O petista Tarso Genro e o tucano Aloysio Ferreira Nunes uniram-se para publicar no jornal imperialista O Globo, na edição do último dia 16, o artigo Precisamos formar novas frentes para isolar o fascismo, defendendo a formação de “novas frentes políticas para isolar o fascismo e os apóstolos de qualquer ditadura civil ou militar”. PT e PSDB unidos contra o bolsonarismo? Não, afinal, o texto assinado pelos ex-ministros da Justiça é claro: “qualquer ditadura”. Dizem os autores:
“A articulação do Estado americano com Mark Zuckerberg e Elon Musk — depois das ameaças diretas à soberania do Canadá, Groenlândia, Panamá e México — é a formação de uma Internacional Protofascista que — na recusa da modernidade e no culto da ‘ação pela ação’ — é acompanhada de uma concepção de mundo em que a vida não é uma luta por viver, mas pelo autoaniquilamento humano.”
Em primeiro lugar, o que exatamente torna Zuckerberg e Musk elementos da “formação de uma Internacional Protofascista”? Genro e Nunes precisariam explicar esse fenômeno melhor, uma vez que ambos os nomes ficaram particularmente populares não por defender o fascismo, mas o direito democrático mais importante para combatê-lo: a liberdade de expressão.
É verdade que ambos são sionistas, mas como a leitura do artigo dos direitistas deixa claro, isso nem por acaso é um problema, nem para Genro e Nunes, e nem para o imperialismo. No caso de Zuckerberg em especial, seu nome voltou a ocupar as manchetes de todo o mundo justamente pelo anúncio de que suas repressivas redes sociais, a partir de agora, vão relaxar a política de censura nas plataformas controladas pela Meta (sua empresa), entre ela, Facebook, Instagram e WhatsApp.
Os próprios autores terminam entrando em contradição ao dizer “do ventre das crises do capitalismo nasce o fascismo”. Ora, se o fascismo é uma resposta de crise dada pela classe dominante (e de fato, é), como isso pode conviver com a expansão dos direitos democráticos, especialmente a liberdade de expressão, fundamental tanto para a denúncia dos crimes do fascismo, quanto para a organização da reação a ele?
Não pode. Porém, a liberdade de expressão é um espinho para o fascismo, de fato, o que nos leva a questionar quem realmente está interessado em formar uma “Internacional Protofascista”. Não pode ser quem está contra o avanço da censura, o que seria uma contradição em termos, por isso chegamos a conclusão de que embora o termo “protofascista” seja horrível, um dos campos na disputa expressa por Genro e Nunes esteja aplicando um golpe muito conhecido pelos brasileiros, o do malandro que bate carteira e grita “pega ladrão”.
Disso, temos que o setor social mais interessado em instituir o reino da censura em escala mundial é o imperialismo. Este setor da burguesia, o mais poderoso diga-se de passagem, é o que mais denuncia as medidas de relaxamento da censura no X, seja através de seus órgãos de imprensa tradicionais (no Brasil, a tríade O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo), seja através dos elementos mais direitistas da esquerda, como sabidamente é o caso de Tarso Genro.
É o imperialismo, finalmente, que pela força dos monopólios, constitui o que os autores chamam de “totalidade”, “globalismo”, onde se verifica “construções falsas da ‘verdade’” como escrevem os apóstolos do imperialismo ao Globo. Exemplos disso podem ser vistos na sincronicidade de ataques à liberdade de expressão em todo o planeta, no recente caso da ofensiva jurídica de países do mundo inteiro contra o uso de celulares e redes sociais pelos jovens, na cobertura uníssona tanto do genocídio sionista na Faixa de Gaza, quanto da difamação contra a Resistência (em especial o Hamas) e também, na igualmente idêntica campanha feita por órgãos de imprensa norte-americanos, europeus e dos lacaios dos países atrasados contra a Rússia e a China.
É do imperialismo a crise identificada por Genro e Nunes e ela não tem outra origem além do enfrentamento mais duro que os povos oprimidos passaram a travar contra esse sistema de opressão. É da luta de russos, chineses, latinos, africanos, árabes e asiáticos por sua libertação, e das vitórias acumuladas por esses povos, que nasce a crise que coloca em choque, os setores mais poderosos da burguesia dos países desenvolvidos contra os setores mais frágeis da mesma classe social, e as demais classes oprimidas.
O desprezo consciente de Genro e Nunes pela formulação de suas posições com base na luta de classes não é outra coisa, mas sintoma do lado em que ambos estão. Em defesa da derrotista frente ampla no Brasil e da censura “do bem” – o que ainda é censura, apenas mais cínica – no mundo. Em defesa do imperialismo e do que chamam de “totalidade globalista perfeita”.
Perfeita para os opressores, claro. Para quase toda a humanidade, um horror intolerável.