O jornalista Bepe Damasco publicou um artigo no portal de esquerda Brasil 247, intitulado A tempestade perfeita e o cerco ao governo, criticando o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por “não esboçar nenhum movimento para disputar a narrativa da agenda política e econômica do país diariamente com a imprensa comercial”. Para Damasco, “o governo teima em não enxergar” a campanha promovida pelos monopólios de imprensa, que em sua avaliação, fazem algo que “não é jornalismo, é militância política de direita”, diz, acrescentando:
“O massacre midiático incessante, por exemplo, é sem dúvida um dos elementos importantes do cerco ao governo que não vem merecendo a atenção devida. Canais de notícias 24 horas, como a GloboNews, dão tratamento editorial até às notícias mais banais, promovendo um autêntico vale tudo para desgastar Lula e seu governo.”
O problema é que esse “massacre midiático” não é algo novo. Isso sempre existiu contra os opositores do imperialismo, em especial contra a esquerda. Podemos ver que o bolsonarismo também é alvo de uma campanha do gênero, embora em uma medida bem menor. A “tempestade perfeita” a que Damasco se refere, na verdade, deve-se à própria conjuntura, pois a combinação da fome natural da máquina de propaganda imperialista com as políticas direitistas do governo (sobretudo no campo econômico) cria condições que favorecem os ataques denunciados por Damasco.
Ele próprio, por exemplo, acaba ajudando essa direitização ao defender que “governo Lula 3 é a gestão petista que mais entregou resultados em dois anos de mandato”. Nem isso é verdade e nem a questão do Pix era uma “fake news”, como diz também o jornalista. No mundo real, a população não sente isso e aí, não importa quantas mudanças sejam feitas na comunicação, a realidade da carestia e da pobreza da população sempre irá se impor.
Apesar da tese de que “Lula 3 entregou resultados”, Damasco reconhece que a economia apresenta problemas e diz:
“É preciso que os preços sejam reduzidos a um patamar que caiba no orçamento das pessoas, ou seja, que faça a diferença no bolso do consumidor. Vejamos o caso do café: antes da pandemia, um pacote de meio quilo custava em torno de R$ 9. Agora custa R$ 31 ou R$ 32. De nada adiantará, por exemplo, cair para R$ 30.”
Ocorre que os problemas econômicos enfrentados pelo governo são, acima de tudo, decorrentes da aliança entre o PT e a direita tradicional, imperialista, mantido, supostamente, a título de favorecer a governabilidade, mas que na realidade, favorece a direita inserida no Executivo e enfraquece o Palácio do Planalto. As medidas adotadas pelos ministros da Fazenda Fernando Haddad, do Planejamento Simone Tebet e o presidente do Banco Central Gabriel Galípolo, isto é, a equipe econômica do governo Lula, não se devem a equívocos, mas ao atendimento das reivindicações dos bancos e demais setores da classe dominante representados pela frente ampla.
É dessa aliança que se produz os cortes orçamentários de Haddad e Tebet e a política de juros asfixiante, que enriquece os piores criminosos do planeta enquanto empobrece o povo brasileiro. Finalmente, desse arranjo político que tenta unir classes sociais antagônicas é que surgem as contradições responsáveis por desmoralizar o governo junto à população e, consequentemente, produzir a crise de que trata Damasco, que ao defender ilusões quanto ao que foi “entregue”, termina fazendo uma defesa velada da frente ampla.
Vendo esse desenvolvimento, a população sente que elegeu um governo para resolver os seus problemas mais urgentes, principalmente a questão da carestia, mas, ao invés de encontrar um governo que aumente os salários até que se tornem condizentes com o custo de vida, tem um que limita o reajuste salarial em praticamente nada. No lugar de uma política desenvolvimentista que faça a economia crescer e com isso, aumente a produção para controlar a inflação – não pela supressão do consumo, mas pelo aumento da oferta -, a política orientada pelos interesses da direita frente-amplistas mantém a devastação econômica do País.
Com isso, o governo que depende do apoio popular para se manter em pé termina em crise com sua base social, os trabalhadores. Atentos a isso, a direita não perde tempo e coloca Lula contra a parede, o que é esperado que ocorra.
Antes de reformular novamente a estratégia de comunicação ou discutir medidas econômicas superficiais, é preciso ir ao centro do problema e romper com a frente ampla, demitindo Haddad e todos os direitistas infiltrados no governo. Sem isso, as condições para uma “tempestade perfeita” permanecerão assim, qualquer que seja a fagulha a provocá-la.