Chegou a hora dos homens marcharem com as mulheres, esse é título do artigo de Raissa Rossiter publicado no sítio Poder360 neste domingo (7). É praticamente idêntico a todos os outros sobre o tema, seja de esquerda ou de direita, pois se prende ao moralismo e não toca na questão central: a violência é um problema social.
O enfoque identitário do texto aparece logo no olho do artigo, que diz que “campanhas, dados e crimes recentes expõem que a violência de gênero é estrutural e exige protagonismo masculino no enfrentamento”. Uma hora é “racismo estrutural”, outra é “violência de gênero estrutural”, mas ninguém mostra o que seria essa tal “estrutura”. Mesmo porque ela não existe.
A violência contra a mulher se deve ao seu papel econômico na sociedade, onde ela foi relegada a uma posição subalterna. Esse tema está magnificamente explicado no livro A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, de Friedrich Engels, revolucionário que neste ano se comemora os 205 anos de seu nascimento. (Assista ao vídeo da palestra-debate com Rui Costa Pimenta).
Campanha por punição falhou
Raissa Rossiter escreve o seguinte em seu primeiro parágrafo “a cada ano, a campanha global da ONU Mulheres 16 Dias de Ativismo, ampliada no Brasil para 21 Dias, expõe a ferida aberta da violência contra meninas e mulheres. Mas 2024 e 2025 revelaram algo ainda mais profundo: a escalada das violências mostra o avanço da misoginia no país”.
É preciso constatar que a política identitária, que se concentrou em inventar tipos de crimes, que exigiu aumento de penas, alegando que isso protegeria as mulheres e outros setores oprimidos da sociedade, não conseguiu absolutamente nada. Aliás, conseguiu: tornar o ambiente social e político ainda mais repressivo.
Apostar na repressão, em penas mais duras para coibir a criminalidade, é uma política da direita, por isso não espanta que os identitários prezem tanto por essa prática.
Ainda no primeiro parágrafo, a autora diz “nós, mulheres, lutamos há séculos por direitos elementares. Direito de existir, de circular, de votar, de trabalhar, de não sermos atacadas na rua, em casa ou no trabalho. E mesmo assim seguimos marchando quase sempre sozinhas”.
Quanto a isso, é curioso constatar que o identitarismo, uma ideologia liberal que nasceu nos Estados Unidos, é um dos fatores de opressão e “apagamento” das mulheres. Foi nesse meio que se disseminou a ideia de que mulher não existe, trata-se de um “construto social”. Há ainda os grupos que reivindicam que as mulheres negras são as maiores vítimas do feminicídio. Com isso, a luta das mulheres, importantíssima, vai sendo minada por dentro.
Identitarismo = moralismo
A senhora Rossiter, em vão, se preocupa com “debates sobre masculinidade”, diz que é hora de homens e mulheres marcharem juntos. Isso também não vai surtir efeito. Não se trata de fazer uma campanha de conscientização dos homens, de educação.
O texto se perde dizendo que “é indispensável enfrentar o problema na sua base estrutural. Campanhas e atos chamam a atenção da sociedade, mas não alteram sozinhos a engrenagem que mantém a desigualdade de gênero funcionando. A machosfera digital monetiza o ódio às mulheres, enquanto o patriarcado opera como sistema, o machismo como tecnologia e a misoginia como prática cotidiana de controle. Nada disso é abstrato”.
A estrutura, se existe alguma, é o modo de produção capitalista, que impede a emancipação não apenas das mulheres, mas da classe trabalhadora. Tem alguém lutando contra o capitalismo, contra as desigualdades sociais? Ficar rezando uma missa contra o machismo não vai dar em nada.
Não se vê a luta pelo direito ao aborto. Luta por mais saúde, visto que as mulheres são o setor mais afetado por doenças, sobrecarregadas com jornadas duplas, e até triplas, de trabalho. A luta por creches, por equiparação salarial. Tudo isso é posto de lado em favor de se lutar inutilmente contra machismo, “machosfera”, “masculinidade tóxica”, “cultura de estupro” etc.
Raissa Rossiter sustenta que “a reação legislativa e a adoção da perspectiva de gênero no Judiciário foram avanços importantes, mas insuficientes enquanto a interpretação das leis continuar filtrada por valores que tratam mulheres como propriedade. Homens julgam homens, e isso molda o que é considerado razoável, admissível e verdadeiro. Por isso precisamos de políticas públicas mais efetivas. Precisamos de mais mulheres nos espaços de poder”.
Mulheres nos espaços de poder não resolvem absolutamente nada, essa reivindicação é uma farsa. O que dizer de Margaret Thatcher, Kamala Harris, Hillary Clinton, Ursula Van der Leyen? Em que elas diferem de homens? Recentemente, a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, uma mulher negra, votou contra os palestinos e a favor dos genocidas sionistas.
Aqui no Brasil, por falar em “reação legislativa”, a juíza Anita Villani negou duas solicitações de um remédio essencial para o tratamento da leucemia de Natália Pimenta, uma jovem mãe, que dedicou a maior parte de sua vida em defesa da classe trabalhadora e das mulheres, e acabou não resistindo. No STF, em 2018, Cármen Lúcia e Rosa Weber votaram contra um habeas corpus para Lula, e esta também mandou prender José Dirceu admitindo que não tinha provas.
Quer conversar?
Em seu artigo, Raissa Rossiter diz que é “é preciso trazer os homens para essa conversa”. Certo, e com isso vai ser feito. O que vai ser conversado, que é feio praticar violência contra as mulheres? Que é crime? Não adianta querer catequizar, não vai dar em nada. A única solução é a luta das mulheres se reintegrar com a luta geral da classe trabalhadora.
A emancipação das mulheres é impossível dentro do capitalismo, que só faz aumentar as desigualdades sociais e, consequentemente, aumenta a violência contra os setores mais oprimidos da sociedade.
Outro fator crucial para as mulheres é desmascarar o identitarismo, essa ideologia liberal que se infiltrou na esquerda e tem servido apenas para enfraquecer o movimento e oprimir ainda mais as mulheres.





