Uma reportagem publicada em 25 de fevereiro de 2022 apresentou aos trabalhadores brasileiros uma realidade propositalmente omitida pela grande imprensa: a de que, na região do Donbas, que pertencia formalmente à Ucrânia, vigora um governo operário. O artigo foi produzido por correspondentes do Diário Causa Operária no Donbas, que foram enviados à Rússia e à Ucrânia para cobrir a operação militar especial contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
A reportagem apresenta uma série de dados e relatos sobre a República Popular de Lugansk (RPL), descrevendo-a como um verdadeiro “governo operário” e destacando o papel central dos trabalhadores e de suas organizações. O artigo investigou a fundo o funcionamento do Soviete do Povo – o parlamento local –, o poder dos sindicatos e a legislação que proíbe as privatizações, desenhando o retrato de um regime popular e radicalmente democrático.
A reportagem começa com um encontro com Natalya Vladimirovna Sergun, presidente do sindicato dos ferroviários e deputada do Conselho do Povo (o Soviete) da RPL. Sergun, uma ferroviária com 20 anos de experiência, é a chefe do comitê do Soviete para uma questões que inclui indústria, agricultura, transporte e energia. Sua presença no topo do órgão legislativo, eleita pela lista “União Econômica de Lugansk”, simboliza a ascensão do poder operário. O artigo detalha o dia a dia da deputada-sindicalista, cuja base de trabalhadores ferroviários cresce à medida que novos territórios são “liberados” na Operação Especial para a Desmilitarização e Desnazificação da Ucrânia. O fato de o Soviete ser composto por apenas 50 deputados, com uma proporção de um deputado para cada 30.000 habitantes (muito maior que no Brasil, por exemplo), atesta a alta representatividade do órgão.
A tese central da reportagem é que a República Popular de Lugansk possui um governo operário, com uma forma de representação direta da população, eleita por local de trabalho e moradia, à semelhança da Comuna de Paris de 1871. Segundo a análise apresentada, embora não haja uma legislação explicitamente socialista, o poder em Lugansk é “um verdadeiro poder popular, principalmente operário”, apoiado no povo armado que administra a produção.
O DCO salienta que os mais de 130 partidos do antigo regime foram proibidos em 2014, com o acesso ao Estado se dando não por filiação partidária, mas “pelas bases, nos locais de trabalho e moradia”. Não existe uma burguesia que dite os rumos do governo, e a maior parte da população masculina está integrada à milícia popular, composta em grande medida por operários, resistindo aos ataques nazistas. A Revolução de 2014, que levou à formação das repúblicas do Donbas foi apresentada como “intensa, rápida e decidida” devido à composição majoritária da população de operários industriais.
O Soviete Popular, a palavra russa para Conselho do Povo, resgata a tradição da Revolução Russa. Para o artigo, o ocorrido no Donbas foi uma “verdadeira revolução: o povo se armou para se defender, toma conta da administração do Estado, da economia, e toma todas as medidas de defesa da população”. A ausência de um partido revolucionário ideológico não impede a caracterização de governo operário, que surgiu “espontaneamente” dos trabalhadores levados a uma situação extrema.
A legislação da RPL é apresentada como a prova cabal do caráter popular e democrático do regime. A Constituição, com apenas 10 capítulos e 86 artigos, é descrita como “enxuta e direta”, definindo o país como um “Estado social” (art. 1º) onde o poder é exercido pelo povo “diretamente bem como por meio das autoridades estatais e órgãos de autogoverno locais” (art. 2º).
Diversos aspectos legislativos demonstram o controle popular e a proibição de políticas neoliberais:
- A terra pertence ao povo
- Controle operário da produção
- Direito à moradia, saúde e educação
- Milícia popular democrática
O artigo mostra que o povo de Lugansk está “armado e lutando por sua liberdade”. A reportagem rebate a imprensa burguesa internacional, afirmando que a luta em curso é pela autodeterminação do povo russófono, oprimido pelo regime semifascista que subiu ao poder com o golpe de 2014 em Kiev. O avanço da Operação Militar Especial russa, iniciada em um momento em que Kiev se preparava para investir militarmente contra as repúblicas se mostrou essencial para garantir a sobrevivência dos quase quatro milhões de russófonos.





