A Confederação Israelita do Brasil (Conib) divulgou um relatório alegando que o que chamou de casos de “antissemitismo” no Brasil teriam aumentado 26% no ano de 2024. Segundo a entidade, naquele ano, foram registrados 1.788 casos, contra 1.410 em 2023. Em 2022, antes da heroica Operação Dilúvio de Al-Aqsa, quando a Resistência Palestina expôs ao mundo inteiro a crueldade do Estado sionista, foram registrados 397 casos.
“O antissemitismo deixou de ser algo isolado. Ele está nas redes, nas ruas e, muitas vezes, é ignorado. Nosso relatório mostra que não dá mais para fechar os olhos — é hora de reagir”, disse o presidente da Conib, Claudio Lottenberg, em artigo do Poder360 sobre o relatório.
A entidade alega ainda que a maior parte dos casos (24,61%) foi registrada em São Paulo, onde vive a maior comunidade judaica brasileira e também onde vive a maior parte da classe operária do País. Em seguida, aparecem Rio de Janeiro (9,51%) e Rio Grande do Sul (8,17%).
Segundo o seu sítio oficial, a Conib seria uma “instituição de representação e coordenação da comunidade judaica do Brasil, a segunda maior da América Latina, com 120 mil judeus, antecedida apenas pela Argentina”. Não é fato.
Em primeiro lugar, a Conib é uma confederação israelita, e não judaica. São coisas diferentes.
O termo “israelita” se refere aos descendentes diretos do antigo povo de Israel, cujas origens remontam às 12 tribos bíblicas e à criação do Reino de Israel. A rigor, não existem mais “israelitas”. No entanto, o termo é utilizado pela propaganda sionista para criar um pretexto para ocupar as terras palestinas. Os “israelitas” seriam os supostos descendentes de um povo que viveu naquelas terras; portanto, seria seu direito cometer crimes de guerra para retomá-las.
A comunidade judaica, por sua vez, é um termo muito mais abrangente, que pode ser utilizado para identificar todos os judeus ao redor do mundo, independentemente de sua relação com o Estado de “Israel” ou com o sionismo. Esta comunidade inclui uma diversidade de grupos com distintas origens geográficas (judeus asquenazitas, sefaraditas, mizrahim etc.) e correntes, como ortodoxos, conservadores etc.
A generalização feita pela Conib ignora as várias correntes do judaísmo, incluindo os judeus que não se identificam com o sionismo ou com a ideia de um Estado judeu como única expressão do povo judeu.
Ao contrário do que diz a Conib, ela é a representante do sionismo no Brasil. E como o sionismo hoje significa a defesa da existência do Estado de “Israel”, é uma ideologia diretamente vinculada a este Estado. Não existe sionismo sem que ele seja impulsionado, defendido e financiado pelo Estado de “Israel”.
Neste sentido, a Conib, na medida em que é um escritório de assuntos sionistas no Brasil, é necessariamente um escritório de assuntos israelenses. É inconcebível que aquela que se diga representante do movimento sionista no maior país da América Latina não seja diretamente ligada aos interesses de Estado de “Israel”.
Não por coincidência, a Conib foi fundada exatamente em 1948, no mesmo ano em que “Israel” foi fundado. O próprio sítio oficial da instituição alega que “a instituição tem como seus pilares […] garantir a soberania e legitimar a existência do Estado de Israel [grifo nosso]”.
Também é igualmente lógico dizer que o setor do Estado de “Israel” que está vinculado à Conib é aquele composto por seus serviços de inteligência – em especial, o Mossad. Afinal, o próprio Estado é controlado pelo Mossad. E um assunto como este, que diz respeito à organização do movimento sionista em outros países, é uma preocupação típica de um serviço de inteligência.
O sítio da Conib também afirma que seu intuito é “a preservação da memória e da não banalização do Holocausto, contra o antissemitismo e contra o discurso de ódio”. Isto apenas confirma o que dissemos sobre suas relações com os serviços de inteligência de “Israel”.
A principal atividade dos serviços de inteligência de “Israel” no exterior é a perseguição àqueles que denunciam os seus crimes. Esta perseguição, por sua vez, raramente aparece da forma como realmente é: uma censura que visa esconder o assassinato de crianças, o bombardeio de hospitais, o estupro de mulheres e o bloqueio de alimentos. Aparece como uma suposta preocupação com o “antissemitismo” e com o “discurso de ódio”.
A manobra é a mesma que a própria Conib executa em seu sítio oficial. Para ela, só é judeu quem é “israelita” – isto é, sionista. Logo, criticar o sionismo é criticar o judaísmo e, portanto, antissemitismo. A Conib equipara uma crítica política a um Estado terrorista, como “Israel”, às práticas da Alemanha Nazista que, muito além de criticar os judeus, os assassinava nas câmaras de gás.
Chama a atenção que, de acordo com o próprio relatório da Conib, a maioria dos casos de “antissemitismo” aconteceram na Internet. Foram 1.310 em 2024, 73% do que foi registrado no total.
