Estados Unidos

Comparados à CIA, Musk e Trump são freiras católicas

Articulista quer fazer crer que o presidente Donald Trump introduz algo novo ao transformar o governo em um balcão de negócios para bilionários

No artigo Insegurança global: big techs e riscos de apagão cibernético no sistema financeiro e no setor militar, publicado no portal de esquerda Brasil 247, o escritor Laurez Cerqueira afirma que
“Apesar de ser a maior potência econômica, tecnológica e militar do planeta, os Estados Unidos enfrentam uma contradição política tão grave que está levando o país ao desmanche institucional, que ameaça perigosamente a ameaça à democracia.”
Cerqueira quer fazer crer que o presidente Donald Trump introduz algo novo ao transformar o governo em um balcão de negócios para bilionários, mas isso é a essência dos governos burgueses desde pelo menos o século XIX, quando a atual classe dominante já exercia sua ditadura nos Estados Unidos e na Europa. Falar em “ameaça à democracia” revela uma ilusão pueril sobre o sistema político burguês, que nunca foi outra coisa senão uma fachada para a exploração das massas. Essa ingenuidade se torna ainda mais gritante no parágrafo seguinte:
“As eleições não elegem mais presidentes da República, estadistas, como no passado, mas gerentes de negócios dos novos oligarcas, bilionários. O desprezo por cidadãs e cidadãos é cada vez mais evidente. Donald Trump e Elon Musk são a expressão do desespero dos Estados Unidos diante da China.”
O autor parece ter engolido a propaganda burguesa sem mastigar. Quando Barack Obama foi celebrado como “primeiro presidente negro da história dos EUA”, a máquina propagandística vendeu uma imagem de progresso para iludir as massas, mas seu governo foi um servo fiel dos monopólios – bancos e petroleiras em especial – que turbinaram a “Guerra ao Terror”, massacrando africanos e árabes em níveis industriais. Em 2009, Obama já retomava a política de golpes na América Latina, como em Honduras, para realinhar a região aos interesses imperialistas.
Muitas décadas antes dele, Harry S. Truman, outro “estadista”, criou “Israel” em 1948, esmagando os direitos dos palestinos e dos povos árabes com a bênção do imperialismo, que seguiu a mesma política com distinções muito sutis, mas em todos os governos que separam os dois mandatários. Esses presidentes, e todos entre eles, foram gerentes dos verdadeiros oligarcas, piores do que os setores mais frágeis da burguesia norte-americana, da qual Trump faz parte e que Cerqueira lamenta agora. Diferenciar Trump deles é, na prática, uma defesa dos monstros que pavimentaram o caminho para a crise que levou ao atual mandatário.
Essa visão míope ganha contornos absurdos quando analisamos os “crimes” de Trump. Até março de 2025, suas ações mais notáveis incluem pressionar pelo fim da guerra genocida de “Israel” contra os palestinos em Gaza e também pelo término do conflito na Ucrânia – guerras que só interessam ao imperialismo em sua sanha por dominação. Em condições normais, esses primeiros meses já seriam o suficiente para fazer de Trump o presidente mais pacifista que os Estados Unidos já tiveram em mais de cem anos.
Biden, por exemplo, financiou o massacre de crianças palestinas com bilhões em armas, enquanto Truman lançou duas bombas nucleares sobre Hiroxima e Nagasáqui, matando centenas de milhares de civis japoneses. A diferença que Cerqueira enxerga é uma miragem, e sua crítica a Trump acaba absolvendo os verdadeiros carrascos da humanidade.
A ilusão de Cerqueira atinge o auge em outro trecho, onde eleva Elon Musk a um vilão de proporções cósmicas:
“O senhor Elon Musk tem o mundo em suas mãos. O nível de acesso dele a informações do Estado não tem limites. A grande gambiarra do sistema financeiro internacional e da área militar, por exemplo, são dependentes das big techs e dos satélites do senhor Musk. Dinheiro, hoje, são dígitos, que circulam pelas redes sustentadas por satélites.
Para se ter uma ideia do perigo, recentemente, ele disse numa entrevista que se mandasse desligar o sistema de segurança militar da Ucrânia, mantido pela Starlink, uma de suas poderosas empresas de satélites, as forças armadas ucranianas entrariam em colapso. Um recado para o mundo.”
Nada do que assusta o autor é uma novidade para quem viu como os EUA, por exemplo, desligarem os radares iugoslavos antes de lançarem suas tempestades de bombas aéreas sobre Belgrado, ainda nos anos 1990, o que mostra que muito do pânico de Cerqueira vem realmente de uma mistura de ignorância com ilusões. Isso dito, porém, em que Musk se diferencia dos homens de Estado dos Estados Unidos nos últimos cem anos? O texto não responde, porque não há resposta.
O alarmismo sobre Musk desligar a Starlink na Ucrânia ignora que o Pentágono e a CIA já manipulavam nações inteiras com menos tecnologia – vide os golpes no Chile em 1973 ou no Irã em 1953. A argumentação de Cerqueira ecoa a propaganda imperialista que pinta Trump e Musk como aberrações, enquanto Biden, Obama, Clinton, Jimmy Carter, Kennedy e Truman são tratados como “civilizados”. Basta olhar o sangue nas mãos de ambos – o genocídio palestino sob Biden e as cinzas radioativas de Nagasáqui sob Truman – para ver que tal “civilidade” não passa de um mito oriundo do fato destes servirem o imperialismo, ao contrário de Trump, que expressa a cisão na burguesia norte-americana e por isso mesmo, precisa ser disciplinado pelos grandes monopólios.

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