O líder do PT na Câmara, o deputado federal José Guimarães, publicou no dia 26 de fevereiro uma coluna no portal Brasil 247 intitulada O Brasil de volta aos trilhos do desenvolvimento, no qual faz uma breve análise sobre o que acredita acontecer no Brasil atualmente, além de um pequeno histórico sobre o Partido dos Trabalhadores diante de seus 45 anos de existência.
Durante todo o texto, o que vemos é um apanhado de elogios ao presidente Lula, à política do PT desde sua fundação e durante os governos petistas, como é possível observar nos primeiros parágrafos:
“Colocar o pobre no orçamento, como diz o Presidente Lula, e investir na infraestrutura é uma âncora para o desenvolvimento sustentável com responsabilidade social e fiscal. Com essa âncora, o Presidente Lula cuida das pessoas, garante direitos, melhora as condições de vida da população e alavanca o crescimento da economia.
No governo Lula, a prioridade não é corte. É investimento na infraestrutura, na nova indústria, na construção civil, na agricultura de exportação e familiar, na micro e pequena empresa, na educação pública de qualidade, na saúde pública e nos programas sociais, para gerar empregos, renda, reduzir a desigualdade e erradicar a pobreza.”
Para corroborar os elogios feitos à figura de Lula, José Guimarães se utiliza de dados estatísticos, como no parágrafo que vemos a seguir:
“Na reconstrução do país, a partir de 2023, o desemprego despencou para 6,2%, a menor taxa da série histórica – abaixo do índice da Zona do Euro (6,3%). Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2024, o mercado de trabalho formal registrou alta de 16,5% das vagas com carteira assinada. A indústria foi responsável por 76% desse crescimento. O valor do salário aumentou. O rendimento do trabalho mensal médio chegou a R$ 3.314 reais. A massa salarial real bateu em R$ 327,7 bilhões. Crescimento de 12,6% nos últimos dois anos. Em janeiro deste ano, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, registrou a criação de mais de 100 mil novas vagas. Com isso, crescem o poder de compra, o mercado interno e a economia.”
O problema é que esses dados e indicadores estatísticos são altamente manipuláveis e não dizem respeito à realidade concreta da população no Brasil. O que aparece como sendo o menor índice de desemprego da história, por exemplo, não leva em consideração muitos fatores, como o número de pessoas que hoje moram na rua. Aqueles que trabalham no que é conhecido como “subemprego” também acabam por manipular os dados, já que são considerados como trabalhadores empregados, isso para não falar da bizarrice brasileira das pessoas que desistiram de procurar emprego e deixam de ser consideradas como desempregadas.
Segundo dados do IBGE, há pelo menos 187,7 milhões de pessoas “aptas para trabalhar”, considerando os maiores de 14 anos. Desses, 108,9 milhões fazem parte da população economicamente ativa, ou seja, as pessoas que trabalham ou estão aptas para trabalhar. Só esse dado já demonstra como o percentual de 6,2% de desempregados está equivocado. Além disso, mostra que uma parcela da população que trabalha no Brasil é menor de idade, enquanto uma outra parcela considerável acima dos 18 anos está desempregada.
A título de curiosidade, cerca de 156 milhões de pessoas têm mais de 18 anos no Brasil.
A situação para a população mais pobre está muito complicada. Para além do desemprego, a taxa de juros e a inflação também estão altas. A primeira, mesmo depois da troca do comando do Banco Central por um indicado do governo petista, ainda assim, mantém a política de juros altos, o que mascara a inflação e permite lucros gigantescos para os bancos.
Já a inflação aparece com um acumulado de 4,56% nos últimos meses, mas, para quem vai ao mercado, o preço dos produtos parece ter subido muito mais. O próprio governo Lula tem comentado sobre a alta dos preços dos alimentos, embora não tenha apresentado política alguma para baixar os preços, fora anúncios do presidente dizendo que conversaria com empresários para pedir que eles baixassem o valor dos produtos e apostar que a safra de 2025 também ajude a regular os preços altos.
O governo não consegue se desgarrar da política neoliberal imposta pela direita e, por conta disso, tem perdido apoio da população mais pobre do país, justamente a base política de Lula. Os índices positivos da economia podem deixar alguns empresários e banqueiros contentes, mas, por mais que a política do governo tenda à direita, não consegue transformar o governo no governo preferencial dos setores da burguesia, principalmente da burguesia imperialista.
Sendo assim, apostar que a população vá se contentar com índices que não condizem com sua realidade apresentados pelo governo como um bom resultado é a fórmula para o desastre. A cúpula governista, porém, não abre os olhos e, cada vez mais acuada pela direita e sem apoio nas ruas, tende a ir ainda mais para a direita, tentando buscar um acordo com a burguesia.