Nesta segunda-feira (17), a Polícia Civil demoliu uma casa de luxo pertencente a Joab da Conceição Silva, suspeito de comandar o ataque a uma delegacia no Rio de Janeiro em uma suposta operação de resgate. A ação policial levanta um questionamento: quem é o verdadeiro criminoso neste caso? O suspeito de liderar um ataque à delegacia ou a própria polícia (instituição estatal), que, ao arrepio da lei, destruiu a casa de um cidadão?
O vídeo da demolição circulou nas redes sociais e foi publicado no Instagram oficial da própria Polícia Civil. “Terrorista aqui será tratado como terrorista”, escreveu a corporação. “RESPOSTA SENDO DADA – A Polícia Civil #RJ localizou e demoliu uma casa de luxo do narcoterrorista que ordenou a tentativa de resgate de criminosos na 60ª DP (Campos Elíseos). O imóvel estava em construção no Jardim Primavera, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.”
A “resposta está sendo dada” se deve a um ataque ocorrido no último sábado (15), horas após a prisão de dois suspeitos de integrarem o tráfico de drogas em Duque de Caxias. Dezenas de homens armados com fuzis teriam participado da ação.
Até o momento, 20 pessoas já foram presas e uma morreu em confronto com policiais, conforme o jornal Folha de S.Paulo. Segundo o governador Cláudio Castro (PL), os envolvidos no caso já foram identificados e serão capturados “de qualquer jeito”.
“Estamos dando a ele o mesmo tratamento que terroristas em outras partes do mundo também têm. Eles têm suas casas demolidas. Aqui será da mesma forma. Terroristas, aqui, serão tratados como terroristas”, disse o secretário da Polícia Civil, delegado Felipe Curi, que também publicou o vídeo nas redes sociais. “Vejam só, em primeira mão. Hoje, a Polícia Civil botou abaixo a fortaleza que o narcoterrorista, que coordenou o ataque terrorista à delegacia na Baixada Fluminense, estava construindo no Jardim Primavera, em Duque de Caxias”, escreveu o governador bolsonarista, ao divulgar o vídeo da demolição.
“E já vou avisando à turminha dos ‘direitos humanos’: não encham o meu saco, porque a resposta será dura e na mesma proporção, só que com efetividade e dentro da lei”, afirmou ainda o governador do Rio de Janeiro antes da demolição da casa, claramente mais atento à propaganda do que com a coerência do que dizia.
Não há nada na legislação brasileira que determine que a casa (ou qualquer outro imóvel) de um condenado — ou pior, de um suspeito — deva ser demolida. Trata-se de um absurdo completo. No entanto, quando o governador afirma que a resposta ao suspeito será “com efetividade e dentro da lei”, ele está claramente mentindo. A ação é completamente ilegal.
Outro ponto que chama atenção nas falas do secretário da Polícia Civil e do governador Castro é a justificativa de que estão aplicando o mesmo tratamento dado a terroristas em outras partes do mundo, cujas casas são demolidas. Diante dessas declarações, podemos concluir que tanto o secretário quanto o governador estão reproduzindo nos bairros pobres e nas favelas a mesma política de extermínio que “Israel” aplica contra os palestinos na Faixa de Gaza. Em outras palavras, aprenderam com os sionistas: estão fazendo com os setores mais pobres da classe trabalhadora o que o Exército israelense e os colonos fazem contra a população palestina.