Leste europeu

Cultura russa ‘em quarentena’ defende escritor ucraniano

Parte da história da Rússia, a Ucrânia compartilha seu passado com o país vizinho, mas tem sido usada para impulsionar uma campanha voltada a manter cerco contra o gigante eslavo

Em matéria publicada no último dia 8 no órgão imperialista brasileiro O Globo intitulada Em resposta à invasão russa, literatura ucraniana passa por ‘fase documental’ e chama a atenção de editoras mundo afora (assinada por Ruan de Sousa Gabriel), o diário carioca divulga o trabalho do escritor Andrei Kurkov, um dos escritores ucranianos mais promovidos no exterior e responsável por afirmar que a cultura russa deve ser deixada “em quarentena”. Segundo O Globo, editoras de países imperialistas, como a Wallstein Verlag, da Alemanha, e também a Carambaia, do Brasil, vêm ampliando a publicação de autores ucranianos sob o pretexto de divulgar uma identidade nacional que se opõe à influência russa. Essa investida cultural inclui o boicote a escritores clássicos russos, como Dostoiévski e Tolstói, sob a justificativa de que a literatura russa sempre serviu como instrumento de dominação.

Desde o golpe do Euromaidan, em 2014, que derrubou o governo nacionalista de Yanukóvich, desencadeando a ascensão de um governo pró-OTAN e ferozmente anti-russo, o idioma ucraniano tem sido imposto, enquanto o russo chegou a ser proibido. Autores ucranianos que antes escreviam em russo passaram a adotar o ucraniano como idioma literário, sob pressão do regime instalado após os protestos.

O Instituto Ucraniano, órgão responsável pela diplomacia cultural do país, declarou que a literatura tem sido utilizada para reforçar a “descolonização do conhecimento”, conceito que na prática significa eliminar qualquer traço da herança cultural russa na Ucrânia. Nomes que antes eram pouco conhecidos até mesmo dentro do País, como Lesja Ukrajinka e Ivan Franko, foram resgatados para compor um novo panteão literário nacional. Além disso, festivais internacionais passaram a abrir espaço para escritores ucranianos, com apoio direto de governos e instituições de países imperialistas. Em 2023, uma delegação ucraniana participou da Feira do Livro de Guadalajara, no México, e este ano o País será representado na Feira do Livro de Buenos Aires.

O boicote à literatura russa faz parte de uma política mais ampla de erradicação da influência russa na Ucrânia, país que sempre fez parte da história russa e que se tornou independente apenas após o colapso da União Soviética, resultante da crise do stalinismo. Enquanto a literatura ucraniana é promovida e traduzida mundo afora, editoras e eventos literários nos países imperialistas impõem restrições a escritores russos. Essa ofensiva demonstra que a guerra entre Ucrânia e Rússia vai muito além do campo de batalha, sendo também travada na esfera cultural, com o imperialismo financiando uma reescrita da história para justificar sua política de cerco e agressão à Rússia.

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