Brasil

Contra ditadura judicial, Bolsonaro leva público maior à Paulista

Apesar das ironias tolas dos esquerdistas, a manifestação foi a maior de 2025, superando o de Copacabana e por uma margem muito grande, qualquer mobilização feita pela esquerda

Na tarde do último domingo (6), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniu dezenas de milhares de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, para um ato em defesa da anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes, em Brasília. Segundo a contagem feita pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Cebrap e a ONG More in Common, 44,9 mil pessoas participaram da manifestação, indicando que o evento superou em mais de duas vezes o público estimado em 18,3 mil participantes do ato similar, realizado em Copacabana, no Rio de Janeiro, no último dia 16 de março.

O tema central foi a crítica à ditadura judicial imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com pedidos do ex-presidente para uma intervenção internacional e mudanças na Justiça Eleitoral para as eleições de 2026. Apoiando a mobilização, sete governadores estavam na Paulista: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Jorginho Mello (PL-SC), Mauro Mendes (União Brasil-MT) e Wilson Lima (União Brasil-AM).

Antes do início, Bolsonaro posou para uma foto com os líderes estaduais, divulgada nas redes sociais, reforçando o peso político do evento. Também estiveram presentes figuras como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL-DF), os filhos Flávio (senador pelo PL-RJ), Carlos (vereador pelo PL-RJ) e Jair Renan (vereador pelo PL-SC), além de parlamentares como Nikolas Ferreira (PL-MG), Caroline De Toni (PL-SC), Altineu Cortês (PL-RJ), Rogério Marinho (senador pelo PL-RN) e Mario Frias (PL-SP).

O pastor Silas Malafaia, organizador da manifestação, destacou a participação de mais de cem políticos, incluindo deputados e outras autoridades. Em entrevista anterior, concedida à Folha de S. Paulo, Malafaia antecipara que este seria o maior ato do tipo desde o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Bolsonaro chegou ao local por volta das 13h45, e o evento começou às 14h com a execução do Hino Nacional e uma oração. Em seu discurso, ele acusou o STF e o TSE de perseguição política, classificando as decisões judiciais contra ele como um “golpe” para favorecer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.

“Me acusam de golpe de Estado, segundo a Polícia Federal, do Alexandre de Moraes, do [delegado] Fabio Schor, que começou em julho de 21 em uma live. Você começou a dar um golpe de Estado numa live. Quem deu um golpe em outubro de 2022? Quem tirou o Lula da cadeia?”, questionou o ex-presidente, referindo-se à sua inelegibilidade, decretada pelo TSE por abuso de poder político após críticas ao sistema eleitoral em reunião com embaixadores. Ele também mencionou a inelegibilidade do governador Ronaldo Caiado, decidida pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) por suposto favorecimento ao prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil), nas eleições de 2024.

O ex-presidente expressou otimismo sobre uma possível reversão de sua situação em 2026, apostando na troca de comando no TSE. “O ano que vem o TSE terá um perfil completamente de isenção e poderemos confiar nas eleições do ano que vem”, afirmou, destacando a futura presidência do ministro André Mendonça, indicado por ele ao STF, no tribunal eleitoral.

Bolsonaro também sugeriu uma intervenção externa após a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos: “esperança também que de fora venha algo para cá”. Ele justificou a ausência de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se licenciou do cargo e está vivendo nos EUA para escapar da perseguição judicial: “hoje faltou um filho meu aqui, o 03, que fala inglês, fala espanhol, fala árabe, tem contato com pessoas importantes nos Estados Unidos”.

A manifestação trouxe à tona o julgamento do ex-assessor Filipe Martins, preso por integrar a comitiva que acompanhou Bolsonaro aos EUA em 30 de dezembro de 2022, dias antes dos atos de 8 de janeiro. Martins será ouvido em um tribunal da Flórida na próxima quarta-feira (9), acusado de participar da trama golpista para manter Bolsonaro no poder.

O ex-presidente defendeu sua saída do Brasil como uma medida de sobrevivência: “o golpe deles só não foi perfeito porque no dia 30 de dezembro de 2022, eu saí do Brasil. Algo me avisou que alguma coisa ia acontecer. Se eu tivesse no Brasil, eu seria preso na noite de 8 de janeiro, ou quem sabe assassinado por botarem esse vagabundo na Presidência”. Ele ainda criticou o que chamou de “ativismo judicial” global, a onda mundial de intervenções do Poder Judiciário no regime político, sempre feitas em consonância com os interesses do imperialismo, citando casos como o da francesa Marine Le Pen, do americano Donald Trump e do romeno Calin Georgescu, retirado da disputa presidencial sob acusação de interferência russa.

