Libertadores da América

Colo-Colo x Fortaleza: polícia chilena assassina dois torcedores

Devido aos assassinatos, partida foi cancelada depois do começo do segundo tempo

A partida entre Colo-Colo e Fortaleza pela Copa Libertadores, realizada na última quinta-feira (10), foi interrompida no segundo tempo após torcedores do time chileno invadirem o gramado do Estádio Monumental David Arellano, em Santiago. O que parecia apenas mais um caso de desorganização rapidamente revelou seu verdadeiro motivo: a repressão assassina da polícia chilena matou dois torcedores do Colo-Colo momentos antes do início da partida.

Segundo o jornal La Tercera, os mortos são uma jovem de 18 anos e um adolescente de 13. A garota foi atropelada por uma viatura policial e o menino morreu esmagado por uma cerca que caiu durante a repressão aos torcedores que tentavam entrar no estádio sem ingresso.

Um dos jovens morreu no local, enquanto o outro veio a óbito após ser levado a uma clínica da cidade. Ainda segundo o jornal chileno, os dois estavam entre as cerca de cem pessoas que tentavam acessar a partida sem entrada.

Em nota publicada em sua conta oficial no X, a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) se limitou a dizer: “lamentamos profundamente o falecimento de dois torcedores ocorrido nos arredores do Estádio Monumental de Santiago, antes da partida entre Colo-Colo e Fortaleza. Enviamos nossas condolências a seus familiares, entes queridos e à comunidade do futebol chileno”.

Apesar da morte de duas pessoas, da revolta no estádio e da total ausência de segurança, a CONMEBOL tentou, por mais de uma hora, pressionar jogadores e dirigentes a retomar a partida, o que foi recusado por ambas as delegações. O sistema de som do estádio repetia mensagens para evacuação enquanto a entidade buscava uma solução que priorizasse a manutenção do evento esportivo, e não a vida dos torcedores assassinados.

O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, declarou: “em nenhum momento houve condição de jogo. A delegação do Fortaleza está bem, mas o clima era de insegurança total. Desde o início dos incidentes, nos posicionamos pela suspensão”. A decisão de cancelar a partida só foi anunciada após as delegações se recusarem a voltar a campo.

O atacante Deyverson, que estava no banco de reservas do Fortaleza, relatou que objetos estavam sendo arremessados no gramado e chegou a mostrar isso à arbitragem. Aos 24 minutos do segundo tempo, torcedores do Colo-Colo quebraram os vidros de proteção e invadiram o campo — alguns com objetos nas mãos, outros tentando registrar fotos com os atletas. Os jogadores do time chileno ainda tentaram conter a situação, enquanto os jogadores do Fortaleza se retiraram para os vestiários.

Diante da calamidade, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) emitiu nota na madrugada de sexta-feira (11), cobrando da CONMEBOL a aplicação do regulamento e a vitória por 3 a 0 ao Fortaleza. A CBF afirma: “a entidade brasileira pediu para que o time cearense seja declarado vencedor por 3 a 0, alegando falhas na segurança e responsabilidade do clube chileno, que era mandante do jogo”.

No documento enviado ao diretor de Competições da CONMEBOL Fred Nantes, a CBF cita o artigo 29 do Código Disciplinar, que determina: “quando uma equipe for sancionada com a determinação do resultado de um jogo, por responsabilidade ou negligência, o resultado será 3 a 0 a favor da equipe adversária”.

A CONMEBOL, por sua vez, declarou: “levando em conta que todos os processos estabelecidos no Manual de Clubes foram seguidos, o caso será encaminhado aos Órgãos Judiciais da CONMEBOL para futuras determinações. Todas as informações sobre os fatos ocorridos dentro e fora do estádio serão enviadas à Comissão Disciplinar”.

O caso escancara, mais uma vez, a política assassina das forças repressivas dos regimes burgueses latino-americanos, em especial da polícia chilena. A morte de dois torcedores, incluindo uma criança, foi tratada como um “evento colateral” por parte das autoridades e da própria entidade organizadora da competição, mais preocupada em manter o espetáculo do que em garantir a segurança dos envolvidos.

A tentativa de pressionar os jogadores a voltarem a campo em meio a um cenário de luto e insegurança demonstra o desprezo dessas entidades pelo povo. Não houve qualquer paralisação oficial da rodada nem manifestação firme em repúdio à atuação assassina da polícia.

A delegação do Fortaleza retornou ao Brasil nesta sexta-feira (11), em voo fretado, após o cancelamento da partida. Enquanto isso, os familiares das vítimas enterram seus mortos e aguardam uma investigação que, muito provavelmente, irá proteger os verdadeiros culpados: a polícia do Estado chileno, instrumento de repressão a serviço da burguesia.

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