Antes da criação do Estado de “Israel” a esmagadora maioria dos judeus viviam fora da Palestina. O movimento sionista tentava convenvcer a população a imigrar mas a posição majoritaria dos judeus era de não sair da Europa ou ir para os EUA. Os setores mais religiosos se opunham a criação do Estado judeu por motivos puramente religiosos, a principal linha do judaismo considera que os judeus não devem migrar em massa para a Palestina. Assim, os sionistas tiveram de cooptar um setor desses judeus religiosos, principalmente dentro da própria Palestina.
O jornal Hamodia relata as discussões em 1947, ano em que o imperialismo discutia a criação do Estado de “Israel” na ONU. Ele relata que em uma reunião do Comitê Executivo da Agudat Israel, partido dos judeus ortodoxos, em 20 de janeiro de 1947 Yitzchak Meir Levin declarou:
“Dizer, com plena consciência, que somos totalmente a favor de um Estado é difícil enquanto não houver garantias para os assuntos religiosos. Um Estado judaico em Israel que não seja governado de acordo com a Torá é um chillul Hashem (profanação do nome divino) entre judeus e gentios e um perigo para a religião.
No entanto, assim como é impossível dizer, com plena consciência, que somos a favor de um Estado, também não podemos dizer que somos contra ele sem causar um chillul Hashem. Nesse caso, toda a responsabilidade recairá sobre nós, e culparão os judeus ortodoxos por arruinar e fazer fracassar o projeto. A posição do Rav Dushinsky e do Rav de Brisk também é de não se opor”.
O Agudat Israel foi duramente reprimido pelos sionistas na década de 1930, ele então abandonou sua posição antissionista e aderiu a uma posição centrista. Para não revoltar a sua base religiosa, tradicionalmente antissionista, criaram a tese de que o Estado criado seguiria a Torá.
E o texto continua: “Agudat Israel iniciou intensas negociações com a Agência Judaica [movimento sionista] para garantir as condições básicas de observância da Torá no futuro Estado. Foi por isso que os sionistas estavam determinados a alcançar algum tipo de compromisso com a Agudat, levando ao acordo de ‘status quo’ alcançado no verão de 1947, estabelecendo um quadro de coexistência que ambos os lados aprenderiam a aceitar”.
Já o jornal Yated relata que:
“Os líderes da Agudat enfrentavam algumas questões extremamente difíceis e complexas, incluindo: Deveriam eles comparecer independentemente perante o Comitê Especial da ONU para a Palestina? Deveriam eles protestar veementemente contra a ideia de um Estado judeu liderado por judeus seculares? Se sim, essa oposição convenceria a ONU a não aprovar um Estado judeu e, portanto, manter as portas para a Grande Israel fechadas, afetando adversamente os sobreviventes nos campos de DP?
A Agência Judaica ameaçou os judeus ortodoxos com medidas extremas e antirreligiosas no futuro Estado, caso se posicionassem contra o Estado. Ao mesmo tempo, prometeram se comprometer com várias condições relacionadas à religião e assuntos judaicos se os ortodoxos apoiassem o Estado. Isso deveria ser levado em consideração?
Em uma carta escrita no verão de 1947 pelo Rav Levin a Moreinu Rav Yaakov Rosenheim, Rav Levin escreve que todas as organizações judaicas, exceto a Agudat Israel, apoiaram um Estado judeu. A posição que os gedolei Israel [lideranças ortodoxas] haviam tomado era não votar a favor do Estado judeu, mas também não votar contra ele”.
O que acontece é que a tendencia antissionista dentro do judaismo era forte demais para que eles apoiassem a criação de um Estado judeu, algo totalmente proibido segundo os textos sagrados do Talmude. Mas a liderança mais firme desses judeus ortodoxos estava sendo perseguida e assim o Agudat Israel ficou sob a direção de setores conciliadores, e assim assumiram essa posição centrista. Eles não quiseram comprar a briga com o inimigo que eles já previam que seria vitorioso.
Alguns setores dos judeus antissionistas atuais, como o Naturei Karta, consideram que esse bloco do Agudat Israel é “assionista”. Eles aceitam a existência de “Israel” mas ao mesmo tempo não se opõem a movimentos que sejam contra a sua existência. Para eles o importante é que continuam vivendo na Palestina e praticando o judaísmo. Nesse sentido eles não se opõem à criação de um Estado da Palestina.
Pode se considerar que os motivos para eles assumirem essa posição em 1947 foram alguns: Não podiam apoiar publicamente algo que não fosse governado pela Torá, porque isso seria um chillul Hashem (profanar o nome de D’us); Também não podiam se opor publicamente, porque isso poderia levar à acusação de que os ortodoxos estavam impedindo o retorno dos judeus à sua terra natal e prejudicando a chance de sobrevivência de judeus nos campos de DP; Havia ameaças diretas dos líderes sionistas de que, se a Agudat se opusesse, haveria represálias severas no futuro estado; Eles acreditavam que um acordo, mesmo com compromissos mínimos, seria melhor do que um confronto total com os sionistas.
Assim, com uma mistura de ameaças e recompensas, como o direito dos ortodoxos de não se alistar no exército e poder se dedicar a vida religiosa, eles se abstiveram da decisão. Os sionistas assim tiveram uma conquista importante. Afinal, seria terrível para o movimento se os judeus religiosos, ou seja, os judeus de verdade na Palestina estivesse se opondo a criação do Estado sionista.