Os manifestantes exibiram faixas e banners contra o STF, especialmente o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelas punições aos envolvidos no 8 de janeiro. Um símbolo recorrente foi o batom, em referência à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, presa por escrever com batom a estátua da Justiça em frente ao STF e que agora cumpre prisão domiciliar. Um batom inflável de seis metros de altura foi instalado na Paulista, e Michelle Bolsonaro pediu que as mulheres presentes empunhassem seus batons, convidando ao palco a filha de uma presa do 8 de janeiro e clamando: “Luiz Fux, não deixe essa mulher morrer”.

A filha de Cleriston da Cunha, conhecido como Clezão, preso no 8 de janeiro e morto na cadeia em 2023, também marcou presença. A estudante Luiza Cunha, 21, veio do Distrito Federal com a mãe e uma irmã, usando camisas em homenagem ao pai.

“A pressão já fez com que algumas pessoas saíssem. Só a mobilização fará todos saírem. Infelizmente isso não vai trazer meu pai de volta, mas ajudará outras pessoas”, declarou. O deputado Mario Frias defendeu a anistia como pacificação: “anistia já foi usada no Brasil como forma de pacificação. As diferenças políticas devem ficar no campo das ideias. Democracia é isso”.

Apesar de ser o maior ato realizado no ano, personalidades da esquerda pequeno-burguesa reagiram ao ato nas redes sociais com escárnio. O ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, escreveu no X: “mais uma vez a extrema-direita fracassa em sua sórdida tentativa de desestabilização das instituições democráticas”.

Ele criticou a ausência de pautas como soberania e isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil: “não vi bandeiras em defesa de nossa soberania, de nossos trabalhadores e empresários, ou de projetos fundamentais ao povo, como o da isenção do IR para quem ganha menos de 5 mil reais e que beneficia mais de 20 milhões de brasileiros”.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), afirmou: “fracassou novamente. Pouca gente, apesar da quantidade de ônibus e da estrutura financiada pelo Tarcísio”. Na mesma linha, o deputado André Janones (Avante-MG) ironizou: “os bolsonaristas disseram que teriam 1 milhão na Avenida Paulista pedindo anistia. não conseguiram encher nem um quarteirão inteiro anistia é o caralho”.

Já a deputada Erika Kokay (PT-DF) repetiu o mantra dos esquerdistas para os atos da extrema direita, dizendo: “flopou! o ato golpista pela anistia teve só 1/4 do público de um ano atrás — segundo o Monitor do Debate Político. nem com ônibus contratados na porta da Paulista conseguiram encher. perderam o povo, perderam a rua, perderam a narrativa”.

Presidente da Embratur, Marcelo Freixo (PT-RJ) também comentou no X: “flopou no Rio, flopou em SP. nem a base bolsonarista mais radical tá topando ir para as ruas defender criminoso. pela primeira vez na história, quem tentou dar golpe no Brasil vai para a cadeia”. Já o jornalista Thiago dos Reis, comparou o ato com a manifestação anti-anistia de 30 de março, liderada por Lindbergh Farias e Guilherme Boulos (PSOL-SP), para repetir: “flopou!! Bolsonaro não enche nem meio quarteirão da avenida Paulista!! o ato do @lindberghfarias é @GuilhermeBoulos tinha quase o mesmo número de pessoas sem ter divulgação da imprensa e sem o Instagram manipular algoritmo pra eles!!”.

Apesar das ironias tolas dos esquerdistas, a manifestação foi a maior de 2025, superando o ato de Copacabana e por uma margem muito grande, qualquer outra mobilização feita pela esquerda desde a posse do presidente Lula, incluindo o ato de 30 dc março, que pedia mais punição, cadeia e ataques aos direitos democráticos. Acima de tudo, mostra que diferente do que dizem os esquerdistas, as reivindicações democráticas e o repúdio à ditadura judicial são questões muito populares, colocando uma parte majoritária das organizações da esquerda brasileira em oposição com o povo.

Gostou do artigo? Faça uma doação!