Polêmica

‘Corpos mulherificados’ salvarão o mundo do quê?

A “sociedade feminista” são os países imperialistas, como os Estados Unidos, que dizem querer atacar o Irã “em nome dos direitos das mulheres”

Márcia Tiburi, em artigo publicado no portal Brasil 247 na última quinta-feira (10), com o título O fim do império americano será também o fim do patriarcado capitalista?, defendeu que o “feminismo” seria a chave para superar o que chama de “pulsão patriarcal de morte”, promovida pelo capitalismo. Ela também criticou o marxismo, que acusa de “derrotismo”. Diz a autora:

“Alguns teóricos marxistas importantes disseram que é mais fácil acabar o mundo do que o capitalismo. Não estavam errados, afinal o capitalismo vem destruindo a vida desde sempre. Porém, tais teóricos perdem de vista que o sistema de exploração e acumulação que é o capitalismo – e que vem a ser um sistema de destruição e aniquilação em sua fase colonial neoliberal – deriva da pulsão patriarcal de morte que erigiu essa cultura.”

Logo no começo, Tiburi solta uma frase que mostra como está distante do marxismo, ao atribuir a uma ideia totalmente anti-marxista algo que diz vir de “teóricos marxistas importantes”. Nenhum marxista sério diria algo tão derrotista, que vai contra a luta de classes e contra o objetivo da revolução social: acabar com a exploração imposta pela burguesia.

O marxismo, como o próprio Marx deixou claro, não é apenas reconhecer a existência da luta de classes — isso já se sabia, em partes, antes dele. Tampouco se trata de ideias soltas sobre a libertação dos oprimidos. O marxismo é a teoria e a prática para acabar com a opressão dos trabalhadores e libertar toda a humanidade.

Aí já se vê a fraqueza das ideias de Tiburi, que critica um fenômeno sem mostrar que realmente o entende. Ela segue com seu discurso moralista:

“O discurso de ódio que Trump emite contra todos é também sinal de desespero, assim como a misoginia histórica sempre sinalizou para o desespero do patriarcado diante do avanço das mulheres em termos de liberdade e cidadania.

Trump é um sinal de que precisamos inventar outro mundo, um mundo em que as pessoas vivam bem suas vidas de forma plena em termos econômicos, espirituais, estéticos, éticos e políticos.”

Trump deve ser visto como parte de um fenômeno social. Não se trata de uma luta entre o bem e o mal, mas de uma disputa entre setores da burguesia. Trump e seu grupo representam empresários que perderam espaço com o neoliberalismo e tentam resistir a essa política.

O problema é que nem mesmo os objetivos desses setores ele tem conseguido cumprir. Ele prometeu acabar com as guerras, mas não conseguiu. Disse que, se “Israel” ainda estivesse em guerra com o Hamas no dia da posse, faria uma “bagunça infernal”. No entanto, não conseguiu acabar com o conflito, apesar de ter conseguido um cessar-fogo no começo.

Também prometeu encerrar a guerra na Ucrânia até a Páscoa, o que também não aconteceu. Apesar da propaganda, não é o trumpismo que está em alta no momento. Quem está avançando é o setor mais forte do imperialismo, que inclusive apoia ideias como as que Tiburi defende:

“Contra a miséria espiritual e intelectual patriarcal, contra a violência sobre os corpos mulherificados, LGBTQIA+, sobre os corpos racializados e animalizados, precisamos de um projeto de mundo dirigido à proteção e ao cuidado com a vida, cernes da experiência das mulheres e marca do feminismo em todos os tempos.”

Aqui fica ainda mais claro o confronto que Tiburi faz entre o “feminismo” e o marxismo. Ela propõe que o “feminismo” tem como base o “cuidado com a vida”. No mundo real, isso significa empurrar as mulheres para uma posição passiva, onde a luta vira “cuidado” e “proteção” — nunca revolução.

Para Tiburi, a mulher não pode ser combatente. Tem que ser uma espécie de Virgem Maria, dócil, incapaz de pegar em armas e lutar. Isso é o mesmo que defende a Igreja Católica. Uma política que corta pela raiz a força revolucionária das mulheres — que são, afinal, metade da classe trabalhadora.

A autora encerra dizendo:

“À sentença derrotista dos homens teóricos marxistas, contrapropomos o avanço da luta feminista que é luta pela vida para superar a sentença de morte capitalista e patriarcal. Um governo das feministas é tão urgente quanto possível.”

Ou seja, ela deixa claro que sua política não é apenas contra uma frase mal atribuída a algum “marxista”. Esqueçam o governo dos trabalhadores, diz Tiburi — lutemos por um governo das “feministas”.

O problema é que quem mostrou, na prática, ter um caminho para libertar as mulheres foi o marxismo. Uma política que ataca o marxismo tão diretamente só pode ser reacionária e, no fim das contas, vai servir para manter o sistema capitalista e o imperialismo.

Vale lembrar que um “governo feminista” é o de “Israel” — onde uma em cada cinco mulheres já foi estuprada. A “sociedade feminista” são os países imperialistas, como os Estados Unidos, que dizem querer atacar o Irã “em nome dos direitos das mulheres”.

O feminismo de Tiburi, no fundo, não protege as mulheres. Serve para proteger os monopólios que oprimem todo mundo, especialmente as mulheres. É isso que ela está fazendo.

Uma política dessas, se for seguida pela esquerda, leva todo mundo para o buraco. Essas ideias precisam ser combatidas com firmeza para que a esquerda possa enfrentar o verdadeiro inimigo das mulheres e de todos os oprimidos do mundo: o imperialismo, a principal fonte da opressão que Tiburi diz criticar, mas que — com ideias como essas — acaba apoiando, querendo ou não.

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