América Latina

Chile: mais um fracasso da frente ampla

69,8% dos votos válidos estão concentrados em partidos de direita e extrema direita

A eleição presidencial chilena do último domingo (16) representou o fracasso da frente ampla diante do avanço da direita imperialista. Ao mesmo tempo, foi expressão da política que o imperialismo tenta impor em toda a América Latina: o estabelecimento de governos de força, escalando um processo de perseguição política e preparação para o enfrentamento direto com o movimento operário.

No Chile, essa política se expressou no resultado eleitoral avassalador da direita, que conquistou quase 70% dos votos válidos. A extrema direita de José Antonio Kast obteve 23,9% dos votos. Somados aos 19,6% do Partido do Povo, aos 13,9% de Johannes Kaiser e aos 12,4% da UDI, o bloco direitista atingiu 69,8%. Do lado da esquerda, Jeannette Jara, ligada ao Partido Comunista chileno, alcançou apenas 26,8%. As demais candidaturas de esquerda pequeno-burguesa somaram 1,8%, chegando a um total de 28,6%.

Essa concentração de forças na direita não surge do nada. Ela é produto direto da política do governo Gabriel Boric, que assumiu após a grande mobilização popular de 2019 prometendo representar “as ruas”, mas que acabou aprofundando a repressão, mantendo presos políticos e administrando uma política completamente a reboque do regime burguês. A desmoralização da esquerda pequeno-burguesa levou ao esvaziamento de sua base eleitoral e abriu caminho para a reorganização da direita em escala nacional.

O caso do Partido Comunista mostra isso. A principal liderança da sigla, que poderia ser a maior expressão eleitoral do partido, encontra-se em prisão domiciliar depois de, como prefeito, tentar implementar uma política de farmácias públicas para baratear o acesso a medicamentos. A iniciativa durou semanas antes que o dirigente fosse preso sob acusação de corrupção. Esse mecanismo, da perseguição judicial de lideranças populares que têm apoio ou potencial de vitória, já é um método consagrado do imperialismo na América Latina. O mesmo ocorreu na Bolívia contra Evo Morales, no Equador contra opositores de Noboa, no Brasil contra Bolsonaro etc.

Com a principal figura do Partido Comunista fora da disputa, restou a candidatura de Jeannette Jara, representante da ala moderada do partido e integrada à frente governista de Boric. A presença da democracia-cristã e de setores socialdemocratas na mesma chapa evidencia o esgotamento dessa política de colaboração com a burguesia, que só fortaleceu o campo adversário. A esquerda pequeno-burguesa, ao tentar governar com os setores tradicionais da burguesia chilena, destruiu sua capacidade de organização popular e entregou o terreno para a extrema direita.

Enquanto isso, José Antonio Kast, representante direto do pinochetismo, se consolidou como principal representante da burguesia chilena. Seu histórico familiar e político é uma continuação direta da política mais reacionária do país. O pai de Kast foi tenente do exército de Adolf Hitler e membro do Partido Nazista antes de fugir para o Chile em 1950, onde se integrou à política local e tornou-se apoiador declarado da ditadura de Augusto Pinochet. O irmão de Kast, por sua vez, foi ministro do Trabalho durante o regime militar. A própria formação econômica de Kast foi moldada na famigerada Escola de Chicago, centro ideológico do neoliberalismo mais radical e inspiração teórica do experimento econômico implementado no Chile pela ditadura militar.

É esse o aspecto fundamental da situação: a burguesia não parece disposta a permitir que uma nova mobilização popular tome o país. A explosão de 2019 abalou profundamente o regime. Agora, diante do agravamento da crise, a classe dominante opta por um governo disposto a aplicar golpes ainda mais duros contra a população. A vitória expressiva da direita é a sinalização de que o Chile pode se converter no próximo centro da ofensiva autoritária que se espalha pela América Latina.

A eleição não aponta para uma “alternância democrática”, mas para uma reorganização do regime conduzida pela burguesia e orientada pelo imperialismo. A tendência é de aprofundamento da repressão, perseguição política e avanço de um regime que, sob outras formas, retoma o legado do pinochetismo. A esquerda pequeno-burguesa chilena, completamente adaptada ao regime, não consegue fazer frente a isso, pois é parte da política que permitiu a ascensão desse bloco reacionário.

O país que, há poucos anos, protagonizou uma das maiores mobilizações de sua história, encontra-se agora diante da possibilidade concreta de ver instaurado um regime mais autoritário do que aquele contra o qual se levantou.

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