Vigora entre os setores governistas a ideia de que o ministro golpista Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), seria um grande herói da “democracia”. Essa ideia, que está em contradição com o que o próprio Partido dos Trabalhadores (PT) dizia em 2017, quando Moraes era ministro do governo de Michel Temer, tem um único propósito: defender uma aliança com os representantes do imperialismo no Brasil em uma suposta luta contra o bolsonarismo.
Essa política resultará em desastre. Por um lado, não combaterá o bolsonarismo porque o imperialismo não é inimigo do bolsonarismo, apenas quer manter o movimento sob um determinado controle. Além disso, o combate por meio de perseguições políticas não elimina um movimento, mas apenas o radicaliza, como visto no caso do próprio presidente Lula. Por outro lado, essa política fará com que o governo Lula fique cada vez mais a reboque de seus inimigos.
Em 2023, por exemplo, Lula nomeou os juristas André Ramos Tavares e Floriano de Azevedo Marques como ministros titulares do TSE. A escolha não foi aleatória: ambos eram os favoritos do então presidente da Corte, Alexandre de Moraes, que agradeceu pessoalmente a Lula pela “celeridade” na nomeação.
A ideia de delegar ao Judiciário a tarefa de enfrentar a extrema direita já se provou um fracasso em diversas ocasiões. Em vez de fortalecer o PT e os movimentos populares, essa política está consolidando um regime cada vez mais autoritário e controlado pela direita tradicional, com o partido de Lula refém de um sistema que não tem qualquer compromisso com qualquer significado que possa ter a palavra “democracia”. Moraes é, afinal de contas, um dos filhos do golpe de Estado de 2016.
As nomeações do TSE em 2023 foram um alerta ignorado. O tribunal, sob comando de Moraes, vinha reforçando seu papel como uma instituição repressiva, agindo como se fosse dono das eleições. O PT, no entanto, saiu em defesa do ministro, acreditando que a perseguição a Bolsonaro e seus aliados fortaleceria a esquerda. Mas a realidade é que a repressão do Estado burguês nunca serviu para combater a direita; pelo contrário, serve para manter as forças populares desmobilizadas e para preparar novos ataques contra a própria esquerda.
Agora, um ano depois, a extrema direita não só continua ativa, como se radicaliza ainda mais. Bolsonaro pode até ser preso – algo ainda incerto –, mas isso não impedirá o avanço de forças ainda mais agressivas contra o povo e contra o próprio PT. Enquanto isso, a esquerda permanece desarmada, sem uma política independente e refém de uma aliança ilusória com setores do Judiciário que, na hora certa, não hesitarão em voltar suas armas contra o governo Lula.
Cria corvos que te comerão os olhos.