Ontem, dia nove de setembro, foi publicada no Brasil 247 uma coluna de autoria de Hildegard Angel intitulada “O julgamento do STF”, na qual a autora busca dar sua opinião sobre o processo contra os bolsonaristas. No entanto, ao invés de se ater aos fatos e julgar os atos supostamente ilícitos, Hildegard busca expressar sua opinião moral sobre os envolvidos.
Logo no primeiro parágrafo, se lê:
“Há quem não se dê conta do momento fundamental que vivemos hoje, quando, pela primeira vez na República, o Estado Democrático de Direito é defendido, com o Supremo Tribunal Federal julgando e na iminência de condenar um movimento golpista, seu ‘grande líder”, Jair Bolsonaro, e toda a quadrilha de meliantes.”
Logo no início é interessante notar como a autora realmente acredita que o que vigora no Brasil é um Estado Democrático de Direito e que o responsável por sua proteção é o STF, o mesmo STF que permitiu o golpe dado contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016 e que impediu que Lula disputasse as eleições de 2018, o que resultou justamente no governo de Bolsonaro.
Na sequência do texto, Hildegard dá sua opinião sobre os réus:
“Uma corja, com militares covardes, que sequer têm o brio de reconhecer o que articularam. Que dão soco na mesa, mas não batem no peito para assumir posições ideológicas. Comparem um Braga Neto com um Fidel Castro; um Che Guevara com um general Heleno ou mesmo um general Paulo Sérgio Nogueira, um almirante Garnier, um Mauro Cid com um Marighela, um Lamarca, um jovem Stuart, uma Dinalva, uma Sônia e demais corajosos, que enfrentaram a morte em nome de legítimos ideais.”
É difícil de entender qual o propósito das comparações. De qualquer forma, qual a importância de não ser comparável a Fidel Castro, Che Guevara e Lamarca com o caso?
A lição que se tira, portanto, é a de que as pessoas que não se comparem com essas personalidades importantes da história da América Latina deveriam ser condenadas de qualquer forma? Mesmo que não haja provas, mesmo que não tenha havido sequer a tentativa de golpe de Estado, pois, aquilo que ocorreu no dia 8 de janeiro de 2023 nem mesmo se parece com um golpe de Estado, de qualquer maneira, os bolsonaristas não deveriam ter direitos em um suposto Estado Democrático de Direito por sua moral menos elevada do que a de revolucionários históricos?
Também não faz sentido a comparação pois, ao ler o texto, a impressão que se tem é a de que a moral e a coragem dos juízes do caso são muito superiores em relação à dos bolsonaristas, o que é completamente falso. Os ministros do STF, por exemplo, entraram em pânico com as sanções de Trump que atacam seus cartões de crédito, algo insignificante frente à repressão da ditadura militar, por exemplo. Fora isso, qual seria o princípio político de pessoas que deram o golpe de 2016 e garantiram a eleição de Bolsonaro em 2018 impedindo Lula de concorrer?
Na sequência, os supostos motivos para o suposto golpe:
“Ou melhor, dando em troca a tentativa de mais um golpe contra a Democracia, para instalar nova ditadura sanguinária no Brasil, massacrando a inteligência, a ciência, a cultura, o presidente eleito, o vice, o presidente do TSE. Seu grande “heroísmo” seria ‘passar o rodo’ nas inteligências, em autoridades e nos brasileiros combativos idealistas para entregar o país a seus gananciosos interesses pessoais.
Armaram um golpe, pensando nas comissões que receberiam na venda das estatais, dos minérios, das florestas, no contrabando de ouro e madeira, franqueando o país ao tráfico de drogas, ao PCC e demais movimentos do crime organizado. Recebendo uns trocos no comércio de armas com Israel, umas joias na venda de refinarias aos árabes, um campo petrolífero em troca de uma casa “tacky” em Miami.”
Novamente, a moral de quem está condenando não é maior do que a dos bolsonaristas. Lula havia dito durante a campanha eleitoral que não realizaria privatizações, agora privatiza as hidrovias, privatizou a gestão de grande parte das terras indígenas e seu ministro Fernando Haddad participou do evento de privatização do túnel Santos-Guarujá, que nem está pronto, junto com o vice de Lula e Tarcísio.
Já em relação a “Israel”, o governo ainda não rompeu relações e permite que petróleo brasileiro seja enviado para o Estado genocida que ocupa a Palestina.
A realidade é que em nenhum dos textos abordando a questão do julgamento contra o bolsonarismo por parte da esquerda o leitor encontrará referência às provas de que houve uma tentativa de golpe de Estado e que Bolsonaro participou dessa tentativa. O que colocam no lugar são, ou frases como “há muitas provas”, sem nunca mencionar que provas seriam essas, e, como é o caso da coluna de Hildegard, xingamentos e ofensas contra os bolsonaristas.
O motivo para a prisão de Bolsonaro, portanto, seria o de que a autora da coluna acredita que Bolsonaro é uma má pessoa. O problema é que quem julga é o Estado capitalista, não a esquerda. No fundo, os ministros do STF têm as mesmas crenças que os bolsonaristas e só os julgam hoje por uma questão extremamente necessária para sua política, não por discordarem de suas posições. Amanhã, com o regime político estabilizado, a esquerda estará no lugar dos bolsonaristas e o fato de que esse tempo todo tenha ficado a favor das arbitrariedades judiciais do STF cairá em sua própria cabeça.




