Nessa quarta-feira (16), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que, para o presidente Donald Trump, os Estados Unidos “não precisam fechar um acordo comercial com a China”. A fala provocou reação imediata do governo chinês. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, afirmou: “a China não quer uma briga, mas também não tem medo de uma”.
Tarifas de até 245%
Na terça-feira (15), o governo norte-americano anunciou a imposição de tarifas de até 245% sobre produtos chineses. O comunicado original omitia detalhes sobre os cálculos, mas uma versão atualizada esclareceu:
“A China enfrenta uma tarifa de até 245% sobre importações para os Estados Unidos como resultado de suas ações retaliatórias. Isso inclui uma tarifa recíproca de 125%, uma tarifa de 20% para abordar a crise do fentanil e tarifas da Seção 301 sobre bens específicos, entre 7,5% e 100%.”
A chamada Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA autoriza retaliações comerciais unilaterais a países cujas práticas sejam consideradas “injustas ou discriminatórias”. Segundo o Departamento de Comércio norte-americano, a China estaria envolvida em “práticas desleais” relacionadas à transferência forçada de tecnologia, propriedade intelectual e inovação.
O governo Trump mantém uma política que consiste em adotar medidas comerciais agressivas para intimidar adversários. Segundo o próprio presidente, trata-se de uma forma de “nivelar o campo de atuação e proteger a segurança nacional dos EUA”.
Essa abordagem não se restringe à China. Países da América Latina e do Sudeste Asiático, como o Vietnã, também têm sido pressionados a rever relações comerciais com Pequim. Questionado pela Fox News se a América Latina deveria escolher entre os EUA e a China, Trump respondeu: “bem, talvez de certa maneira. Foi o que o Panamá fez, é o que outros estão fazendo e talvez pensando em fazer. Talvez. Sim, talvez devam fazer isso”.
O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, reforçou essa linha: “O governo Obama tirou os olhos da bola e deixou a China tomar toda a América do Sul e Central, com sua influência econômica e cultural… O presidente Trump disse: ‘não mais’, vamos recuperar o nosso quintal”.
Hegseth afirmou ainda que a guerra não é desejada, mas a dissuasão precisa ser firme: “não buscamos a guerra com a China. E a guerra com a China certamente não é inevitável. Mas devemos evitá-la, dissuadindo de forma robusta e vigorosa as ameaças chinesas neste hemisfério”.
Em resposta, Lin Jian criticou duramente o governo norte-americano: “Os Estados Unidos têm difamado e atacado a China repetidamente, exagerando a ‘ameaça chinesa’ apenas para usá-la como desculpa para controlar a América Latina. Isso está fadado ao fracasso”.
Escalada e recuos
A reação da China às tarifas tem sido proporcional. Desde o início do mês, Pequim tem respondido com aumentos recíprocos a cada nova rodada de taxações por parte dos EUA. Já existia uma tarifa de 20% sobre produtos chineses. Nos dias seguintes, houve aumentos sucessivos de ambos os lados: os EUA elevaram tarifas para 34% no dia 4, para 50% no dia 9, e para 125% no dia 10. A China, por sua vez, acompanhou com medidas de mesma magnitude nos dias 2, 8 e 11 de abril.
A escalada forçou o governo Trump a um recuo parcial. As tarifas para os demais países foram reduzidas para 10% por um período de 90 dias, mas as taxas sobre a China foram mantidas.
Diante da intensificação das hostilidades, Karoline Leavitt reiterou que os Estados Unidos ainda estariam abertos a um acordo: “o presidente deixou claro que está disposto a negociar com a China, mas Pequim também precisa querer um acordo com os EUA”. Segundo ela, “não há diferença entre a China e qualquer outro país, exceto pelo fato de que são muito maiores — e a China quer o que nós temos: o consumidor norte-americano”.