O desgaste do governo Lula é cada vez maior e mais evidente, resultado direto de sua política econômica anti-popular. Grande parte da esquerda brasileira até reconhece que há uma crise dentro do governo, no entanto, sem a capacidade de assumir que o problema da desconfiança da população em relação ao governo é fruto, principalmente, da própria política desastrosa que este tem levado.
Dentro da esquerda, há muitos que procuram “passar pano” para o governo, tentando aliviar sua responsabilidade na crise. Em artigo do Brasil 247, intitulado Crise de confiança e crise de governo, assinado por Aldo Fornazieri, o articulista alega que o motivo da crise é que “setores importantes da sociedade questionam a confiabilidade do que o governo faz e diz”.
“A crise de confiança decorre do fato de que setores importantes da sociedade, notadamente os agentes econômicos e os consumidores em geral, questionam a confiabilidade do que o governo faz e diz, especialmente em relação à economia”, escreveu o autor, concluindo que isso aumenta os níveis de desconfiança e incerteza e que resulta na retração de investimentos e elevação de juros.
Apesar de atribuir o problema da crise à pressão econômica dos “agentes econômicos”, ou seja, daqueles que mandam na economia, o autor também joga a culpa nos consumidores, ou seja, naqueles que sofrem concretamente com as medidas adotadas pelo governo.
Que a burguesia e os banqueiros não vão “confiar” em Lula já deveria ser algo esperado. Desde antes da eleição, a direita procurou se infiltrar seriamente no governo, desde a indicação do vice até os ministros abertamente golpistas e de confiança da burguesia nacional. Uma capitulação de Lula e do PT, que resultou numa grande desmoralização do governo. A persistência na conciliação, se aliando aos maiores bandidos do País, inclusive os que deram o golpe de Estado e derrubaram o antigo governo petista, dificilmente resultaria em algo diferente.
“A sociedade não acredita na política econômica, na contenção da inflação e na redução do gasto público. Quanto maior for a desconfiança sobre a capacidade do governo em controlar os gastos, mais altos serão os juros que ele terá de pagar”, continua o articulista.
Aqui, o autor coloca de forma absurda que se trata de um problema de confiança. Ou seja, se confiar, a política econômica melhora. É quase um pedido religioso, para que se tenha fé, que tudo vai melhorar. Não basta depositar a confiança, é necessário uma mudança geral da postura do governo.
Se o ministro Haddad anuncia um plano catastrófico contrário a toda a população, é necessário tomar uma medida enérgica para desfazer essa política e tirar do governo os agentes que atuam contra os interesses dos trabalhadores. Se a política econômica foi péssima até agora, por que acreditar que vai mudar?
“A crise de credibilidade foi gerada pelo próprio governo. O presidente Lula e alguns líderes do PT fizeram discursos considerados inconsequentes, que minaram a confiança no governo”, pontuou Fornazieri.
Não se trata somente de alguns “discursos inconsequentes”, mas de uma política concreta. O que gera descontentamento não é o que o governo diz, mas sim o que ele faz.
O autor chega a mencionar “falhas na comunicação”, como o anúncio das mudanças do Pix, além do pacote fiscal. A política, no entanto, não é feita de discursos, mas de coisas reais. Decerto que a comunicação importa e precisa ser melhorada. Porém, não bastaria falar de outra forma, é preciso ter uma política adequada. Não adianta tentar explicar para o trabalhador que suas transações bancárias serão mais vigiadas e que seus benefícios serão cortados e que isso pode ser bom. É simplesmente impossível.
Para Fornazieri, é necessário “estancar” as crises de credibilidade e a esquerda teria um papel importante nisso. Para o autor, há uma “passividade” na esquerda, que agora conta com políticos de gabinete, sem conexão com as bases populares. E chega ao absurdo de concluir que:
“Enquanto Lula e Biden pregam união e paz, é necessário que, nos bastidores, seus governos adotem estratégias mais combativas para enfrentar inimigos que investem na polarização.”
O caminho, devemos deixar claro, não é o caminho de “paz” ou de conciliação com os setores mais reacionários do mundo. A política “paz e amor” de Lula e uma amizade com os banqueiros tende a derrubar o governo pela impopularidade. O governo precisa romper urgentemente com os parasitas do País
A esquerda e as organizações dos trabalhadores deveriam apontar um caminho correto e criticar as políticas direitistas adotadas por Lula. Ao colocar a culpa na desconfiança do povo, causa ainda mais atrito entre o povo e o governo. Além disso, é uma forma de deseducar e confundir a população, que associa a política econômica desastrosa a uma política de esquerda. Cria-se não só uma descrença com o governo, mas com toda a esquerda. Por outro lado, a extrema direita se aproveita dessa fragilidade para fazer uma intensa propaganda de ataque ao governo.
A “passividade” da esquerda é justamente a de não apontar concretamente o erro do governo Lula e direcionar o caminho correto para a luta dos trabalhadores. Os “políticos de gabinete” são justamente a equipe econômica direitista de Lula, que deveriam ser todos varridos do governo.
É importante termos claro que não é um problema de fé e acreditar que o governo vai melhorar. É necessário pressionar para que se mude a política, expulsando os elementos reacionários e adotando medidas que contenham a crise que os trabalhadores de fato enfrentam. Quando vão no mercado ou ao posto de gasolina, o trabalhador vê muito concretamente o resultado de uma política econômica neoliberal.
O governo tem muita responsabilidade nessa desconfiança. Os trabalhadores não têm culpa se o preço da carne ainda o faz ser quase um artigo de luxo. Se compreendemos que os banqueiros são nossos maiores inimigos, devemos fazer com que Lula rompa completamente, não que procure uma conciliação. O governo de conciliação com a burguesia é justamente esse que estamos vendo agora: só os banqueiros saem ganhando no acordo