Os trabalhadores dos Correios deflagraram greve por tempo indeterminado na quarta-feira (17), com adesão de sindicatos de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Sul. A paralisação ocorreu diante da recusa da direção da empresa em atender reivindicações de reajuste salarial e da ausência de um Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) que contemple a categoria.
A mobilização acontece dias após a direção dos Correios anunciar que não renovará em 2025 o benefício de Natal de R$2.500,00, pago no ano passado e incluído no ACT de 2024. Na ocasião, a empresa declarou, por nota, que “todos os assuntos relativos ao Acordo Coletivo de Trabalho estão sendo tratados direta e exclusivamente com os representantes dos empregados na mesa de negociação”.
Entre os pontos levantados pelos grevistas estão: reposição das perdas inflacionárias, manutenção de direitos trabalhistas e funcionais, adicional de 70% nas férias, adicional de 200% para trabalho nos finais de semana e a retomada do chamado “vale-peru”.
A direção da estatal, por sua vez, afirmou em comunicado que 24 dos 36 sindicatos não aderiram ao movimento e que 91% do efetivo permanece em atividade. Segundo a empresa, todas as agências estariam funcionando e as entregas seguiriam sem interrupção em todo o território nacional.
No âmbito judicial, uma decisão liminar do Tribunal Superior do Trabalho (TST), expedida na sexta-feira (19), determinou a obrigatoriedade de 80% dos trabalhadores em exercício em cada unidade. O despacho atendeu a pedido da empresa, que alegou risco à prestação do serviço, e também proibiu “qualquer tipo de bloqueio” à circulação de cartas e encomendas. A multa por descumprimento foi fixada em R$100 mil por dia para os sindicatos.
Antes da liminar, o TST apresentou uma proposta de ACT 2025-2026 após audiências, alegando que o texto buscaria preservar benefícios, estabilidade e “respeito aos trabalhadores” por dois anos. A proposta, no entanto, foi recebida pela categoria em meio à escalada de medidas que reduzem direitos e pressionam o quadro funcional.
A greve ocorre enquanto a empresa atravessa uma crise financeira e discute um socorro com o governo federal. Dados divulgados ao longo do ano indicam prejuízo de R$633 milhões em 2023 e de R$2,6 bilhões em 2024. Em 2025, entre janeiro e dezembro, o déficit acumulado chegou a R$6 bilhões, com projeções de saldo negativo de R$10 bilhões no encerramento do ano.
Na quinta-feira (18), o Tesouro Nacional aprovou um empréstimo de R$12 bilhões, vinculado ao plano de reestruturação, com garantia da União. Na prática, caso a estatal não pague as parcelas, o Tesouro pode ser chamado a cobrir a dívida. Já na segunda-feira (22), os Correios adiaram a divulgação do plano de reestruturação, informando apenas que a apresentação foi suspensa por “ajustes de agenda”, enquanto, nos bastidores, circulou a informação de que a operação bancária ainda não teria sido formalmente assinada.
Além do corte do abono natalino, o plano discutido pela direção prevê ampliação do PDV para 15 mil desligamentos, mudanças no plano de saúde e “revisão técnica” de unidades consideradas deficitárias. Nesse cenário, a liminar que impõe 80% do efetivo e multa diária é vista pelos trabalhadores como um ataque direto ao direito de greve e uma forma de pressão sobre a mobilização.




