A direção dos Correios decidiu não renovar em 2025 o benefício de Natal de R$2.500,00 pago no ano passado a carteiros e demais empregados, ao mesmo tempo em que ampliou a meta do Programa de Demissão Voluntária (PDV) para quinze mil trabalhadores, como parte do plano de “reestruturação” da estatal.
O valor extra de fim de ano foi incluído no Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) de 2024, mas, segundo informação da própria empresa, não será repetido neste ano. Questionada, a área de comunicação dos Correios limitou-se a informar, por nota, que “todos os assuntos relativos ao Acordo Coletivo de Trabalho estão sendo tratados direta e exclusivamente com os representantes dos empregados na mesa de negociação”.
De acordo com o último balanço divulgado, no fim de novembro, a empresa acumulou prejuízo de R$6 bilhões nos três primeiros trimestres de 2025, de janeiro a setembro. Os Correios estão há treze trimestres consecutivos no vermelho, série negativa iniciada no fim de 2022.
Diante desse quadro, a estatal apresentou aos empregados o documento “Correios em Reestruturação”, que detalha o plano a ser executado entre 2025 e 2027. Nele, o PDV passa a ter como meta o desligamento de quinze mil trabalhadores: dez mil em 2026 e outros cinco mil em 2027. A direção afirma que a medida pode gerar uma economia de cerca de R$1,4 bilhão em detrimento de dezenas de milhares de empregos.
O projeto vai além do corte de pessoal. Até junho de 2026, estão previstas mudanças no plano de saúde dos empregados. Em paralelo, a empresa anuncia ações, até março de 2026, voltadas à “melhoria da gestão” do Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios, que vem acumulando problemas há anos.
Outra frente do plano é a “revisão técnica” de mil unidades consideradas deficitárias. Segundo o documento, serão avaliadas agências com baixo movimento, custos operacionais “muito acima da média” ou instaladas em localidades em que canais alternativos, como o Correios AQUI, possam substituir as unidades atuais. Na prática, a medida abre caminho para fechamento ou redução de agências físicas, especialmente em regiões menos rentáveis.
No curto prazo, a meta anunciada pela direção é regularizar o pagamento de fornecedores até janeiro de 2026. Para isso, os Correios buscam um empréstimo bancário em torno de R$20 bilhões, com liberação de parte dos recursos ainda em 2025 e o restante em 2026.
A operação, porém, esbarrou na área econômica do governo. Na terça-feira, o Tesouro Nacional comunicou que não deu aval ao empréstimo, por considerar excessivas as taxas de juros oferecidas por um grupo de bancos, superiores a 120% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI).
O Ministério da Fazenda estuda agora uma “solução-ponte” para aliviar a situação de caixa da estatal e permitir uma negociação em outras condições. Na quinta-feira, o ministro Fernando Haddad afirmou que, caso haja aportes do Tesouro, eles ocorrerão “dentro das regras fiscais” em vigor.
Enquanto governo e direção discutem a forma de socorrer financeiramente a empresa, as primeiras medidas anunciadas atingem diretamente os ecetistas: corte do benefício de Natal conquistado no ACT anterior, perspectiva de redução do quadro em quinze mil postos de trabalho, revisão de mil unidades e mudanças em direitos como plano de saúde e previdência complementar. Um duro ataque à categoria que há anos, mesmo após o início do governo Lula, é arrochada pela direção da empresa.




