Esquerda

De Cantalice para Lula: sejamos uma cópia do bolsonarismo

Alberto Cantalice, da ala direita do PT, é um verdadeiro amigo da onça

Alberto Cantalice, um dos expoentes da ala direita do Partido dos Trabalhadores (PT), também comentou a mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na última sexta (14) e que apontou, entre outros dados negativos, uma queda de 11 pontos percentuais na aprovação do governo Lula. Seus comentários estão em seu perfil pessoal na rede social X, em publicação do dia 15 fevereiro.

A análise e as propostas de Cantalice são as de um verdadeiro amigo da onça.

Lula 3 é igual a Lula 1?

Cantalice sustenta que o primeiro mandato do governo Lula enfrentou situação parecida, quando do chamado escândalo do Mensalão, em 2005. Naquela ocasião, Cantalice afirma que também houve uma queda nos índices das pesquisas. “Serra, naquele momento liderava as pesquisas (o candidato tucano foi o Alckimin [sic]). Dezembro de 2005”, pontua ele. E conclui: “A economia se recuperou e Lula foi reeleito”.

Cantalice desconsidera as diferenças fundamentais entre uma situação e outra. O dado fundamental consiste justamente na diferença pela qual o campo da direita nacional passou. O terceiro mandato de Lula não tem mais diante de si Serra, Alckmin, FHC e a direita tucana.

A polarização política do último período converteu o bolsonarismo na força política principal do campo da direita. E o bolsonarismo não se comporta nem tem um programa idêntico ao dos tucanos. 

Enquanto movimento político, a extrema direita impõe um desafio muito maior ao PT do que os tucanos. O bolsonarismo, na essência, expressa um setor mais débil da burguesia nacional e que por isso mesmo, precisa se apoiar em amplas camadas da classe média mais conservadora, além de franjas das camadas populares.

O PSDB, por sua vez, era a principal representação política dos interesses da burguesia estrangeira imperialista e passou para a história como o aplicador da política neoliberal no país, uma política de devastação econômica e social que gerou ampla repulsa popular. Ao contrário da direita tucana, o bolsonarismo possui uma base mais “popular” e recorre sistematicamente à sua mobilização. 

As eleições de 2022 mostraram o nível de polarização do país. Lula foi eleito com 60 milhões de votos; Bolsonaro teve 58 milhões. A diferença foi absolutamente pequena. As eleições municipais de 2024, por sua vez, confirmaram o partido de Bolsonaro (o PL) como o grande vencedor do pleito. 

Cantalice pinta um quadro ilusório. Bastaria a economia se recuperar, e Lula seria reeleito.

E a economia?

Para Cantalice, os problemas da economia também são de fácil resolução. Seu diagnóstico é de que “a queda da safra, o aumento do dólar e o choque de juros impactaram negativamente os preços dos alimentos”. Qual a solução? Ele diz:

No plano econômico a baixa do dólar, a reconstituição do estoque regulador combinada com a melhoria da safra e o início da queda dos juros melhorarão a ambiência e a sensação de sufoco na àrea popular.

“Portanto é preciso comunicar corretamente.”

Cantalice aponta que a baixa do dólar, a reconstituição do estoque regulador e a queda dos juros melhorariam a “ambiência”. Ele, porém, não indica se o governo caminha para adotar e promover tais medidas econômicas. O governo Lula, por exemplo, irá intervir no mercado de dólares? Colocará no mercado uma porção de suas reservas em dólar para pressionar os preços para baixo?

O governo comprará produtos para reconstituir os estoques reguladores? E a queda da taxa de juros? Como o governo baixará a taxa de juros se na presidência do Banco Central encontra-se justamente um funcionário dos mercados financeiros, indicado, inclusive, pelo governo Lula? 

Cantalice cita algumas medidas, bastante pálidas, inclusive, mas não propõe os meios para efetivá-las. Ele defende, por exemplo, que o governo intervenha no Banco Central, demita o recém-empossado Galípolo, e coloque no seu lugar alguém mais afinado com os propósitos do desenvolvimento nacional e da melhoria das condições de vida do povo? Não parece ser o caso.

Cantalice prescreve simplesmente que “é preciso comunicar corretamente”. Trata-se de algo incompreensível. Comunicar corretamente o quê? Há alguma mudança na política econômica do governo Lula? Ou é preciso comunicar corretamente de que as coisas andam às mil maravilhas?

A propaganda oficial do PT insiste na tese de que a situação econômica do povo caminha bem, porém a realidade, a cada momento, se presta a contrariar essa propaganda. A inflação dos alimentos é real, e o próprio Cantalice o reconhece. O governo Lula, porém, não adotou nenhuma medida efetiva até agora para combatê-la. 

A política econômica do Ministério da Fazenda, liderada por Fernanda Haddad, é um desastre. Haddad trabalha incansavelmente para desempenhar bem o papel de homem do ajuste fiscal e do corte de gastos. Tudo para agradar aos banqueiros.

Lançou um plano de ajuste fiscal que previa, entre outras maldades, um teto para o aumento do salário mínimo e cortes em vários benefícios sociais. O ápice do desastre chegou quando um órgão subordinado ao seu Ministério editou norma prevendo a fiscalização pelos órgãos fiscais das transações financeiras a partir de 5 mil reais, uma medida que afetaria um contingente enorme das massas trabalhadoras.  

Cantalice não menciona nada disso. E repete simplesmente o mantra de que é preciso melhorar a comunicação do governo. Trata-se de uma colocação negligente, que omite o fundamental: a necessidade de uma mudança radical na política econômica do governo.

A reboque do bolsonarismo

Alberto Cantalice também indica outro fator para a queda da aprovação do governo. “(…) a insegurança pública e o recorrente noticiário sobre corrupção: principalmente pós farra [sic]  das emendas aumentaram o mau humor da população”, explicou Cantalice. 

A solução para esse problema vem expressa no trecho a seguir:

Quanto à insegurança, o governo federal deveria propor um pacto nacional contra violência e a criminalidade que envolva o fortalecimento do contingente da Polícia Federal-para atuar contra o crime organizado e a corrupção-a construção de novas unidades prisionais federais e o apoio aos municípios para fortalecer ou criar Guardas municipais para reprimir pequenos delitos.”

Cantalice pertence àquela corrente da esquerda que nutre amores pelo bolsonarismo. Ele tem a pretensão de competir com o bolsonarismo na questão da repressão estatal. Elegendo o tema da “segurança pública” e da “criminalidade” como uma prioridade, ele propõe o fortalecimento do aparato de repressão do Estado capitalista.

Quer fortalecer a Polícia Federal, a mesma que foi fundamental para a prisão política de Lula e que se mostra a cada momento uma agência infiltrada pelos serviços de segurança estrangeiros (Mossad, FBI etc.). Quer construir mais presídios, essas masmorras infernais para onde são despejados centenas de milhares de pessoas vindas das camadas sociais pobres da sociedade. Quer fortalecer ou criar Guardas Municipais, uma instituição subsidiária das Polícias Militares e que vem aprendendo com estas a “arte” de esmagar o povo pobre e explorado. 

Cantalice aconselha o governo Lula a imitar o bolsonarismo. É a receita para o mais profundo fracasso. O aparato policial do Estado é uma das bases fundamentais de apoio do bolsonarismo. Fortalecê-lo não significaria fortalecer o governo petista, mas, ao contrário, fortalecer o bolsonarismo.

Fortalecer os órgãos policiais, isto é, os órgãos responsáveis pela repressão e a violência estatal contra o povo, não traria o mais remoto benefício para o governo Lula.  Cantalice, como dissemos no início, é um grande amigo da onça.

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