu a troca de reféns por prisioneiros”. Segundo Schwartsman, portanto, assassinar centenas de mulheres e crianças, carbonizar vivos deslocados que viviam em tendas porque sua casa foi destruída e metralhar palestinos pegos de surpresa seria um “pesado ataque”. E não um crime de guerra, uma prática genocida que visa deliberadamente exterminar todo um povo ou forçá-lo a abandonar suas terras.

Schwartsman segue dizendo que “ambos os lados imputam um ao outro a responsabilidade pelo rompimento da trégua, mas a interpretação que me parece mais verossímil é a de que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, jamais teve a intenção de cumprir a segunda fase do acordo, pela qual Israel teria de retirar todas as suas forças de Gaza”. O articulista atua como jornalista há mais de 25 anos. Ele sabe muito bem que, ao dizer que “ambos os lados imputam um ao outro a responsabilidade pelo rompimento da trégua” e não apresentar o que diz cada lado do conflito, ele está afirmando que ambos os lados teriam alguma razão.

Vejamos, então, o que diz o Hamas após os bombardeios:

“A ocupação sionista rompeu o acordo de cessar-fogo, fugindo de seus compromissos e continuando a cometer massacres contra nosso povo em Gaza, em meio a um vergonhoso silêncio internacional. As alegações feitas pela ocupação sobre supostos preparativos da resistência para lançar um ataque contra suas forças são infundadas e nada mais do que desculpas frágeis para justificar seu retorno à guerra e a escalada de sua agressão sangrenta.”

Antes de os bombardeios acontecerem, o Hamas também enumerou várias violações do acordo de cessar-fogo por parte de “Israel”:

  1. Impedimento da entrada de 50 caminhões de combustível por dia, conforme estipulado no acordo. Em vez disso, apenas 978 caminhões entraram ao longo de 42 dias, com uma média de 23 caminhões por dia.
  2. Proibição do setor comercial de importar combustível de todos os tipos, apesar de uma disposição explícita no acordo permitindo isso.
  3. Permissão da entrada de apenas 15 casas móveis (caravanas) de um total de 60.000 acordadas, além de um número limitado de tendas.
  4. Impedimento da entrada de maquinário pesado necessário para limpar escombros e recuperar corpos—apenas nove máquinas foram permitidas, enquanto o setor precisa de pelo menos 500.
  5. Bloqueio da entrada de materiais de construção necessários para a reabilitação da infraestrutura e restauração de hospitais.
  6. Impedimento da entrada de equipamentos médicos essenciais para reabilitar hospitais, e permitindo a entrada de apenas cinco ambulâncias.
  7. Proibição da entrada de equipamentos de defesa civil.
  8. Impedimento da operação da usina de energia e bloqueando a entrada de suprimentos necessários para sua reabilitação.
  9. Bloqueio da entrada de liquidez em dinheiro nos bancos e recusando a troca de cédulas danificadas.
  10. Avanço e invasão além das linhas de retirada quase todos os dias, especialmente no Corredor Filadélfia, ultrapassando os limites acordados de 300 a 500 metros, acompanhados de disparos, assassinatos de civis, demolições de casas e destruição de terras.
  11. Atraso da retirada das ruas Al-Rashid e Salah Al-Din, impedindo os deslocados de retornar por dois dias inteiros, em clara violação do acordo.
  12. Impedimento dos pescadores de retornarem ao mar, atirando contra eles e prendendo alguns.
  13. Voos diários de aeronaves de ocupação durante horas proibidas (10–12 horas diárias), com 210 violações registradas, incluindo vários veículos aéreos não tripulados (VANTs).

Tudo o que o Hamas disse está documentado e provado. Vejamos, então, o que disse o governo do Estado de “Israel”, por meio de seu ministro da Defesa, Israel Katz:

“Esta noite voltamos a lutar em Gaza contra a recusa do Hamas em libertar os sequestrados e ameaças de prejudicar os soldados das Forças de Defesa de ‘Israel’ e a comunidade israelense. Se o Hamas não libertar todos os reféns, os portões do inferno em Gaza serão abertos e os assassinos e estupradores do Hamas enfrentarão as Forças de Defesa de ‘Israel’ com uma intensidade que nunca conheceram antes. Não vamos parar de lutar até que todos os sequestrados voltem para casa e todos os objetivos da guerra sejam alcançados.”

Que ameaças são essas contra os soldados israelenses? “Israel”, que tem um dos mais poderosos serviços secretos do mundo e uma das mais poderosas máquinas de propaganda, não demonstra. A “recusa do Hamas”, por sua vez, é tão-somente o cumprimento do acordo de cessar-fogo. O Hamas se comprometeu a entregar os seus prisioneiros mediante um conjunto de ações que deveriam ser cumpridas por “Israel”. A cada etapa do acordo, o Hamas agiu conforme o que havia sido estabelecido, ao contrário de “Israel”, que atrasou, em vários momentos, a troca de prisioneiros.

Assim sendo, não se trata de “ambos os lados imputarem um ao outro a responsabilidade pelo rompimento da trégua”. O fato, cristalino para qualquer um que acompanhe minimamente a situação na Palestina é que o Estado de “Israel” decidiu unilateralmente romper o acordo. Mais à frente em seu texto, Schwartsman irá expor a conclusão cínica de quem apresenta o período de cessar-fogo como o de hostilidade entre ambas as partes, e não como um período no qual o Hamas cumpriu o que prometeu e foi brutalmente atacado por “Israel”:

“A imprensa tem destacado os custos humanos e materiais deste conflito, de modo que eu gostaria de salientar a perda de esperança. A guerra levou tanto israelenses como palestinos a um ultraceticismo em relação à possibilidade de paz na região.”

É uma conclusão genocida. O que o articulista está dizendo é que “Israel” ter assassinado mais de 400 pessoas em 24 horas é um problema menor. O maior problema seria subjetivo. Isto é, de que as pessoas ficaram céticas em relação à possibilidade de paz na região.

O ceticismo não é um problema. O que o articulista chama de “ultraceticismo” é, na verdade, a evolução da consciência. Por meio da própria experiência, os palestinos estão aprendendo que o Estado de “Israel” só deixará de ser uma ameaça quando for destruído. Por sua vez, os próprios israelenses vão compreendendo que o seu Estado é, na verdade, uma ficção. É uma máquina policial, nazista, contrarrevolucionária, que, justamente por sua natureza, é insustentável economicamente e mesmo socialmente. Quanto mais “Israel” se afunda em sua política genocida, mas rápido conduz a sua sociedade para o colapso.

No final das contas, o “ultraceticismo” seria a única coisa de positiva da nova etapa genocida. Isto é, que ela irá acelerar a dissolução do Estado de “Israel”. Schwartsman, no entanto, despreza as vítimas do massacre e se preocupa somente com o fato de que a farsa da “solução de dois Estados”, apresentada hipocritamente pelo imperialismo enquanto, na prática, impede a constituição de um Estado palestino, está sendo cada dia mais contestada.

A única preocupação de Schwartsman é que “Israel” sobreviva. Ou seja, que continue bombardeando o povo de Gaza.

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