“O ambiente digital virou o grande palco de antissemitismo no Brasil e no mundo, saltando de 51% em 2022 para 73% de todas as denúncias recebidas em 2024”, diz trecho do relatório.
Essa declaração desmascara a farsa. A Conib apresenta o seu relatório como se os judeus estivessem sendo caçados no Brasil. No entanto, basta uma leitura superficial para se chegar à conclusão que os casos de “antissemitismo” não passam de publicações feitas na Internet. Isto é, não passam de discursos, o que, sob nenhum aspecto, configura crime. Pelo contrário, são opiniões resguardadas pelo artigo 5º da Constituição Federal.
O relatório informa ainda que a principal rede social onde aconteceram tais casos foi o X. Esta, no entanto, é apenas a décima plataforma mais utilizada no Brasil. Por que, então, ela seria responsável por 48% dos casos de “antissemitismo”?
O motivo é simples. Porque o X, ao contrário de outras plataformas, não é controlado diretamente pelos serviços de inteligência norte-americanos e sionistas. E, portanto, a política do Mossad e do Conib não é tão efetiva por lá. Este dado, no entanto, serve apenas para demonstrar o quanto “Israel” exerce uma pressão pela censura da dissidência na Internet.
Os casos que ocorreram fora da Internet também chamam muito a atenção. Segundo o relatório, dentre as principais manifestações de “antissemitismo”, estariam “agressões verbais” – isto é, xingamentos -, “agressões físicas” – das quais não se tem notícia -, “pichações” e “vandalismo”.
As “agressões verbais”, que constituem o principal tipo de casos fora da Internet, são praticamente a mesma coisa que as ocorrências nas redes sociais. São críticas políticas ou, no máximo, ofensas. A única coisa que poderia ser levada a sério se a Conib quer pintar um quadro de perseguição aos judeus seriam as agressões físicas.
Ocorre que, durante o ano de 2024, apenas sete denúncias foram registradas. Atenção: sete denúncias! Nem sequer se sabe se elas de fato ocorreram.
Se levado em consideração que tudo o que a Conib diz é verdade, o relatório não prova absolutamente nada. No entanto, uma análise mais aprofundada revelará que o documento da Conib é um calhamaço de mentiras, fazendo jus à maior especialidade do Mossad.
Entre as “provas” apresentadas pela Conib, está, por exemplo, fotos de um “desfile tradicionalista alemão com um calhambeque exibindo uma bandeira nazista, com a suástica substituída pela águia da família imperial prussiana”. É uma apologia do nazismo, sim. Mas não é um ataque aos judeus. Não poderia estar no relatório da Conib. Da mesma forma, não poderia estar no relatório cartazes festejando o aniversário de Adolf Hitler pelas ruas de Itajaí, em Santa Catarina.
Vejamos agora a parte das “pichações”:
“Israel mata crianças por prazer”.
Não é um caso de antissemitismo. É uma pichação que diz apenas o que até organismos internacionais controlados pelo imperialismo já disseram. O atual primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, é considerado um genocida e, inclusive, teve pedido de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Outro caso que chama muito a atenção é o de um mural, onde se lia “Palestina livre, do Rio ao Mar”. Se isso é uma demonstração de antissemitismo, então milhões – ou talvez bilhões de pessoas – estariam presas. Afinal, esta é provavelmente a palavra de ordem mais cantada nos protestos de solidariedade ao povo palestino. Ela simplesmente defende que o povo palestino tenha o direito de viver sem uma ocupação militar estrangeira.
Por fim, chegamos às perseguições de lideranças e organizações políticas. No relatório, a Conib afirma que um “líder de partido à esquerda” teria conclamado à “eliminação do estado de Israel”. A crítica política foi classificada pela entidade como uma agressão! Clamar o fim de um Estado racista e genocida é visto como um escândalo para a Conib. No entanto, a mesma entidade foi incapaz de se manifestar quando israelenses em Santa Catarina cantaram “morte aos árabes”.
A Conib também anexou uma foto de uma manifestação em que o Estado de “Israel” era comparado ao nazismo. Para a Conib, isto seria a “banalização do holocausto”. Isto é, banalizar o sofrimento dos judeus seria denunciar que pessoas covardes utilizem o sofrimento dos judeus para justificar suas práticas criminosas.
O relatório é uma farsa. No entanto, ainda que não fosse, ainda que fosse real que os casos de “antissemitismo” tivessem aumentado em 350% em dois anos, ele apenas revelaria o espírito revolucionário e infinitamente solidário da Resistência Palestina. Afinal, após tantos crimes cometidos contra a população da Faixa de Gaza, o fato de existir um movimento internacional politizado, que distinga o sionismo da comunidade judaica, mesmo quando os israelenses usam a religião para justificar seus crimes, é impressionante.
Ainda que farsesco, o relatório aponta para uma tendência muito preocupante da situação política brasileira. Ela mostra que o Mossad, que tem uma influência muito grande sobre as instituições, está pressionando as autoridades para aumentar a perseguição contra aqueles que se voltam contra o Estado terrorista de “Israel”.