Neste sábado (6), começa o módulo 3 do curso Brasil: 500 anos de história, promovido pela Universidade Marxista. Iniciado em 2022, quando se comemorou o aniversário de 200 anos de independência do País, trata-se do mais longo curso já oferecido pela plataforma. Brasil: 500 anos de história terá quatro módulos ao todo — cada um deles subdividido em partes. A primeira parte do novo módulo módulo acontecerá nos dias 6 e 7 de setembro.
O curso Brasil: 500 anos de história é parte de um projeto ainda maior do PCO e da Universidade Marxista: oferecer uma interpretação marxista e revolucionária da história brasileira, algo que, segundo os organizadores, nunca foi realizado de forma consistente e abrangente por historiadores ou mesmo pela esquerda.
O módulo 3 irá discutir o surgimento da República, abordando temas que vão desde a crise final do Império como os primeiros anos do governo de Getúlio Vargas.
O que o último módulo discutiu
As últimas aulas foram dedicadas ao Reinado de Dom Pedro II. O último grande assunto a ser estudado foi a Guerra do Paraguai.
Maior conflito deflagrado na América do Sul, a Guerra do Paraguai é um acontecimento decisivo para a história do País, que vai abalar, de maneira muito profunda, todas as estruturas, inclusive as sociais, brasileiras. A guerra tem uma importância muito grande, inclusive para a abolição. A Guerra do Paraguai é o maior conflito da história da América Latina, mas sua importância vai além disso, por ter sido uma guerra muito popular.
Até então, o Brasil contava com um pequeno exército, dedicado a atender pequenas tarefas. Na época, as forças brasileiras somavam 16 mil homens, contrastando com o Paraguai, que havia mobilizado 100 mil. Para derrotar um exército desse tamanho, era preciso mobilizar a população — o que foi feito com os escravos e ex-escravos.
Os senhores de escravos recebiam uma compensação para permitir a participação dos cativos, ao passo que estes, por sua vez, eram compensados com a libertação. Ainda houve uma intensa mobilização popular de voluntários.
Guardadas as devidas proporções, foi uma guerra similar à guerra entre a Rússia e as forças napoleônicas, que, para serem derrotadas, exigiram uma gigantesca mobilização popular. A derrota de Napoleão foi seguida por uma crise da autocracia russa, devido ao resultado da ampla mobilização popular criada para derrotar os franceses. O mesmo fenômeno ocorreu no Brasil.
Para derrotar o Paraguai, o regime foi obrigado a pedir o auxílio das camadas populares. Durante a Abolição, muitos militares se recusaram a reprimir os escravos, uma vez que muitos viram os negros lutando contra os paraguaios — o que, inclusive, impulsionou a simpatia do Exército pelo movimento abolicionista.
O Brasil tinha, na época, cerca de 10 milhões de habitantes, o que torna a mobilização de 300 mil pessoas um feito impressionante. Existe uma ligação muito grande entre as guerras e as revoluções — e esta não foi diferente. Foi, portanto, uma guerra que teve importância decisiva para definir os rumos do País.
O Paraguai é um país mediterrâneo, sem saída para o mar, o que representa um problema muito sério. O caminho para as rotas marítimas do Paraguai passava pelo rio Paraná, que é dividido com o Brasil. Esse problema geográfico é o “x” da questão.
Cercado por outros países muito maiores e mais poderosos, o Paraguai precisava se expandir. Isso, no entanto, requer condições para acontecer. E, naquele momento, o Paraguai tinha tais condições.
O país tem uma grande fronteira com a Argentina e o Brasil (e com a Bolívia também, embora esta não tenha tanta relevância para o debate). Para exercer seu comércio exterior, o Paraguai precisava de uma saída para o mar que não dependesse do Brasil, da Argentina ou do Uruguai.
Antes da unificação argentina por Rosas, a província de Corrientes havia sido independente por um longo período. Por conta disso, o Paraguai se sentia ameaçado pela Argentina e, naturalmente, também pelo Brasil, um país gigantesco.
Após a morte de Rosas, o Brasil passou a exercer grande influência na Argentina, atuando para barrar as pretensões argentinas sobre o Paraguai. Nesse momento, o Brasil é que passa a representar uma ameaça ao país vizinho.
Um ponto importante a destacar sobre a história do Paraguai é que, até esse momento, o país não estava dominado pelos latifundiários, tendo um governo bastante centralizado. O ditador Francia governou o país de maneira centralizada por duas décadas, sendo substituído depois pelo pai de Solano López, Carlos Antonio López.
A manutenção dessa ditadura permitiu um grande desenvolvimento do Paraguai. Como não era uma ditadura dos latifundiários, acabou adquirindo um caráter bastante progressista.
Uma das armas do Paraguai foi uma siderurgia muito desenvolvida, base para a modernização da indústria naval e das forças armadas — a exemplo do que a Rússia fez. Num primeiro momento, essa modernização visava defender o país dos vizinhos maiores. Com Solano López, o Paraguai já estava suficientemente desenvolvido para que o ditador se sentisse seguro para passar da defesa ao ataque.
O historiador José Chiavenato escreveu um livro chamado Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai, indicando que o Brasil servia aos interesses dos britânicos e franceses para destruir o Paraguai. Que eles quisessem acabar com o expansionismo paraguaio é óbvio, mas dizer que o Brasil fosse um instrumento da Inglaterra é um anacronismo.
A Inglaterra não tinha condições, na época, de obrigar o Brasil a entrar numa guerra contra o país vizinho. É preciso lembrar que o mundo ainda não havia ingressado na etapa do imperialismo — e, além disso, não se pode esquecer que o Brasil foi atacado. López estava muito preparado quando invadiu o Mato Grosso, mas calculou mal suas ações.
Quando se olha o conflito — Argentina, Brasil e Uruguai contra o Paraguai —, parece uma covardia, mas a guerra durou seis anos. O Brasil foi pego desprevenido, López tomou Corumbá, Dourados e uma série de cidades, o que fez o governo brasileiro abrir os olhos para uma situação muito difícil. O País foi obrigado a mobilizar um exército às pressas, o que não seria possível sem a mobilização popular.
Foi preciso um esforço gigantesco por parte do Brasil para derrotar o Paraguai — o que só foi conseguido, primeiro, dominando o rio Paraná. Após isso, surgiu o problema de ocupar o país por terra, o que foi um pesadelo, uma vez que o Paraguai empreendeu uma resistência muito dura, quase literalmente até o último homem. A população do país foi drasticamente reduzida, e os homens escassearam a ponto de o país retornar à poligamia para evitar o desaparecimento populacional.
Não fique de fora!
As inscrições podem ser feitas pelo portal unimarxista.org.br. Para quem estiver em São Paulo e desejar participar presencialmente, o evento será no Centro Cultural Benjamin Péret, localizado na Rua Conselheiro Crispiniano, nº 73, no bairro da República.





