No último domingo, dia 9 de março, a Revista Movimento, ligada ao Movimento Esquerda Socialista (MES), do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), publicou um artigo intitulado Oscar 2025: uma vitória que fortalece a luta democrática. A matéria é assinada por Israel Dutra, membro da Direção Nacional do PSOL e do MES. Vamos aos argumentos:
“Para além das qualidades cinematográficas do filme, despertou o debate sobre a memória, os resquícios da ditadura e a luta no presente contra Bolsonaro e os golpistas.”
O que a Revista Movimento vê como golpistas no Brasil hoje não os setores que protagonizaram o golpe de 2016, ou o golpe de 2018 que levou à vitória eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) ao retirar Lula das eleições. Para o PSOL, golpistas são os poucos milhares de bolsonaristas que protestaram no 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
“É preciso aproveitar o ambiente político favorável à discussão para colocar as principais contradições na ordem do dia, ampliando a mobilização contra a anistia aos golpistas contemporâneos ao redor do bolsonarismo e colocando a extrema direita em uma defensiva política e social.”
O trecho destacado demonstra ser a política do PSOL uma política profundamente apoiada no imperialismo. Quando o artigo fala em “ambiente político favorável”, ele se refere à premiação no Óscar, uma premiação da indústria cinematográfica norte-americana. Em outras palavras, um prêmio de uma peça chave da máquina de propaganda do imperialismo dos Estados Unidos, com laços profundos com a indústria militar imperialista e o capital financeiro.
Sobre o próprio filme premiado, trata-se de um produto da Globo Filmes, que apoiou não apenas a ditadura militar no Brasil, como o golpe de 2016 e sua continuidade em 2018, que empossou Jair Bolsonaro. Ou seja, o “ambiente favorável” do PSOL é o apoio do imperialismo a uma determinada política. No caso, a política de atacar os direitos democráticos de Bolsonaro para viabilizar a terceira via, campo político central dos agentes imperialistas no Brasil, para as eleições no ano que vem.
Portanto, as “principais contradições” citadas, entre o bolsonarismo, representante de uma ala da burguesia nacional, e o imperialismo, o capital financeiro internacional que estrangula o País, deveria ser aproveitada não para enfraquecer o imperialismo, que garantiu com sua ofensiva, em 2016, a radicalização da direita, e pariu o bolsonarismo, mas para combater o bolsonarismo em nome do imperialismo, e impulsionar a política deste último.
Assim, o combate ao golpismo do PSOL se dirige não contra os golpistas que derrubaram Dilma Rousseff e empossaram Jair Bolsonaro, mas se dirige a apoiar esses golpistas, e contra os pobres coitados que foram presos por protestar em Brasília. Para o PSOL, colocar a extrema direita na defensiva é algo que não se faz, portanto, com uma política própria, com uma política da esquerda, dos trabalhadores, mas junto, ou melhor, a reboque do grande capital internacional, segundo a sua política. A reboque dos monopólios, dos vampiros que escravizam todos os povos do mundo. E continua a Revista Movimento:
“O processo de transição que envolveu as eleições indiretas, o debate da Constituinte de 1988 e o arranjo político que daria origem à Nova República restituiu direitos sociais e políticos fundamentais, mas deixou muitas tarefas pendentes.
“O caráter incompleto da transição à democracia foi uma das marcas do novo regime nascido em 1988, preservando boa parte da estrutura militar e policial da ditadura.”
Curiosamente, o PSOL deixou de fora a preservação da estrutura do Judiciário brasileiro, ou mesmo da estrutura política do regime, com o monopólio da Rede Globo, um produto da ditadura que permanece até hoje como um dos principais atores no cenário político brasileiro. Enquanto oculta tais fatores centrais no Brasil hoje, continua o artigo:
“Como um pesadelo recalcado, os militares seguiram com privilégios e benefícios, atuando nas sombras e alimentando um caldo de cultura que seria a base material para Bolsonaro e seu círculo mais íntimo. A recente intentona golpista de 8 de janeiro de 2023 abriu novamente o debate sobre essas chagas e a necessidade de evitar um novo pacto de anistia.”
Ora, mas a base material para Bolsonaro não foi um caldo de cultura gestado pelas Forças Armadas. Justamente, o fator de impulsão para a extrema direita foi a crise econômica provocada em grande medida pelo imperialismo e sua influência no Brasil durante o governo Dilma, e a crise política, produzida sob uma forte campanha de tipo golpista, levada adiante pelo PSDB, pela Globo, pela Folha, pelo Estado de S. Paulo. Bolsonaro, nesse sentido, é um produto, apenas, deste setor, considerado pelo PSOL como “democrático”, como demonstrado a seguir, ainda que de maneira implícita:
“Portanto, a luta pela memória e a questão da anistia é mais atual do que nunca e está diretamente conectada com os enfrentamentos atuais da esquerda e de todo um amplo campo democrático antifascista que serve de barreira aos golpistas da extrema direita do século XXI.”
O “amplo campo democrático” do PSOL é justamente a subserviência ao “amplo campo” da direita tradicional, da Rede Globo, uma das maiores chagas presentes no Brasil hoje. A barreira contra a extrema direita é, nesse caso, no máximo, uma contenção temporária, até que o imperialismo julgue conveniente utilizá-la contra os trabalhadores. Enquanto isso, é conveniente colocar a esquerda a seu reboque, buscando anular assim ambos os campos da polarização, fruto da insatisfação popular.
A conclusão do PSOL é emblemática, trata-se de impulsionar a capacidade repressiva do Judiciário, especialmente no que tange a perseguição política:
“Nos cabe canalizar toda a comoção ao redor do filme já clássico para organizar forças sociais e ampliar nossa luta contra os golpistas de hoje.
“Para isso, é essencial estarmos juntos impulsionando as diversas iniciativas e mobilizações pela punição exemplar de Bolsonaro e seus asseclas, contra a anistia aos golpistas da extrema direita e em defesa de uma agenda de mudanças que ganhe maioria social para enfrentar a extrema direita e vencer. As manifestações do próximo dia 30 de março serão um momento importante para ocuparmos as ruas nessa luta.”
A “maioria” social do PSOL é a maioria permitida, submetida ao Judiciário burguês. A extrema direita não é um adversário político de fato para o partido, é apenas um inimigo de conveniência, pois o PSOL busca ocupar o mesmo campo que a terceira via. Assim, não faz diferença para o partido sequer mencionar os trabalhadores, a classe operária. Para o PSOL, o que vale é estar sob o guarda-chuva do imperialismo, dos reais e maiores golpistas que o Brasil já viu.